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Alice narrando...

VOLTAMOS AO QUARTO DA ALICE - DIAS ATUAIS

Meu quarto escuro, iluminado apenas por um fraco espectro que saía do teto rebaixado do meu banheiro.
Eu sonhei que Ramon estava aqui, aqui mesmo, parado no meio do meu quarto.

Não...ele já esteve antes, e disse que me amava da última.
uma vez antes ele trouxe revelações que cortavam como uma lamina de gillete afiada, novinha em folha...
Eu sangrei a cada palavra...a cada corte...

Ele me contou que é filho do meu pai...

O homem que eu mais amei na minha vida...era meu irmão!

Não!

Eu não podia...eu não podia conceber aquilo...de todas as crueldades que eu tinha conhecimento que ele era possível, essa era , talvez, a pior!

Até porque, comigo, ele nunca fora cruel...ele era o meu amor!

O segundo e, acredito, o mais profundo corte, foi ele revelar que eu era adotada.

Isso destruiu meus pilares de infância... isso corrompeu a confiança que eu tinha na minha família...
E EM MIM!

Todas as manhas, todos os comportamentos de menina mimada...Essa revelação teve seu próprio processo...não foi instantâneo, foi a conta gotas.

Ninguém sabe como toda essa realização de que eu não pertencia a quem eu achava que pertencia, me doeu...e dói ainda!

De repente eu via minha mãe com 2 olhares: O da beneficente que cuidou de um bebê largado por uma drogada que não a quis e o de que eu sempre teria uma dívida de gratidão por ela...não a dívida comum que um filho comum , sente por uma mãe!

Ela não engravidou de mim, não me planejou...eu apenas...cheguei!
E ela teve pena de mim!
Dizem que eu vim cobrir um vazio que ela sentia...

Porque isso não me bastava?

Ela me fez um favor, e era isso!

É difícil descobrir algo assim na puberdade...dizem que os hormônios estão confusos, que estamos definindo a personalidade, que piada!

Eu sou uma piada!

Uma piada entregue por uma drogada que mal pensou duas vezes antes de abandonar sua cria a troco de algum dinheiro pra comprar mais pedra!

Volto do transe, e ele - que era meu irmão a vista de todos, mas que em segredo era mais filho que eu, tinha o sangue em suas veias do homem que eu sempre idolatrei, meu pai André - estava ali, parado na porta do meu banheiro.
Não era sonho.
Ele tinha , realmente tido a audácia de entrar na minha casa, vir até meu quarto depois de tudo!

"Você costumava trancar a porta" , ele disse.

Eu passo por ele, sem dar um única palavra e meu cabelo dá o tapa que eu queria ter dado na ultima vez que nos vimos, na madrugada de sexta feira.
Virei a chave da porta, nos trancando aqui dentro.

Eu realmente trancava a porta antes, mas nosso hábito muda conforme as circunstâncias da vida. Eu estava morando no México, com minha mãe, meu irmão e cunhada, e lógico, meu amorzinho, minha sobrinha Sol.

Eu não trancava portas. Só as dentro de mim mesma, e isso era suficiente!

Quando me viu pegar o controle da tv na cama e aumentar uns dois graus a tv, ele se moveu, e eu observei melhor aquele homem que estava aqui, a sós comigo.

O Ramon não é o tipo que você está acostumado a ver por aí; sempre vestido de cores escuras, parece que ele quer passar uma mensagem...parece que ele quer deixar claro, o que há dentro dele.

O NOVO DONOWhere stories live. Discover now