Aos olhos de Agnes

2.4K 339 125
                                    

Caminhei com um pouco de pressa pela as calçadas rentes ao restaurante em que estávamos, Sana não deveria ter ido tão longe, eu queria pensar assim pra falar a verdade, e esse pensamento se concretizou assim que a encontrei, em outro restaurante, um pouco mais simples, sentada no lado de fora com Agnes, a alimentando com um sorriso suave e despreocupado em seus lábios, acho que esse sendo causado pela a forma que a sua filha se alimentava perfeitamente bem. Respirei fundo e atravessei a rua, em sua direção, a qual ela ainda não havia notado, e apenas percebendo tal presença, assim que Agnes soltou um grito, daqueles nos quais saltava quando estava feliz, ou sei lá o que. 

Nós nos encaramos durante um tempo, o seu olhar antes suave, se transformou em voraz, quase animalesco, como se um predador estivesse se aproximando, tinha raiva nele, o que me deixou extremamente receosa sobre a aproximação mais avida, mas eu a fiz, de qualquer forma. 

- Olha-

- Não, não venha desferir mais dos seus mandamentos pra cima de mim - ela me cortou no mesmo segundo.

- Pode ao menos me deixar falar?

- Falar o que, Tzuyu? Tem certeza que ainda quer ter o poder da fala depois daquilo? O que você acha que eu sou? O seu animal de estimação? Ou melhor, a sua "cadela sem pedigree" de estimação? Me poupe dos seus problemas de gente rica. 

- Escuta, eu também não gostei da forma que ele falou com você-

- Sério? Não foi isso que me pareceu, pelo o contrário, enquanto a porra do seu amigo me ameaçava de agressão física, a única coisa que você fez foi me mandar sentar! 

- Eu não queria arrumar confusão, Sana-

- Não, você não queria, Tzuyu. Então por isso decidiu dar uma de boa samaritana na frente de todos, aonde você fala e eu obedeço. Se foi pra isso que me procurou, pode dar meia volta e ir embora, eu não vou ser a esposa na qual fica trancada dentro de casa, lavando e passando as suas cuecas, fazendo a sua comida ou dizendo o quão maravilhoso o seu pau é. E adianto, se a sua família seguir essa mesma linha de raciocínio, me avise, vou pegar as minhas coisas e vou embora, esquecendo de qualquer plano que um dia tivemos.

- A minha família não é assim - suspirei, finalmente falando assim que ela me deixou fazer isso. Puxei uma cadeira e me sentei ao seu lado, esperando que ela olhasse em meus olhos, mas eu não ganhei isso, e nem iria, pelo o tamanho da sua raiva aparente - Eu senti nojo pela a forma que ele se dirigiu a você, confesso que tive vontade de socá-lo até as minhas forças acabarem, nenhuma mulher merece ser tratada como uma escrava doméstica, esse nunca foi e nunca será o meu objetivo.

- Não é isso que parece-

- Apenas, me escute por favor - pedi, calmamente, o mais calmo que a minha voz poderia ser, segurando o seu rosto por entre as minhas mãos e o trazendo em minha altura de visão, Sana me encarou conforme eu deixava meus dedos atrás de suas orelhas, em uma forma para que ela não saísse do meu toque e nem da minha exigência em seus olhos nos meus - Somos um casal de mentira, isso é verdade, mas eu nunca te submeteria em fazer tais coisas, nós temos as nossas vidas, eu me viro, você se vira, e juntas, nós crescemos sobre os nossos objetivos. Não precisa cozinhar pra mim, lavar, passar, limpar, ou qualquer outra coisa assim, você não precisa fazer isso, e também não precisa pensar que os meus pais são dessa forma, eles não são, eu te prometo que eles não são. Me desculpe pelo o jeito que eu falei com você, foi cem por cento desrespeitoso, eu tenho ciência disso e me arrependo, apenas, vamos esquecer isso, pode ser?

Peguei o exato momento em que os seus olhos se suavizaram, ela abaixou a sua guarda protetiva e suspirou, cedendo os seus olhos e assentindo um pouco, me permitindo afastar as minhas mãos do seu rosto, logo sentindo a falta do calor da sua pele, querendo tê-la sobre o toque apenas para aquecer os meus dedos novamente, mas tratei de tirar aquilo da minha mente, focando em fazer tudo ficar bem novamente, e até mesmo afastando minha cadeira da sua, perdendo o breve calor do seu corpo, deixando o seu perfume mais longe e mais fraco, o qual também minhas narinas sentiram a falta, me julgando mais uma vez por tais pensamentos sem lógica e sentido. 

