A Decisão de Théoden

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Estávamos de volta ao salão do palácio de Théoden. Eu tinha acompanhado as crianças o tempo todo, enquanto contávamos aos outros o que havia acontecido. Eu tinha encarado os olhares surpresos dos meus amigos enquanto eu e Gandalf entrávamos, eu carregando o garoto inconsciente nos braços, e sua irmã ainda firmemente agarrada ao meu cinto como se eu fosse sua mãe. Mas o que mais me chamou a atenção foi o olhar de Legolas, que após a surpresa, passou do meu rosto para o da menina ao meu lado, e por um momento seus olhos pareceram brilhar, e um pequeno sorriso apareceu em seu rosto.

Depois de alguns minutos o garoto acordou, e agora estávamos todos reunidos na sala do trono. Théoden estava sentado no trono com a mão sobre a testa, como se tivesse acabado de receber más notícias e agora tivesse um grande problema para resolver. O que era verdade. O garoto nos contou que sua vila havia sido atacada por selvagens, as casas queimadas e todos mortos. Agora ele e sua irmã comiam avidamente a comida que havia sido oferecida a eles, o que me fez imaginar de novo a quanto tempo estariam cavalgando sozinhos. 

- Foram pegos de surpresa. - Eowyn disse - Estavam desarmados. Agora os selvagens estão indo para o Folde Ocidental queimando tudo que veem.

- Essa é apenas uma amostra do terror que Saruman trará. - Disse Gandalf - Ainda mais potente, pois agora está motivado pelo terror a Sauron. Vá embora e confronte-o, leve-o para longe de suas mulheres e crianças. Precisa lutar.

- Cadê a mamãe? - Ele foi interrompido pela garota, que não tinha abandonado o olhar de medo desde que chegara. Senti meu coração se partir ao imaginar que a mãe deles provavelmente estaria morta agora. Me aproximei dela e coloquei um cobertor em volta de seus ombros, deixando minha mão em seu ombro num gesto de conforto. Naquele momento queria poder protegê-la de todo o mal, queria que nunca precisasse passar pelo que vivia naquele momento.

- Você tem dois mil bons homens indo para o norte neste momento. Éomer é leal a você, seus homens voltarão, e lutarão por seu rei. - Aragorn disse, se dirigindo a Théoden.

- Devem estar a trezentas léguas daqui agora. - Théoden disse. - Éomer não pode nos ajudar. Sei o que querem de mim, mas não trarei mais morte ao meu povo. Não arriscarei uma guerra aberta. 

- Mas a guerra está aqui, quer se arrisque ou não. - Aragorn respondeu.

- A última que houve, Théoden e não Aragorn, era o rei de Rohan. - Théoden disse rispidamente. 

- Então qual é a decisão do rei? - Gandalf perguntou.

Eu fitei Théoden, aguardando suas próximas palavras.

...

- Por que está sorrindo? - Eu perguntei.

Já era noite. Théoden tinha providenciado para que tivéssemos quartos onde ficar, e no dia seguinte partiríamos com todo o povo de Rohan para o abismo de Helm, uma fortaleza onde, de acordo com Théoden, seu povo estaria seguro.

- Estava pensando na forma como você cuidou daquela menina hoje. - Legolas disse, o sorriso aumentando em seu rosto.

Eu sentei na cama, soltando um suspiro. Não sabia bem porque eu me sentira tão protetora sobre ela. Ou porque me sentira tão mal vendo o sofrimento de Théoden.

- Uma criança. - Eu falei, enquanto Legolas se sentava ao meu lado na cama - Não devia ter nem dez anos. Perdeu a casa, a família, tudo que tinha. 

- Ninguém deveria ter que passar por isso. - Ele disse - Mas a forma como ela se prendeu a você... Parecia se sentir mais segura. Como se você fosse a mãe dela.

Eu sorri, levemente.

- Pelo menos pude servir de algo, considerando que ela nunca mais verá a mãe dela. - Eu disse - Não foi consciente, foi mais como um instinto. Eu queria protegê-la. 

Eu fiz uma pausa, tirando o cabelo do meu rosto.

- Hoje, quando vi Théoden na frente do túmulo do filho, eu me lembrei da batalha dos Cinco Exércitos. Me lembrei de como me senti quando... - Não consegui terminar a frase, mas Legolas colocou a mão no meu ombro, sinalizando que tinha entendido - Ele parecia completamente perdido. Foi como se a luz deixasse seus olhos, como se ele tivesse partido também. Ele estava completamente destruído, Legolas. E Théodred nem ao menos pôde ver o pai voltar a ser o que era.

- Não pense nisso. - Legolas me interrompeu - Não é assim que as coisas devem ser. O que aconteceu com Théoden foi uma tragédia, tudo que acontece nesses tempos é uma tragédia. Um pai nunca deveria viver para ver a morte do filho. 

Ele fez uma pausa, como se não tivesse certeza de que deveria prosseguir. Eu continuei em silêncio, refletindo sobre suas palavras.

- Mas Aerin... Nós podemos ter um fim diferente. Depois que tudo isso acabar... - Ele olhou para mim, seus olhos procurando alguma compreensão nos meus - Talvez pudéssemos finalmente ter nossa própria casa... ter nossa própria família.

Eu senti meu coração desabar. Isso era tudo que eu mais queria no mundo, tudo que meu coração mais desejava. E no entanto eu nunca poderia ousar imaginar. Depois da visão que tivera no espelho de Galadriel, não poderia me permitir ter esperança de que algum dia pudesse ter a vida que tanto queria. Imaginei Legolas seguindo em frente sem mim, e no entanto tudo que eu via era um abismo negro a minha frente. Não conseguia, não podia sequer tentar.

E ao mesmo tempo, eu vi a esperança em seu olhar, a sinceridade e o amor em suas palavras, e soube que não poderia fazer nada a não ser dizer as palavras que eu desejava com todo meu coração que pudessem se concretizar.

- Sim... - Eu disse, lutando contra as lágrimas - Isso é tudo que mais quero no mundo.

Então eu me aproximei, e o beijei. Foi um beijo urgente, como se eu tentasse com isso compensar o peso de todas as minhas dores, como se de alguma forma fosse possível revertê-las com esse simples ato. Legolas ofegou com a surpresa, antes de segurar meu rosto com as mãos e aprofundar o beijo, me empurrando de costas contra a cama.

Ele se afastou lentamente, abrindo seus olhos e olhando para mim de uma forma tão intensa que quase senti meu coração parar. Encarei os olhos dele, me perdendo na beleza deles.

- Eu te amo. - Ele sussurrou - Mais do que tudo.

- Eu te amo. - Eu respondi - Quero passar o resto da minha vida ao seu lado.

Ele caiu na cama ao meu lado, me puxando para perto de si. E como se uma força invisível relaxasse meus músculos, eu cedi ao seu abraço, me deitando com a cabeça na curva de seu pescoço, com a sensação de que pela primeira vez em muito tempo eu teria uma boa noite de sono.

O Retorno do Anel #2Όπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα