8

9.7K 671 48
                                    

MARIANA

Eu não consegui decifrar o que ela sentiu quando contei para ela que vamos ter um filho, e quando ela disse que voltaria depois para conversar comigo senti uma angústia no peito, comecei a ter vários pensamentos ruins que me deixavam mais angustiada ainda.

— Vai pra onde? - pergunta Júlia ao me ver abrindo a porta. — Mendes disse que era melhor nós ficar aqui.

— Eu preciso falar com ela. - digo, e ela vem até mim. — Não adianta, eu não vou ficar aqui parada, eu tô angustiada...

— Eu vou com você. - eu concordo, e a gente sai trancando a porta. — Você contou sobre o bebê, né?

— Uhum...- murmuro.

— O que ela disse?

— Nada, disse que depois iria voltar pra nós conversar.

Ela não disse nada, e continuamos caminhando até chegar na casa dela, eu bati, mas uma mulher que estava do outro lado da rua disse que não tinha ninguém, então me sentei na calçada junto com Júlia.

— Eu briguei com o João Pedro... - ela fala, e eu a encaro. — Ele tava todo estressado hoje, e acabou descontando em mim... fiquei logo puta, e mandei ele ir arrumar outra boceta. - eu acabo rindo.

— Eles são tão complicados. - digo soltando um suspiro.

Ficamos sentadas ali conversando, até que Esther chega.

— Eu não mandei vocês ficarem em casa, porra? - fala de um jeito grosso.

— Essa teimosa da Mariana. Só vim com ela pra ela não vim sozinha... tu viu o JP?

— Não. - responde seca, e me encara, mas logo vira seu rosto fazendo meu coração apertar.

Ela tira uma chave do bolso, e abre a porta entrando.

— Amiga, vou embora... - ela fala dando um sorriso forçado. — Se cuida, qualquer coisa me avisa, te amo.

— Tá bom, te amo, se cuida. - falo ,ela sai andando, e eu entro na casa fechando a porta.

— Você podia ter me escutado pelo menos uma vez, né cara? - fala sentada no sofá encarando o chão. — Por que você é tão teimosa, porra? - eu me sento no sofá, e ela levanta indo para o outro lado da sala.

— Eu te fiz alguma coisa? - pergunta sem entender o motivo disso. — Eu só quero conversar com você. O que aconteceu pra você tá fazendo isso? É por causa desse bebê? Você não precisa assumir senão quiser...

— FICA QUIETA, PORRA! - ela grita fazendo eu me assustar, e logo sinto meus olhos se encherem de lágrimas, me levanto, mas sinto ela puxando meu pulso, e me envolvendo num abraço apertado. — Me perdoa, eu não quis fazer isso... mas é que só de pensar que alguém pode te fazer algum mal eu sinto vontade de matar todo mundo... se alguém fizer alguma coisa pra você eu nunca vou me perdoar... - ela se afasta, e segura meu rosto fazendo eu encarar ela. — Me escuta... eu sei que sou errada pra caralho, e que eu já vacilei muito contigo, mas quero que tu saiba que eu te amo com toda minha alma, e que tu é a porra da mulher da minha vida... eu mato e morro por tu, mina... - eu encaro seu rosto sério, e sinto as lágrimas descerem pelo meu rosto. — Eu não consigo demonstrar muito meus sentimentos, tu sabe bem disso, mas eu tô muito feliz que vamos ter um filho... eu prometo que nunca vou errar com essa criança. - fala enxugando minhas lágrimas. — Você vai ser a minha perdição, sabia?

— Eu te amo. - digo, e ela me beija.

[...]

— Tu tá de quantos meses? - pergunta acariciando meu cabelo. — Já foi no médico?

— Tô de três meses... sim, fui hoje inclusive.

— E tá tudo bem com o bebê?

— Sim. - sorrio de lado. — Entendo que você não tá acostumada com isso, no começo eu fiquei assustada, mas se você não se sentir confortável pra fazer parte da vida dele tudo bem, eu posso...

— Nem termina essa porra... - ela fala se levantando. — Tá achando que eu sou o que? Um monstro? Eu já passei por essa porra, eu fui abandonada quando criança por ser "anormal". - faz aspas com o dedo, e me encara séria. — Eu nunca faria isso com um filho meu. Eu só não sei agir nessa situação, é algo muito novo pra mim, eu nunca pensei em ser mãe, e tu tá ligada.

— Uhum, eu te entendo, relaxa. - digo me sentando na cama. — Será que a gente pode ir comer alguma coisa?

— Sim, bora.

— Tu paga?

— Pago. - me levanto da cama, e tiro minha blusa. — Vai pelada? - pergunta com a sobrancelha arqueada.

— Não, vou pegar uma blusa sua, e um casaco. - ela revira os olhos, e vai no banheiro.

— Tu é folgada pra caralho, né? Só vive pegando minhas roupas.

— Pego mesmo, não gostou?

— Coé, tá ficando maluca? - vem até mim, e me coloca contra parede. — Quando eu te jogar naquela cama e te foder todinha quero ver ter marra desse jeito. - ela fala no pé do meu ouvido, e beija meu pescoço me fazendo soltar um suspiro, e sai de perto dando um sorriso.

— Idiota.

[...]

Eu acabei passando em casa para chamar Júlia, não queria que ela ficasse sozinha, principalmente porquê ela brigou com o JP.

— A tia ainda não voltou? - pergunto me sentando no banco da praça, e ela nega com a cabeça enquanto mexe no celular. — Eu hein. Tua tia já fechou essa hora, né? - pergunto para Esther que tava em pé.

— É. - fala mexendo no celular.

— Mais que porra hein, cês vão ficar nessa porra ao invés de conversar comigo? - eles nem me dão confiança, e eu fico puta. — Vou pegar meu lanche que eu ganho mais. - me levanto vendo Esther se sentar no meu lugar.

— Pega pra mim também, quero um x-tudão, e um guaravita... pede pra ela tirar o tomate. - fala Júlia me fazendo encará-la incrédula.

— Coé, faz a boa pra mim também, o meu é um x-tudo completo e uma coca. - Esther fala sem ao menos me olhar, e eu saio batendo o pé.

Não se dão bem, mas quando querem me irritar viram até melhores amigos.

— Boa noite, tia... me vê quatro x-tudo, dois guaravitas e uma coca

— Boa noite, Mari... - ela fala sorrindo. — Completos?

— Um deles é sem tomate, e os outros três completos.

Enquanto fiquei lá esperando fiquei fofocando com a tia da barraquinha, hambúrguer dessa mulher é bom demais, tá maluco.

Peguei os meus dois hambúrguer, e um guaravita e voltei pra lá.

— Ué, cadê o meu? - Esther pergunta me encarando.

— Levanta teu cu daí e vai buscar. - digo, e a Júlia rir. — Isso serve pra tu também.

— Mas tu tá com dois aí, cara.

— São meus.

— Caralho, tu não comeu hoje?

— Comi, agora vai logo lá pegar.

NOSSA LUZ NA ESCURIDÃO (Intersexual)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora