O derrubar até a besta.

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2000.

"…E existe um Deus lá em cima? Então, onde ele se esconde?

Porque o diabo está furioso dentro da minha mente

E há um momento em que tudo faz sentido?

Quando se despede, não parece o fim?"

Seu corpo ardia como o fogo que queimava do inferno, e você podia jurar que já estava pagando o preço pelo que fez. Era como se o fogo tivesse correndo por suas veias a castigasse. Queria poder gritar, mas a dor era tanta que entorpece todo seu corpo e, também sabia que o menor som de sua voz, condenaria toda a sua família. Então, faz o que parece fazer sentido. Fechar os olhos à espera do beijo suave da morte. E, espera que a morte seja linda como todos dizem. Espera ser carregada para longe de toda a dor e sofrimento, poder ser perdoada por todos seus pecados e dormir nos braços do anjo que a carregaria para longe de tudo isso. O pensamento da morte nunca a consolou tanto em todos esses vinte e quatro anos. 

Você ouve o som de passos saindo apressados da casa e sorri fraco. Sua família ficaria bem. Tem certeza que sim. Nesses últimos momentos, foi provado que sua solidão garantia o bem estar de todos. 

Não se sabe mais quanto tempo havia passado, mas seu corpo começa a ficar dormente. Não sente mais dor além da queimação no local da mordida que levou mais cedo e uma dor de cabeça insuportável que estava fazendo seus olhos doerem como se estivessem espetando algo na parte de trás de sua cabeça. 

Você deseja ter se despedido, nem que fosse um pequeno aperto na mão de sua mãe ou um sorriso em direção de seu pai e sua irmã. Queria ter tido a chance de dizer adeus. E tudo isso foi retirado de você, junto com a vida tranquila que teve nos últimos anos. Agora, vocês não tinham mais casa e nem um local seguro para chamar de lar. Mas eles dariam um jeito sem você. Eles sempre davam. Sua familia sempre fora reconhecida pelo esforço e trabalho árduo, seu pai garantia o bem estar de todos. Você preferia que fosse assim, já que sua rebeldia e desobediência havia sido o que retirou isso deles. Sair em uma noite escura custou caro, custou a sua vida tranquila, custou sua casa, custou sua família. Você estava só. Sua única esperança era a morte para não virar uma besta, para não ser destinada ao inferno, mas, agora com o corpo dormente, sabia que era o que lhe sobraria. Não ficaria com mais nada e nem podia sonhar com a morte. Não conseguia nem descrever a sensação de perder tudo. 

A porta range e seu corpo treme, sabendo que tem alguém a abrindo. Você reza para não ser seus pais e sua irmã retornando para um possível velamento de seu corpo.

"Eu sei que você está viva, eu ouço seu coração." A voz soa por todo cômodo. Você se estremece ao perceber que não pertence a alguém que conhece. Mãos geladas tocam sua testa e você se esforça para deixar a dor de lado e abrir os olhos. "Está tudo bem, copil. Ninguém te machucará mais."

Você se força a abrir os olhos e pisca repetidamente, expulsando a dor e tentando olhar para a figura à sua frente. A dor de cabeça e ardência nos olhos não estava facilitando, mas com dificuldade, conseguiu enxergar uma mulher loira usando uma máscara cobrindo parte de seu rosto, parecendo copiar a face de um pássaro. As longas e compridas asas pretas nas costas da mulher também não passaram despercebidas diante seu olhar. Você geme ao sentir os olhos arderem com a pequena luz da noite que entra no cômodo, por conta da porta que a mulher deixou aberta. Seu corpo encolhe no chão frio e você resmunga de dor, tampando os olhos com as duas mãos.

Você merece a dor, merece o castigo mas está ficando difícil de aguentar. Se a presença em sua frente fosse a morte, você estava a poucos segundos de distância para que ela lhe levasse para longe disso o mais rápido possível. 

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