Teorias

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- Isso não faz sentido. - Eu disse. A indignação voltava a tomar conta de mim, e eu lutava para não deixá-la assumir - Só torna tudo mais confuso. Então você quer dizer que eu já estive destinada a morrer antes?

- Sei que parece estranho, mas não há outra explicação. Lembra-se do que Galadriel disse a você? O espelho mostra o que a pessoa mais precisa ver. Ela viu você no espelho, viu seu destino oscilar mais de uma vez, e não temos ideia do que aconteceu naquele dia para que ele mudasse. Mas mudou.

- Eu quase morri naquele dia. Me juntei a luta de Thorin contra Azog o Profano praticamente como um instinto, eu não estava pensando racionalmente. Eu estava em luto. Mas algo me disse naquele momento, me disse que eu não morreria naquele dia. Pensei que fosse o destino. E depois achei que estava errada, quando fui atingida pela lâmina de Azog. Mas eu sobrevivi. Eu estou viva, mesmo contra todas as probabilidades, no último momento eu me movi para o lado e evitei um golpe fatal.

- Não foi o destino. Foi você. - Haldir disse - Pensei que Galadriel tivesse se enganado, mas depois eu mesmo vi. Mudou mais duas vezes desde aquele dia. No dia do conselho, em Valfenda, quando você se juntou a sociedade. E quando Gandalf caiu da ponte de Khazad Dûm, em Moria. Desde a batalha dos cinco exércitos, seu destino é aquele que viu no espelho. Mas nessas duas situações... Ele mudou. Um relance rápido, mas o suficiente para nos dar esperança...

- Esperança do que? - Eu interrompi.

- Esperança de que seu futuro ainda possa ser mudado. - Haldir fez uma pausa, como se relutasse em ser positivo em um momento tão incerto - Entende como essa situação é diferente de qualquer coisa que já tenhamos visto? Não sabemos o que seu futuro dizia antes, mas desde o fim da batalha dos cinco exércitos ele mostra a sua morte. Mesmo assim, em alguns momentos isolados, esse futuro mudou. Mudou, mas não por tempo suficiente para que entendêssemos do que se tratava. E então, voltou a mostrar sua morte.

Senti meu coração se encher de esperança. Mas eu não podia, não podia deixar esse sentimento me dominar quando as chances de que eu pudesse mudar esse futuro ainda eram tão pequenas.

- Então porque ela não me contou? Porque me deixou no escuro por todo esse tempo?

- Nós não tínhamos certeza do que víamos. Ainda não temos certeza do que se trata essa situação. Ela não quis deixar que você partisse de Lórien sem saber sobre seu futuro, pois assim lhe daria uma chance de mudá-lo. De fazer o que pudesse para descobrir uma forma, pois acreditamos que há uma boa chance de que você possa. Mas você é a única que pode descobrir como.

Eu respirei fundo. Eu compreendia a importância do que Haldir me dizia, mas ainda assim isso me assustava. Enfrentar o destino não me parecia uma decisão sábia, mas não era uma situação como as outras. Elfos não deveriam ser capazes de mudar seus futuros, independente de tudo, nossas decisões nos levariam sempre a um mesmo fim.

Mas por algum motivo, eu tinha agora a chance de mudar o meu próprio fim. Eu tinha uma chance de sobreviver, de ter um futuro ao lado de quem eu amava. Isso é claro, considerando que nossa missão seria bem sucedida.

Eram muitas coisas em que pensar, muitas informações para absorver. Mas sobre o turbilhão em que estava minha mente nesse momento, de uma coisa eu tinha certeza: Eu descobriria uma forma de mudar meu destino.

- Mas como devo começar? Se algo do tipo nunca aconteceu antes...

- Reunindo informações, eu suponho. Há alguma conexão, algo que não percebemos que causou a mudança nesses dois dias. Consegue pensar em algo?

