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Depois do término da aula de música, Begônia precisou ficar sentada na mesma cadeira em que se acomodava, enquanto tocava, escutando a professora enumerar os motivos pelo qual ela precisava participar da competição de música.

Ela se animou, é claro, além de tocar violino, adorava cantar, mas não se enxergava participando de uma competição, muito menos cantando em público. Além disso, ainda precisava da autorização dos seus pais, já que ela tem 17 anos, e Begônia duvidava muito que eles permitiriam que ela viajasse sem a companhia de um dos dois, e a competição aconteceria em outra cidade, em um lugar onde estariam apenas os competidores e jurados.

— Eu agradeço a confiança depositada em mim, professora, mas não sei se meus pais vão deixar.

A professora de música sentou na cadeira, de frente para Begônia, aparentemente a mulher sabia que seria uma tarefa não muito fácil convencer a garota. E, realmente, seria difícil para ela aceitar cantar com tanta gente assistindo, principalmente para ser julgada.

— Se você quiser, eu posso falar com seus pais.

Aquela parecia uma boa ideia, mesmo assim, Begônia acreditava não ser suficiente para que eles permitissem. Apesar de não falarem nada, os dois morrem de medo que aconteça algo com ela, temem pela sua saúde, e se dependesse dos seus pais, ela tinha certeza que nunca se apartariam dela, pelo menos até o dia em que fizer a cirurgia, dia esse, aliás, que estava demorando para chegar. Begônia nem mesmo acreditava que algum dia receberia um coração novo, já estava até se acostumando com a ideia de partir, antes de completar 20 anos — que seus pais jamais possam escutar seus pensamentos.

— Você é uma das melhores alunas de canto da escola — a mulher prosseguiu com sua tentativa. — Que os outros alunos não me ouçam. O nosso outro aluno que também considero um dos melhores, já informou que vai se inscrever, seria uma honra tão grande para a escola, ter nossos melhores alunos em uma competição como essa.

Begônia se perguntou, quem seria esse aluno que a professora falou. Será que era o mesmo que ela ouviu cantando, da última vez? Porque, se for, ela tinha certeza que não o venceria, de jeito nenhum. Mas ela bem que gostaria de conhecê-lo, o que seria bem difícil, já que os horários de aula dele parece ser diferente dos horários dela, evitando um possível encontro entre os dois.

— Eu vou falar com meus pais — prometeu. — Vou pedir autorização para eles.

A professora se animou com a resposta dela, agradecendo à aluna.

Begônia pensou muito à respeito, pesou os prós e os contras de participar daquela competição. Mas aquela poderia ser uma de suas últimas oportunidades para sair um pouco da vida previsível em que se encontrava. Ela passou cada ano de sua vida, esperando que a morte chegasse, não que esse fosse seu desejo, afinal, Begônia desejava fazer uma faculdade, se formar, trabalhar, construir sua própria família, o que se é esperado por todas as pessoas, seguir a lei da vida, e, principalmente, ela não gostaria que seus pais sofressem, que é o que acontecerá, caso a filha vá antes deles. Só que a cada ano que se passava, ela sentia ainda mais desanimada, principalmente por não poder fazer tudo o que tem vontade.

E era esse um dos motivos que a fazia se dedicar tanto à música e aos estudos, era como se aquilo fossem as únicas coisas que pudesse fazer, sem que prejudicasse sua saúde, ou não deixasse seus pais loucos de preocupação.

E por falar em estudos, assim que chegou na escola, no dia seguinte, logo começou se preparar para a apresentação, e quase se derreteu após encontrar o sorriso de Leonardo sendo direcionado a ela. Está certo que ele nunca fazia a parte dele no trabalho, as vezes até esquecia sua fala, na hora da apresentação, mas ele era muito bom no improviso, e quase sempre os professores acreditavam que ele, realmente, tinha estudado alguma coisa.

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