Cavalheiro

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Dormir no entanto foi difícil naquela noite, e eu não me surpreendi quando pude observar por de trás das persianas, o sol nascendo assim como se pôs na tarde passada. Eu pediria Sana em casamento no dia seguinte, nos casaríamos, nos divorciaríamos e depois ela iria embora da minha vida como se nunca estivesse ali, acho que nunca pensei por tanto tempo como pensei sobre aquela madrugada. Em ir até o seu quarto, em lhe pedir desculpas, em lhe dizer o que eu sentia, pedir para desistir daquela plano e apenas... ficasse comigo de verdade. Consegui sentir falta de Agnes naquele meio tempo, senti falta da forma que Sana a colocava na minha cama todas as manhãs, antes mesmo do sol nascer, senti falta do jeito desleixado e preguiçoso que ela se arrastava em minha direção, escondendo o seu frágil corpo em meus braços, pegando no sono com os carinhos que eu proporcionava conforme Sana tomava banho. 

Ela havia ficado fora por apenas um dia, e eu consegui sentir sua falta, até mais do que um dia eu senti falta dos carinhos dos meus pais. 

Escovei os meus dentes e tentei pegar o exato momento em que Sana saiu do seu quarto, contando até dez, saindo atrás dela logo em seguida. Estava novamente de fones de ouvido, pijama, mas saiu, eu franzi o cenho, ela saiu do apartamento ainda usando pijama, eu poderia cogitar a possibilidade de sonambulismo, mas isso morreu depois de alguns minutos demorados, os quais ela voltou, com Agnes em seus braços. Meu sorriso brincou sobre os meus lábios, aumentando ainda mais quando a menina deu um alto grito em minha direção, se debatendo nos braços de Sana para ser colocada no chão, e quando a mulher o fez, a vi engatinhar mais rápido do que nunca em minha direção.

- Hey, bom dia, mini brócolis! - saudei, a jogando pra cima, ganhando a sua gargalhada, beijando o seu rosto e a abraçando como um ursinho de pelúcia - Eu senti a sua falta, sabia disso? 

- Ma! - ela disse, puxando os meus fios, me mostrando os seus dentinhos em crescimento. Olhei para Sana, a mulher tinha as sobrancelhas arqueadas, em surpresa, acho que pela a primeira palavra que a sua filha falava, mau sabendo ela, que eu já havia escutado aquilo algumas vezes. Deixei meu sorriso suave conforme Sana caminhava em nossa direção.

- Você falou, minha pequena? - questionou, a menina deu um pequeno sorriso brincalhão, escondendo o rosto sobre a curva do meu pescoço.

- Não... foi a primeira vez que ela disse isso - falei - Melhor que um palavrão, não acha?

Sana me encarou, não me respondeu, pegando as coisas de Agnes e levando em direção ao quarto da menina, eu poderia ir atrás e até mesmo me sentir mau sobre a sua falta de fala em minha direção, mas apenas o fato de ter Agnes ali novamente, me deixou feliz o suficiente e confiante o suficiente sobre a minha aproximação novamente com a sua mãe. Isso poderia soar como uma madrasta usando a enteada para se aproximar, mas eu tinha certeza que Agnes não se importava, e até mesmo me ajudaria se fosse preciso.

Fiquei com Agnes na sala, assistindo os seus desenhos e a vendo explorar cada brinquedo ainda espalhado pelo o chão, por sua espera, engatinhando em minha direção quando se interessou sobre um carrinho, se sentando em meu colo, me explicando em sua língua sobre as rodinhas do veículo, me fazendo rir com os seus gritos agudos e com a forma que ela "explicava" mexendo as suas mãozinhas sem parar, apenas para que eu me concentrasse nela e na sua fala de outro mundo, a qual eu fingia entender. As vezes observava Sana sobre a cozinha, o cheiro do café da manhã fazia com que a minha boca salivasse e o meu estômago roncasse, mas fingi não notá-la conforme colocava a mesa, vindo em nossa direção. 

