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Após o remédio, minha pressão que já parecia estar baixa, me levou a adormecer.

Acordei com minha mãe me chamando pra almoçar; perguntei sobre a Júlia e ela já havia ido embora.

Minha mãe entrou no modo super protetora, com termômetro e tal, mas eu já não sentia mais os calafrios e nem as náuseas.

_Toma um banho, o almoço tá pronto! Consegue sozinha?
Respondo que sim e ela pede pra não trancar a porta.

Segui pro banheiro e debaixo dágua fiquei lembrando de tudo que ela havia dito ali, horas atrás.
Eu estava trazendo pra vida do Ramon todo problema que ele quis tanto evitar e eu não me perdoaria por isso...Não posso imaginar as consequências que viriam sobre ele se meu pai souber tudo...
A fala da minha mãe, misturada com a fala da Luana de anos atrás, relatando que amar era temer tanto pela vida do outro quanto pela nossa própria vida.
Eu não tinha medo do meu pai descobrir tudo por mim, mas sim por ele...
Ia cair tudo na conta dele!
Eu conheço meu pai...
Eu não podia ser a decepção de tantas pessoas...
Eu não podia destruir a vida dele...
Meu pai destruíria ele!

Me enxugo, visto uma blusa larga e uma legging; aquela Alice sexy de ontem não cabia no meu espírito...
Ajeito o cabelo e sinto um resquício de dor de cabeça. Não comi nada o dia todo, talvez fosse isso...mas eu não tinha apetite algum!

Lembrei do Pablo...meu Deus, o Pablo...Mais uma vez eu me sentia causa e efeito.

Eu precisava deter minha mãe...a qualquer custo!
Desci e senti um cheiro bom...na mesa, um purê e uma baixela de carne moída com molho, saindo fumaça ainda.Era a comida oficial de quando eu era pequena.Minha mãe sorri e eu sento , com a boca salivando.
Ela fez a minha comida favorita de criança!

Aliás, sempre fazia quando eu ficava meio doente; sabe que eu adoro. Sempre fui tão simples, ela amava coisas finas e eu amava um bom purê com carne moída.
Sorri fraco pra ela de volta, quando me entregou o prato feito.

_Vou colocar pouquinho, mas repete se quiser!

Me trata feito criança...
Olho pra ela, servindo um suco no meu copo.

Não...Eu era, realmente, a criança dela...Dela, do meu pai, do meu irmão..
Não é porque desabrochei do dia pra noite, que ela deixaria de ser a super mãe que sempre foi...

De repente eu me vi sendo tomada por um sentimento que ainda não tinha observado...
Eu perguntei lá em cima se ela nunca amou...

O fato dela estar sozinha há tanto tempo, aguentando visitas , distante do amor da vida dela...seria o meu pai o amor da vida dela?

Se eu fiquei tão amarga e triste quando tive que ir embora...imagina ela?
Além de perder o meu pai para uma prisão federal, precisou ver o filho tomando a frente de tudo, botando a cara! Se arriscando!
Golpes duros e ela enfrentou!

Minha mãe foi uma heroína e se hoje ela tem essa mania de controle, é porque a vida não deu escolha pra ela!

Há tanto tempo ela dorme sozinha; Há anos ela vive uma vida de sofrimento e dor, camuflados pela armadura de luxo e dignidade.

Eu nunca vi minha mãe se lamentar, nunca!
Mas...Já a vi chorar sozinha e a vi se tornar uma viciada em remédios para dormir a noite, depois que meu irmão levou um tiro que quase o matou!

Ela não quer o mesmo pra mim...

Olho quando ela se senta, e pega os talheres com o refinamento de sempre.
Na sua frente, uma taça de vinho tinto.

Eu a observo, sem ser notada.

No meio de tudo isso, descobrir que foi traída e que tem um rapaz por aí, fruto desse fato...

O NOVO DONOWhere stories live. Discover now