O Retorno do Anel #2

Rohirrim

Cerca de uma hora depois nos levantamos, prontos para continuar nossa corrida. Pude ver o olhar de puro sofrimento de Gimli enquanto se levantava.

- Só mais um pouco agora Gimli, estamos perto. - Eu disse.

Logo o sol subia no céu, vermelho como sangue. Apesar de ser uma bela vista, a visão me trouxe um arrepio. Eu sentia algo de ruim, e sabia que Legolas sentira o mesmo pelo olhar em seu rosto.

- O sol vermelho sobe. - Ele disse - Sangue foi derramado essa noite.

Eu assenti, concordando. Mas não falei nada, e tão pouco os outros o fizeram. Não havia nada a ser dito, exceto o que passava pela cabeça de todos. Pensamentos muito terríveis para que fossem expostos. Espantei os pensamentos negativos e continuei a correr. Estávamos muito perto, e agora não era a hora de parar.

Nos encontrávamos dentro das fronteiras de Rohan, em um vasto espaço. Era o melhor lugar para os rohirrim é claro. Eram conhecidos por seus grandes cavalos, e grandes cavaleiros. A terra era seca, e o sol nos atingia com força total.

Aqueles Uruks realmente são diferentes. Nenhum orc comum conseguiria resistir a essa luz, que chega a cegar até mesmo os homens.

Ouvi um barulho ao longe, como o relincho de um cavalo. O som imediatamente me alertou, e Aragorn se virou em nossa direção. Por um momento pensei que poderíamos finalmente ter encontrado nossa caça, antes de me lembrar que orcs não montavam em cavalos.

Isso só poderia significar outra coisa. Cavaleiros. E pelo som dos cascos, eles eram em grande número.

Aragorn se manteve em silêncio, mas gesticulou para um grupo de pedras ao nosso lado, apressado. Nós corremos até lá bem a tempo de ver um grande grupo de cavaleiros montados passarem a nossa frente, seus elmos cintilando ao sol, e suas lanças erguidas.

Aragorn os reconheceu imediatamente, assim como eu. Ele saiu de nosso esconderijo, enquanto os últimos cavaleiros ainda passavam por nós.

- Cavaleiros de Rohan! Quais as notícias do norte? - Ele chamou.

Os cavaleiros reagiram no mesmo instante, fazendo um grande arco, e voltando em nossa direção. Eles eram liderados por um homem loiro e forte, que mantinha sua lança erguida enquanto cavalgava a frente deles.

Eles cavalgaram bem em nossa direção, se dividindo em dois logo antes de nos alcançarem. Dessa forma, fecharam um círculo a nossa volta antes mesmo que percebêssemos o que acontecia. Estávamos encurralados.

Eles apontaram as lanças em nossa direção, enquanto Aragorn levantava os braços para mostrar que estava desarmado. O líder dos cavaleiros saiu de entre o grupo, se aproximando de nós.

- O que dois elfos, um homem e um anão querem na terra dos cavaleiros? - Ele perguntou, desafiador. Claramente suspeitava de nós. Eu não podia culpá-lo, em tempos tão incertos. - Respondam rápido!

- Diga-me seu nome, senhor dos cavalos, e eu lhe direi o meu. - Gimli respondeu com arrogância. Eu lhe lancei um olhar de reprovação.

O cavaleiro manteve a postura firme e o olhar sério, enquanto descia do cavalo e ia até nós. Gimli fez menção de se aproximar, mas eu coloquei minha mão em seu ombro, o advertindo.

- Cortaria sua cabeça fora anão. Se estivesse um pouco mais longe do chão. - O cavaleiro disse com um ar superior.

Vi um borrão rápido ao meu lado, enquanto Legolas se mexia.

- Morreria antes que seu braço descesse! - Ele anunciou, apontando uma flecha para o homem. Nesse momento, as lanças ao nosso redor se levantaram, assustadoramente perto.

Eu lentamente levei minha mão até a flecha de Legolas, e a abaixei. Por um momento ele pareceu querer protestar, antes de aceitar com relutância. A raiva ainda era evidente em seu olhar. Nessa hora, Aragorn interferiu.

- Sou Aragorn, filho de Arathorn. Talvez conheça Aerin, filha de Elrond de Valfenda. Estes são Gimli, filho de Glóin, e Legolas, do reino da floresta. Somos amigos de Rohan, e de Théoden, seu rei.

- Théoden não mais diferencia amigo de inimigo. - O cavaleiro respondeu com amargura. Eu franzi a sobrancelha. - Nem o seu próprio sangue. - Ele tirou o elmo, e nesse momento eu o reconheci. Éomer, sobrinho de Théoden.

- O que quer dizer? - Eu perguntei, me aproximando.

Éomer pareceu me medir de cima abaixo antes de responder.

- Saruman envenenou a mente do rei e declarou ser o senhor destas terras. Minha comitiva é formada por aqueles leais a Rohan. E por isso, fomos banidos. O mago branco é astuto. - Ele disse. - Ele anda aqui e acolá, dizem, como um velho de capuz e capa. E em todos os lugares seus espiões escapam às nossas redes.

- Não somos espiões. - Aragorn disse.

- Seguimos um grupo de Uruk Hai para oeste através da planície. - Eu completei - Capturaram dois de nossos amigos.

- Os Uruks foram destruídos durante a noite. - Éomer disse, e senti meu coração se apertar, tanto de medo, quanto de esperança.

- Mas haviam dois hobbits! Viu dois hobbits com eles? - Gimli exclamou.

- Seriam pequenos, apenas crianças aos seus olhos. - Aragorn explicou.

Éomer vacilou, antes de responder.

- Não deixamos ninguém vivo. Empilhamos as carcaças, e as queimamos. - Ele apontou para longe, de onde uma grande fumaça se erguia do chão.

Todos ficamos em silêncio por alguns segundos.

- Mortos? - Gimli perguntou, sua voz temerosa.

Éomer assentiu.

- Sinto muito.

Ficamos em silêncio, enquanto eu tentava manter a calma. Tentava de algum modo pensar em uma forma com a qual eles pudessem ter escapado. Senti um braço se envolver em meus ombros, e olhei para o lado para ver Legolas, seu semblante triste. Relaxei sobre seu abraço, como se tivesse um efeito calmante em mim.

Éomer assobiou, e três cavalos se aproximaram, sem montaria. Ele se virou para nós.

- Que esses cavalos lhes tragam maior sorte do que ao seus antigos donos. - Ele disse. - Adeus.

Éomer voltou a colocar seu elmo, se dirigindo de volta a seu cavalo.

- Procurem seus amigos, mas não tenham muita esperança. Ela esqueceu essas terras. - Então ele esporeou seu cavalo, se dirigindo aos cavaleiros a sua volta - Vamos para o norte!

Eu os observei se afastarem. Apesar das palavras de Éomer, senti meus próprios sentimentos me traindo. Eu ainda tinha esperança.

Algo em meu íntimo me dizia que Merry e Pippin estavam vivos.