- Tem ovos - ela informou, pegando Agnes, se afastando novamente. Dizendo apenas o que havia de meu favorito na mesa. Deixei o carrinho de lado e caminhei atrás delas, me sentando sobre a cadeira na qual sempre sentei, ao seu lado, um pouco feliz quando ela não afastou a sua cadeira, ou por não ter mudado de lugar - Algum roteiro que preciso seguir pra amanhã? - questionou, voz distante e objetiva.

- N-não - gaguejei, um pouco nervosa ao seu lado e pela a sua feição de poucos amigos - Apenas... finja que...

- Que estou feliz ao seu lado? Posso fingir isso. 

- Sana...

- Você deixou claro, Tzuyu - ela me cortou, afastando a sua mão quando eu tentei segurá-la - Nada mais e nada menos que o plano. Lá fora somos uma família, aqui dentro, somos duas estranhas. Aqui dentro não somos nada. 

- Eu não quis dizer...

- Sim, você quis. 

- Eu só estava confusa-

- Consulte uma psicóloga. Tenho o número de uma, você quer? - a sua resposta foi retórica e sem espaço para mais conversas. Abaixei os meus olhos sobre o prato a minha frente, podendo e conseguindo perder a fome logo em seguida, apenas remexendo sobre o que havia servido, sem levar nada ao estômago de fato, podendo me sentir sozinha novamente quando ela terminou de alimentar Agnes, pegando a menina e a levando para o quarto. Em sua soneca da tarde. 

Retirei a mesa e lavei a louça, sentindo depois de anos, nós em minha garganta junto a uma pequena queimação em meus olhos, denunciando as lágrimas que queriam descer, mas eu funguei, limpei e engoli a vontade de ser fraca, me instalando em meu quarto também, colocando os meus fones de ouvido e deixando que o videogame me consumisse aos poucos. Não consegui me concentrar o suficiente, sempre abaixando o volume quando escutava ruídos, sempre tendo a esperança que por algum motivo, ela entraria ali, mas isso não aconteceu, me dando apenas uma conversa, a qual me deixou extremamente incomodada, e com raiva. 

- Momo, você deveria parar de ser apressada - escutei ela dizer, a sua voz estava um pouco longe, retirei os meus fones e caminhei até a porta, colocando o meu ouvido contra a madeira, afim de ter um pouco mais - Ele apenas me chamou para sair - a sua voz era risonha e descontraída, como se aprovasse a ideia - Talvez, preciso perguntar para a Jihyo quando ela pode ficar com a Agnes novamente. Momo, demos apenas um beijo ontem e ele me trouxe pra casa, ele é apenas um cavalheiro - Sana riu, meus dedos se apertaram contra a maçaneta, e mais uma vez pude sentir a sensação do sangue correndo fortemente por minhas veias - Ele me mandou mensagem hoje de manhã, quem sabe quarta? Uhum, ele quer reservar um restaurante, achei fofo - um tempo de silêncio, mais um pouco da sua risada - Não se vê muitas pessoas românticas por aí, tenho que aproveitar que ele está sendo e ir em frente. 

Eu me afastei da porta, apertando os meus punhos e respirando o tão fundo conseguia, senti vontade de socar a parede, o travesseiro, a cama, mas não o fiz, me irritando com as suas risadinhas baixas e animadas, alcançando rapidamente meu celular, digitando furiosamente sobre os meus dedos.

"Aonde é a festa hoje?"

"Não foi você que disse que pararia de ir a festas? Temos uma na casa da Kate, cogitei em te chamar, mas como está a evitando, então desisti."

"Eu irei."

"Posso confirmar a sua presença?"

"Sim."

"As nove, Tzuyu."

Joguei o meu celular e caminhei em direção ao banheiro. "Demos apenas um beijo e ele me trouxe pra casa", "ele é um cavalheiro". Então levar café da manhã todos os dias na cama não era o suficiente pra ela?! Ela não me achava uma pessoa gentil?!

Por que eu me importava? Não somos nada. Não temos nada.

My dear wife - SatzuWhere stories live. Discover now