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— E depois, você deu um trato nela? — Thales quase revirou os olhos quando ouviu a pergunta de Ramón, sendo direcionada a Leonardo.

Por mais que ele não fosse lá um exemplo de cavalheirismo, na verdade, ele sabia que estava muito longe disso, jamais passaria pela sua cabeça falar assim de alguma garota, ele nem mesmo diz quando fica com alguma garota. Mas aparentemente, seus dois colegas não compartilham da mesma opinião, e sempre fazem questão de expor quando ficam com alguém.

Thales ouvia até mesmo Ramón se gabando pelo fato de ter sido o primeiro de Amanda, e ainda compartilhava com os amigos como eram todas as vezes que eles transavam, dizendo, com o maior orgulho, que foi ele quem ensinou tudo o que a ex-namorada sabe até hoje, sobre sexo. Na maioria das vezes, ele preferia não ficar perto, tanto por achar uma canalhice da parte dele expor a garota daquele jeito, quanto por conhecer Amanda desde pequeno, afinal, ela é melhor amiga de sua ex-melhor amiga, e ele não podia negar que gostava de Amanda, apesar de os dois terem se distanciado.

— Ela ficou querendo mais — Leonardo se gabou.

Ramón sorriu, de forma completamente canalha, só esperando que Leonardo falasse mais, porque com certeza, ele iria falar, se vacilar, citaria até os nomes das posições em que esteve com a garota de quem falava.

— E você fez o quê pra deixá-la assim? — Ramón perguntou, ainda mais curioso.

— Satisfiz os desejos dela.

Thales não aguentou e acabou rolando os olhos. Ele não entendia o que se passava pela sua cabeça quando topou andar com aqueles dois. Eles não valiam nada, estava evidente, e ele já sabia disso antes de repetir de ano e ter que ficar mais um ano naquela escola, estudando na mesma sala que os garotos.

Assim que seus olhos captaram a presença de Begônia, entrando na escola, seu coração disparou a bater como nunca mais tinha acontecido. Ter dado aquela carona a ela não fez nada bem, só serviu para despertar sentimentos já adormecidos e que ele fazia questão que não acordassem. Na noite em que ele a levou em casa, Begônia parecia a mesma menina que foi amiga dele, no passado, bem diferente da garota que se tornou.

Quando ela olhou para ele, sorriu, timidamente, e Thales quase desmontou, pois aquela sorriso dela foi seu ponto fraco, em outro momento, e pelo jeito, continuava sendo. Mas ela não demorou muito com o olhar sobre ele, logo voltando sua atenção para Leonardo, que nem pareceu perceber a presença dela.

Thales não suportava o jeito como ela olhava para Leonardo, mas o que ele menos gostava, era vê-la tão triste, como parecia estar. Begônia apertou a alça de sua mochila e saiu caminhando, sem olhar para trás. Um lado dele pensou em ir falar com ela, mesmo sabendo que seria bem provável que ela o mandasse sair de perto dela ou o ignorasse, como ela fez durante anos. Mas preferiu deixá-la ir. Eles não eram mais amigos, e mesmo que ele a tivesse deixado em casa, no último sábado, não voltariam a ser amigos, nunca mais. Seu único desejo era que ela deixasse de sentir por Leonardo o que seja lá que ela sentisse, pois apesar de não serem mais amigos, ele ainda desejava o bem dela, e com certeza, Leonardo não fazia bem a ela.

Mesmo não aguentando mais aquela tortura que era a escola, Thales decidiu ficar até o final das aulas, pois não poderia agir como no ano anterior, e sempre fugir da escola, já que agora ele precisava concluir logo aquele ensino médio, para só assim ficar livre de vez.

Para o seu alívio, as longas horas da manhã foram embora, e naquele dia sua turma não teria aula no período da tarde, portanto, teria o restante do dia livre para fazer o que realmente gostava.

Pelo menos na parte da tarde, tinha sua aula de música, para aliviar todo o estresse que a vida causava, incluindo a péssima convivência com sua mãe. Diferente do que algumas pessoas de sua família costumava dizer, Thales não enxergava aquelas aulas como um simples passatempo. Cantar e compor eram suas grandes paixões, ele até pensava em fazer faculdade de música. E sempre que pegava no violão, não pensava em mais nada que não fossem as notas que saíam dele.

Beija-florWhere stories live. Discover now