Shadowfax

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Gandalf assobiou, um som fino que reverberou pela terra seca a nossa volta. Antes mesmo que eu pudesse começar a me perguntar o que ele estava fazendo, ouvi o som de cascos batendo contra o chão, um som seco e ritmado que eu já conhecia muito bem.

O som foi aumentando, até que a figura de um grande cavalo branco surgiu na paisagem, cavalgando direto em nossa direção. Não pude deixar de admirar a beleza do animal, que cavalgava em um passo ritmado como se reconhecesse que Gandalf o havia chamado. Eu não duvidava de que esse fosse o caso.

O cavalo parou a nossa frente, o que só fez com que aumentasse minha admiração por ele. Não levava nenhuma sela ou qualquer tipo de equipamento. A um estranho, poderia não passar de um cavalo selvagem. Mas sua presença exalava magnificência, um grande poder. Até nossos outros cavalos pareceram poder senti-lo, como se a presença do outro os fizesse parecer menores.

- É um dos Mearas, a não ser que meus olhos estejam enganados. - Legolas disse, um olhar de admiração em seu rosto.

- Shadowfax. - Disse Gandalf, acariciando o cavalo - É o senhor dos cavalos.

- Os Mearas são cavalos selvagens. Conhecidos por sua grande inteligência, rapidez e resistência. São as mais fortes montarias que alguém poderia desejar. - Eu disse, me aproximando de Shadowfax.

- Ele têm sido meu amigo através de muitos perigos. - Gandalf disse.

Nós montamos em nossos cavalos. Tínhamos um longo caminho até Edoras, a capital de Rohan. Gandalf ia a frente, liderando o caminho montado em Shadowfax. Aragorn ia atrás dele, enquanto eu me emparelhava com Legolas, que levava Gimli na garupa.

Continuamos pelo resto do dia, em passo acelerado. Ao final da tarde Gandalf parou, e nos disse que montássemos acampamento para aquela noite. Desci do cavalo, aliviada. Mas não tanto quanto Gimli, eu pensei. Anões não costumavam cavalgar, e eu duvidava que Gimli estivesse gostando da experiência. Deixei um sorriso se mostrar em meu rosto enquanto ouvia o anão reclamar.

...

Naquela noite, nos sentamos em volta de uma fogueira, Aragorn e Gandalf fumando em seus cachimbos enquanto Gimli se lamentava de como sentia falta da bebida. Eu me sentei entre as pernas de Legolas, minha cabeça apoiada em seu peito. Sentia falta dessa intimidade, eu percebi assim que me deixei relaxar em seus braços. Sorri ao sentir os braços dele se entrelaçando em volta de mim, como se ele me puxasse para mais perto.

Gandalf mantinha o olhar sério, encarando o nada. Perdido em pensamentos, como sempre. Imaginei sobre o que ele estaria refletindo. Talvez sua mente estivesse longe daqui, aonde Frodo e Sam caminhavam em direção a Mordor, ou a uma distância menor, embora não tanto quanto eu gostaria, onde Merry e Pippin estavam junto aos ents, suas vidas dependendo completamente da boa vontade deles.

- A sombra ameaçadora que se levanta no leste toma forma. - Gandalf disse de repente. Não me preocupei em perguntar do que ele falava, sabendo que ele nos explicaria seus pensamentos quando e se quisesse - Sauron não tolerará rivais. Do monte de Barad-Dûr seu olho vê tudo sem parar. Mas ele ainda não é tão poderoso ao ponto de estar acima do medo. Sempre enfrenta dúvidas, o rumor já o alcançou. O herdeiro dos Númenor ainda está vivo. - Seu olhar se virou para Aragorn, que apenas continuou encarando Gandalf, seu olhar inexpressivo.

"Sauron o teme, Aragorn. Teme no que pode se transformar. Ele atacará o mundo dos homens com força e rapidez, usará seu fantoche Saruman para destruir Rohan. A guerra está chegando, Rohan deve se defender, e aí está nosso primeiro desafio, pois Rohan está fraca e pronta para cair. A mente do rei está escravizada, é um velho truque de Saruman, seu poder sobre o rei Théoden é agora muito forte. Sauron e Saruman estão apertando o cerco. "

- Saruman é cheio de truques não é mesmo? - Eu perguntei, sentindo o desprezo em minha própria voz.

- Sim, e você mesma os conhece Aerin. - Gandalf respondeu - Saruman possui grande força e poder, mas essas não são suas únicas armas. São suas palavras, que ele usa para penetrar a mente das pessoas, envenená-las com suas ideias e controlá-las com sua vontade. E ele se frustrou, ah Aerin, como se frustrou quando não conseguiu convencê-la a se posicionar ao lado dele. Nunca me esquecerei do olhar em seu rosto, naquele dia no conselho branco, quando Lindir foi até nós dizendo que você e os anões haviam fugido de Valfenda. Ele está acostumado, acostumado demais a obter sucesso em suas tentativas de manipulação. E você o fez vacilar, mesmo que nem tenha percebido na época.

- Nunca foi uma escolha difícil para mim. - Eu disse, sabendo que cada palavra era completamente sincera - Saruman tentava controlá-lo, sabia que você era melhor do que ele e tentava esconder isso com sua manipulação, muito bem oculta por palavras de sabedoria e experiência. Eu podia ver que você dizia a verdade, podia ver porque vi a verdade no rosto de Radagast. Vi o mal voltando a se espalhar como uma praga, e vi a paz antes disso. Nada era mais claro para mim naquele momento. Que algo obscuro estava ressurgindo, e que Saruman tentava afastar esse mal com suas palavras, desprezá-lo como se fosse insignificante. Ele é esperto, e não se importa com o destino da Terra Média, apenas com o seu próprio. Por isso ele se uniu a Sauron, porque foi aonde viu sua única chance de sobrevivência. Até ele sabia que nossa missão é praticamente impossível. Que um deslize poderia causar um desastre.

- Mas contra toda a sua esperteza, temos uma vantagem. O anel continua escondido. E eles não tem a mínima ideia de que queremos destruí-lo. A arma do inimigo está indo para Mordor nas mãos de um hobbit, e a cada dia ele chega mais perto do fogo da montanha da perdição. Agora precisamos confiar em Frodo. Tudo depende da velocidade e do sigilo de sua missão. Não se arrependa de sua decisão de abandoná-lo. Ele deve cumprir a tarefa sozinho.

- Ele não está sozinho. - Aragorn disse, quebrando seu silêncio - Sam foi com ele.

- Sam o seguiu. - Eu disse - Quando eu ajudei Frodo a escapar dos orcs. Merry e Pippin os distraíram para que os dois pudessem fugir.

- Foi? - O mago perguntou, e depois reafirmou - Foi mesmo. ótimo. Sim, muito bom.

O Retorno do Anel #2Where stories live. Discover now