Prévia 6

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Alice narrando...

Me sinto abafada, claustrofóbica!

Minha cabeça pesa sobre minhas mãos e meu cabelo encobre a visão que tenho dos meus próprios pés, num adidas branco.
Tem uma pequena mancha nele e eu encaro ela.

Levanto a cabeça e encosto na parede do banheiro do avião que está me levando ao Rio de Janeiro.
Saímos de Juarez e, no aeroporto eu já sabia que teria uma crise de ansiedade a qualquer momento.

Esse banheiro minúsculo não ajuda em nada, mas eu não podia deixar a tensão vir perto da minha mãe...eu não tenho medo de voar, voo desde pequena, estávamos sempre em um avião!
Coloco minhas mãos a minha frente, não estou tremendo mais; deixo-as cair no meu colo novamente.
Olho para o meu lado esquerdo, um espelho me mostra um rosto pálido, mais fino e olheiras.

Levanto e sacudo as mãos abaixo da torneira,que faz um jato fresco , como um vapor de tão fino, encharcar minhas mãos. Jogo no rosto, me olho novamente naquele espelho meio impreciso, meio distorcido, não é um espelho de verdade.

Pouca coisa na minha vida tem sido de verdade!

Alguém bate na porta.

- Saindo! - respondo, mal humorada.

Me olho mais um pouco, enquanto enxugo minha mão com toalhas de papel.

Aperto o botão de descarga que leva o vômito, que eu tentei esconder com a tampa do vaso fechada, como tentei esconder durante esse tempo no México.
Nada estava no lugar, nada estava igual.
Mas eu precisava manter tudo nos eixos...nunca precisei conviver tão de perto com meu irmão e minha mãe.
Não depois de...adulta!

Os olhos estavam sobre mim, a atenção era dividida entre minha sobrinha, minha cunhada grávida e eu, com o meu estado estranho.

"Porque essas adolescentes ficam esnobes assim? Olha essa mina aí mãe, cheia de marra"
O Deco brincava, mas sempre havia um fundo de verdade...até a Luana veio conversar comigo sobre...Se eles soubessem...Outra batida.
Eu dou um estalo de lingua e jogo a bola de papel com força no lixo.
Abro a porta e mal olho pra cara do idoso que reclama algo baixinho e se fecha atrás de mim.
Entro no corredor da primeira classe e vejo o vasto cabelo bem tratado da minha mãe, caído sobre um óculos Versace, lendo uma revista vogue Inglesa, que ela comprou no aeroporto.Uma madame!
Vou andando devagar, contando meus passos - não sei porque faço isso - mas sempre que estou nervosa, conto coisas.

Dez...onze..doze...No 20 estarei sentando ao lado dela.

Eu odeio mentir pra minha mãe! Odeio!Ela sempre foi minha melhor amiga, eu sempre tive a ela e ela a mim!
Sempre fui o colo dela, quando a via chorar pelo meu pai, pelo meu irmão...as preocupações, a saudade...eu sempre fui a companheira dela, e isso se baseava numa troca, uma troca de confiança!

Eu não era mais digna disso!

Dezoito,dezenove...

_Ah que bom! Olha isso - Ela me mostra uma matéria dizendo que a Louis Vuitton tinha mandado pro Brasil o modelo mais novo de bolsas com pinturas de um artista famoso!
_ O que você acha desse modelo? Grande demais? Estava pensando em uma dessa maior pra Luana usar com as coisas das crianças, afinal ela precisa de bolsa grande, e pra gente o modelo médio! Não é linda?

_Aham!
Ela me olha por cima dos óculos.

_Mãe, sabe bem que eu prefiro uma pegada mais esportiva!

_Aff,até quando, sabe? Até quando...?

Não sei se ela questionava meu estado de espírito ou nossa diferença de estilos; ela volta a folhear a revista e eu coloco meus fones Bluetooth e continuo na minha playlist de onde parei.

O NOVO DONOWhere stories live. Discover now