Ep. 16 - Solidão

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A dor de cabeça que assolava Verônica ao acordar era o bastante para matar uma pessoa, ela estava certa disso; ao abrir os olhos e sentir a claridade invadindo seus globos oculares, ela sentiu sua cabeça girar com tanta força que seu estômago se revirou.

- Porra. - Disse ela, a voz rouca, enquanto se sentava no sofá apertando a testa com os dedos.

Anita já estava acordada, o que era uma novidade. Enquanto preparava o café, ela ouviu a reclamação de Verônica e sorriu, divertida.

- Ressaca? - Perguntou, servindo o café em uma caneca.

- Eu nunca mais vou beber na minha vida. - A escrivã se levantou, os olhos pesados, caminhando com lentidão para perto da delegada.

Anita riu e a entregou a caneca, que foi recebida de bom grado. A escrivã analisou com minúcia o rosto da delegada, de olhos semicerrados. Ele estava pleno e indiferente.

- Odeio você. - Disse ela.

Anita a encarou, piscando algumas vezes, pega de surpresa pelo ataque gratuito e repentino.

- Hã?

- Você tá aí como se nada. Bebeu igual uma mula e o rosto tá pleno como sempre, a pele tá até brilhando. - Verônica falava com um tom de acusação - Você não tá com nem um pouco de dor de cabeça? Como pode?

A delegada soltou uma gargalhada e deu de ombros.

- Eu não tenho facilidade em pegar ressaca. É raro. - Respondeu.

- Por isso digo, eu odeio você. - Reafirmou a escrivã.

Anita revirou os olhos e fez um sinal com as mãos para que Verônica bebesse o café, o que foi obedecido prontamente. A delegada jogou os cabelos para o lado com a mão, distraída enquanto lavava a louça que usou para preparar o café. Estava com uma camiseta folgada de tecido leve caindo por seu ombro, deixando-o exposto, e um short soltinho que se perdia por debaixo da camisa.

Verônica a observou. Sua pele realmente era como se brilhasse. Seus cabelos caindo de um lado só, depois que os moveu. O ar despojado e caseiro que exalava usando roupas casuais e fazendo atividades domésticas.

A cada nova coisinha que percebia da delegada, a escrivã se fascinava um pouco mais. Conhecer, verdadeiramente, Anita, estava sendo uma experiência muito diferente da que ela esperava.

Seus pensamentos foram interrompidos quando seu telefone tocou. Distraída, ainda olhando para a delegada, Verônica atendeu sem sequer checar o número.

- Alô.

- Verônica Torres?

Os sentidos de Verônica mudaram; alertaram-se todos. Sua concentração em Anita se dissipou por completo, e ela logo se viu em estado em que seus instintos de sobrevivência se ativaram.

Ela nunca ouvira aquela voz antes. Como ele tinha esse número?

- Quem é?

- Ouvi muito falar de você. - A voz, apesar de levemente distorcida, parecia ser de um homem - Você tem sido um incoveniente constante, Verônica.

A escrivã sentiu um arrepio subir pela sua espinha ao ouvir seu nome sendo dito por aquela voz, naquelas circunstâncias.

- Sério, estou impressionado. - Ele continuou - Você conseguiu até dobrar um dos nossos agentes mais valiosos, a nossa Anita.

Se lhe arrepiou ouvir seu nome na voz daquele homem, ouvir o nome de Anita fez com que o interior de Verônica queimasse, que seu estômago se revirasse, que seus olhos vissem vermelho. Odiava que eles ainda se referissem a Anita, principalmente daquela maneira. "Nossa Anita".

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