A Chegada ao Abismo

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- Coloquem os feridos nos cavalos. - Théoden ordenou - Os lobos de Isengard retornarão. Deixem os mortos.

Théoden se virou para nós, e colocou uma de suas mãos em meu ombro, o que fez com que me virasse para ele.

- Venha. - Ele disse, gentilmente.

Eu assenti, tentando mandar os pensamentos de luto para o fundo de minha mente. Precisava pensar nos outros agora. Se não continuássemos com certeza sofreríamos outro ataque dos wargs.

Legolas segurou minha mão, como em um questionamento. Eu apertei sua mão de volta, em um gesto de conforto. Levei minha outra mão ao seu rosto, limpando uma lágrima que escorria por sua bochecha.

- Precisamos continuar. - Eu disse, meu coração pesando com cada palavra. - Teremos tempo para o luto depois, se sobrevivermos ao que está por vir.

Senti Narya, o anel do fogo queimar em minha mão, como um aviso de que eu era forte o suficiente para continuar. Olhei para a Estrela Vespertina, ainda em minha mão. Encarei-a apenas por um segundo. Não conseguiria usá-la, não com todo o peso que agora carregava. Em vez disso, coloquei-a em meu bolso. Talvez seja o mais apropriado. A levarei de volta para Valfenda, para Arwen, ou perecerá juntamente a mim, perdido para que ninguém mais possa possuí-lo.

Seguimos Théoden, e reunimos todos. Passamos mais algumas horas em viagem caminhando, por todos os cavalos serem ocupados pelos feridos. Depois de algumas horas, pudemos finalmente avistar o abismo de Helm a distância, e a movimentação de pequenos pontos pretos por todo o lugar, o que significava que Eowyn tinha conseguido chegar com os cidadãos.

Adentramos a fortaleza já em completo movimento, pessoas trabalhando e tarefas sendo designadas. Avistei Eowyn, e fui até ela juntamente com Théoden, Legolas e Gimli.

- Tão poucos de vocês retornaram. - Ela disse, observando os cavaleiros que entravam pelo portão. 

- Nosso povo está salvo. - Théoden disse apenas, conformado. - Nós pagamos com muitas vidas.

- O senhor Aragorn. - Ela disse, virando-se para mim com o olhar ansioso - Onde ele está?

Senti meu coração pesar. O olhar de Eowyn transbordava preocupação, e esperança. O olhar de alguém apaixonado, eu sabia bem. Pobre garota, um coração que batia por alguém que nunca a amaria de volta. Mas isso não importava. Pois Aragorn não voltaria, independentemente de por quem fosse.

Não consegui abrir a boca, e pronunciar as palavras nas quais eu mesma não queria acreditar. Gimli fez isso por mim.

- Ele caiu. - O anão disse apenas, sua voz triste.

Não pude encarar o olhar de Eowyn. Me virei para me retirar, e Legolas veio atrás de mim. Não podia ceder a dor nesse momento, ainda tinha uma batalha pela qual lutar.

E quem sabe, no final, eu não estaria mais aqui para me preocupar.

...

- Coloquem todas as nossas forças atrás do muro. - Théoden ordenou, enquanto seu pequenos exército se estendia atrás dele. Pequeno demais. - Protejam os portões, e coloquem um vigia na porta.

- E aqueles que não podem lutar, senhor? As mulheres, e crianças. - Um dos homens perguntou.

- Levem-nos para as cavernas. Saruman está muito enganado se acha que pode nos alcançar aqui. 

Continuei seguindo Théoden, enquanto ouvia suas instruções. Ajudei a evacuar as mulheres e crianças para o subterrâneo, distribuir armas e armaduras para os homens. Fazia isso quase no automático, sabendo que não tínhamos grande chance de vitória. Tínhamos perdido quase metade dos nossos guerreiros, força que já tinha sido diminuída pelo banimento de Éomer e seus homens. Agora o que nos sobrava era um pequeno exército, menos da metade do número de nossos oponentes.

Ouvi murmúrios a minha volta, o que fez com que eu me perguntasse o que havia acontecido. Corri pela multidão, até ouvir a voz de Gimli se sobressaindo.

- Saiam da frente. Eu vou matá-lo! - E então ele se interrompeu, enquanto todos ficavam em silêncio - Você é o homem mais sortudo, mais engenhoso e o mais precipitado que já conheci! - Ele exclamou, com um tom de alegria na voz.

Eu parei ao chegar a frente da multidão. E não pude conter as lágrimas. Lá estava ele. Imundo, cheio de arranhões e com um cavalo exausto ao seu lado. Mas era ele, e estava vivo, de pé, e sorrindo. 

Eu corri o resto do caminho em sua direção, e me joguei em seus braços sem nem mesmo pensar no que fazia. Aragorn me recebeu em seus braços, me apertando firmemente contra si, como se assim pudesse acalmar meu coração que batia desesperadamente.

- Seu grande tolo. - Eu disse - Sabe o quão abalada me deixou? Pensei que tivesse te perdido. - Sussurrei as últimas palavras, me afastando para olhar em seu rosto. - Gwador (irmão). - Completei, com um sorriso.

Sim, era isso que ele era para mim. Um irmão, mesmo que não compartilhássemos do mesmo sangue. Um irmão, alguém com quem sempre poderia contar, alguém para me preocupar e aconselhar. Alguém que eu amava do fundo do meu coração.

Aragorn sorriu, e limpou uma lágrima que escorria por meu rosto. Senti passos atrás de nós, e me virei para ver Legolas se aproximando com um grande sorriso.

- Você está péssimo. - Ele disse, ao que recebeu uma risada em resposta.

Peguei a Estrela Vespertina de meu bolso, e a coloquei na mão de Aragorn. Ele olhou para o pingente por um momento, antes de voltar a olhar para nós, agradecido.

- Hannon le (obrigado). - Ele disse.

Eu olhei para o pingente na mão dele, enquanto Aragorn o colocava de volta no pescoço. Parecia completo lá, não trazia mais aquela sensação vazia e triste. Ela estava de volta ao seu lugar.



O Retorno do Anel #2Donde viven las historias. Descúbrelo ahora