Eu pensei. Revirei minha mente, revivi aqueles dois dias. O conselho de Valfenda, quando eu tive que enfrentar meu próprio pai para que ele me permitisse ir naquela jornada. Quando foi decidido qual seria o destino do anel.

E o tempo que passamos em Moria. Tinha sido uma decisão de Frodo, que havia sido intimado por Gandalf a escolher o caminho a ser tomado. Uma grande decisão para ele, mas no fim, me pareceu ter sido a decisão certa, pois representou o aumento da força de Gandalf. O que era uma grande vitória para nós...

- Sim. - Eu sussurrei, enquanto uma ideia se formava em minha mente - É isso que eles têm em comum. - Olhei para Haldir, meus olhos brilhando - No dia do conselho, o destino do anel foi decidido. Foi decidido que ele deveria ser destruído, o que de certa forma representou o início definitivo de nossos esforços contra Sauron. Já em Moria, a queda de Gandalf representou a derrota do Balrog, um dos seus maiores servos. Essas oscilações... aconteceram em momentos importantes, momentos em que ficamos cada vez mais perto de destruir o anel. Nossas vitórias... - Eu sussurrei as últimas palavras, absorta em meus pensamentos - Parece loucura?

Um sorriso se abriu no rosto de Haldir.

- Não, não parece loucura. É uma teoria, e até que faz sentido. - Ele parou por alguns segundos, pensando - Mas isso significaria que seu destino de alguma forma está ligado ao anel. Por quê?

- Eu não faço ideia. Mas desde o começo me senti diferente sobre o anel de alguma forma. - Eu pausei, relembrando de todos os momentos em que estive perto do objeto - Lembro de quando Bilbo o conseguiu, nas Montanhas Sombrias com Gollum. Lembro que conversei com ele, e tudo que senti foi... pena. Era realmente uma criatura desprezível, cheia de pura ódio. Mas senti pena de sua miséria. Adverti Bilbo algumas vezes sobre o anel, fiquei com medo que ele se tornasse algo como Gollum. Mas ele não me ouviu, e nem a Gandalf. Eu não entendia o porque, e só depois compreendi quando Gandalf me disse sobre a influência que o anel tinha sobre as pessoas... E eu nunca senti isso realmente. Vejo como todos ficam afetados perto dele, desejam possuí-lo, não por maldade, mas por um desejo incontrolável... E eu não.

Haldir ficou em silêncio, permitindo que eu continuasse meu raciocínio.

- Desde que vi o anel, me senti ligada a ele de alguma forma estranha. Queria saber onde ele estava e com quem estava, tinha um mal pressentimento sobre ele de certa forma, mas ao mesmo tempo me atraía para ele. Não de forma a querer possuí-lo. Nunca desejei sequer tocá-lo. Mas quando Gandalf me pediu que fosse até Bree encontrar os hobbits, a menção ao anel foi o que mais me chamou a atenção.

- Talvez isso não seja coincidência. - Haldir disse - E depois do que me contou, não me parece que seja. Acho que há muito nessa história que ainda deve ser descoberto, mas por enquanto, ficamos com essa teoria. De alguma forma, seu destino foi ligado ao do anel. Ainda não sei exatamente o que isso significa mas-

Nesse momento, o som de uma corneta reverberou pelo lugar, acompanhado por homens chamando uns aos outros e passos apressados.

Suspirei, decepcionada por voltar a realidade depois de já ter chegado tão longe. Mas agora era a hora de voltar. Se os homens estavam indo para suas posições, o exército de Saruman provavelmente estaria às nossas portas em pouco tempo.

- Devemos ir. - Eu disse.

- Sim. - O elfo respondeu, mas mesmo assim sorriu - Que os deuses nos protejam, e nos deem sorte. Precisaremos de muita.

Eu coloquei uma mão em seu ombro.

- Viveremos para lutar outro dia, mellon (amigo) . - Eu sorri - Obrigada, por tudo.




O Retorno do Anel #2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora