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MENDES

  Pô, esse bagulho de chá de bebê foi foda, curtimos de verdade mermo, curtimos com as pessoas que mais consideramos.

Depois que os convidados foram embora, ainda ficamos na laje bebendo e conversando, estava maior papo bom até que o JP chegou dando uma de maluco.

— Se mete não que meu papo não é contigo, e sim com essa filha da puta falsa. - aponta para mim, e eu levanto encarando ela com a sobrancelha arqueada.

— I ala, mandadão. - Carlin fala. — Só não quebro tua cara, porquê tu tá bêbado.

Além de bêbado, ele também tava drogado. Eu mereço um bagulho desse? Se fodê.

— Que porra tu tá fazendo na MINHA CASA? - me aproximo. — Tá ficando maluco, caralho?

— Tu é maior vacilona do caralho, mermo. - me encara. — Assim como todo mundo você virou as costas pra mim, no momento em que eu mais precisei de você... aonde foi parar aquela amizade forte que nós tinha, menó? Agora tu faz festinha, e nem me chama... sequer pensou em convidar...

— Eu não vou conversar contigo enquanto tu tiver nesse estado não, na moral... com todo respeito tem como você ralar da minha casa? - pergunto.

— ME RESPONDE, CARALHO! - ele grita, e eu reviro meus olhos.

— Tu tá me estressando...

— Foda-se, só saio daqui quando tu falar o motivo de tu ter acabado com a nossa amizade.

— Se liga, caralho, eu não acabei com porra nenhuma, se tu precisar de mim pode ter certeza que eu vou estar lá contigo... - corto ele que me encara. — Tu tá falando isso porque agora eu não curto mais baile contigo, porque não trocamos aquela ideia enquanto ficamos drogados... eu não quero mais esse bagulho pra mim, eu vou ser mãe, eu não quero que a minha filha tenha esse exemplo, não quero que a Mariana tenha que me ver chegar em casa drogada... esse bagulho é feio... antes eu não tinha ninguém, mas agora tenho uma família, e nada mais importa. Então se sua amizade resume em curti baile, e ficar drogado eu realmente não quero...

— Depois que tu se juntou com essa porra mudou pra caralho... - aponta para Mariana.

— Tá ficando maluco, caralho? Olha como tu fala da minha mulher, eu tô tentando ficar calma pra não meter um tiro na tua cara pelo pouco de consideração que ainda tenho por tu, mas se tu continuar eu juro que vou te matar. - digo puta.

— Quero ver até quando essa merda de relacionamento de vocês vão dar certo. Quero que vão se foder, e agora quem não quer tua amizade sou eu.

— Foda-se, cheguei numa fase que não faço questão de ninguém, ainda mais de alguém como tu que é um atrasado na vida de qualquer um, toma no teu cu. - falo. — Moleque, tu têm vinte e sete anos na cara, vê se vira sujeito homem, e para agir feito criança mimada, bagulho feioso. AGORA METE O PÉ DA MINHA CASA! - grito, e ele me dá dedo saindo.

SEMANAS DEPOIS

Mariana acabou de completar trinta e oito semanas, isso significa que a nossa filha pode nascer a qualquer momento.

— Odeio te ver assim. - digo enxugando suas lágrimas. — Tem certeza que não quer ir ao médico?

— Uhum. - murmura apertando minha mão, e soltando um suspiro.

Quando ela completou trinta e cinco semanas as contrações de treinamento começaram, e quase todos os dias é uma sofrimento, ver ela sentindo dor acaba comigo. Na primeira vez que ela me acordou dizendo que estava sentindo dor fiquei desesperada, até mais que ela, convenci ela que era melhor irmos ao hospital, mas quando chegamos lá falaram que ela iria sentir isso até o final da gravidez, até o dia em que a bolsa estourasse.

— Quer ir no médico, amor? - pergunto novamente. — Tá doendo ainda?

— Tá passando... não precisa... você sabe que não vai adiantar nada irmos... - fala dando pausas. — Se chegarmos lá vão mandar a gente volta para casa...

NOSSA LUZ NA ESCURIDÃO (Intersexual)Where stories live. Discover now