- Ela estava com fome - comentei, assim que vi Agnes comer o último pedaço de cenoura que tinha em seu prato, Sana deu um sorriso.

- Sim, ela estava. Em pouco tempo ficaria irritada.

- Você já comeu? 

- Já.

- Certo... quer ir embora?

- Você comeu?

- Não, mas estou bem.

- Peça algo, Tzuyu - ela disse, empurrando o cardápio em minha direção, se inclinando para limpar a boca de Agnes.

- Não, eu não quero prender vocês duas aqui.

- Como eu disse antes, eu não estou com pressa, e tenho certeza que agora que Agnes está alimentada, ela também não se importa. 

- Você... tem certeza?

- Por que eu não teria?

Eu a olhei por mais um tempo, sorrindo pra mim mesma e podendo passar os olhos pela as opções de pratos simples que aquele restaurante oferecia, Sana se concentrou em Agnes, limpando a sua boca e conversando com a menina, como fez no carro, eu decidi não puxar nenhum assunto, bom, aquele momento deveria ser importante pra ela, eu não sei. Momentos nos quais as mães conversam com os seus filhos devem ser importantes, não é? Eu não poderia responder. 

Deixei que os meus olhos deslizassem para Agnes novamente, assim que o meu celular ficou desinteressante, a menina já me encarava de volta, acho que eu não me acostumaria sobre a percepção, da forma que ela era extremamente parecida com Sana, os olhos grandes e redondos, o nariz bem desenhado para uma criança de onze meses, mudando apenas o fato em que os seus fios eram escuros, bem escuros, como carvão, já os de Sana, em um castanho um pouco mais claro, não com tamanha diferença, mas claros. E também, eu não entenderia o motivo pelo o qual, ela sempre sorria pra mim quando os nossos olhos se encontravam, como se... gostasse de mim, eu deveria deixar bem claro a ela que a sua aproximação era algo que me assustava, eu não queria, ela com a mãe dela e eu longe das duas, assim que deveria ser.

Mas ainda sim, adoravelmente engraçado quando ela inclinava a sua cabeça para o lado e sorria, os seus olhos viravam dois riscos em linhas retas, acho que eu havia visto algo semelhante a Sana quando ela gargalhou algumas vezes, isso não era da minha conta, e eu não deveria olhar tanto assim, aquilo não era da minha importância.

Tive que piscar um pouco quando Agnes abriu os seus braços em minha direção, indicando que queria ser pega por mim, eu a olhei, recuando um pouco, com a testa levemente franzida, mas entrando em um leve desespero quando percebi que ela começaria a chorar em pouco tempo caso eu não atendesse o seu pedido, e um show de choros, era a última coisa que eu queria naquele momento de fato. Eu a peguei, com um pouco de dúvida, a tirando da cadeirinha que o restaurante oferecia, a colocando sentada em uma das minhas pernas, ganhando como "presente" o seu sorriso, os seus olhos focaram em Sana, dando um grito de autocomunicação e logo voltando a me encarar novamente. 

- É, ela realmente gostou de você - Sana disse, me fazendo apenas dar de ombros internamente, observando Agnes brincar com alguns dos meus fios por entre os seus pequenos dedos, em pura curiosidade e concentração, como se o meu cabelo, fosse o melhor brinquedo de todo o universo, e de verdade, era engraçadinho o jeito que ela ficava tão concentrada em algo tão bobo. Foi então que eu me peguei sorrindo conforme a olhava, e rapidamente pigarrei com a minha garganta, voltando com a minha feição séria, atitude essa na qual fez Sana rir.

- Que comida demorada, não é? - troquei rapidamente de assunto, fazendo a mulher negar e apenas arrumar o lacinho sobre os fios da pequena menina.

- Quer... que eu a pegue?

- Não - respondi - Está tudo bem, com tanto que ela não ache o meu cabelo comestível. 

Sana riu novamente, e então eu deixei que os meus lábios deslizassem para um sorriso pequeno e escondido, apenas, tendo um momento agradável em minha vida, acho que... pela primeira vez.

My dear wife - SatzuWhere stories live. Discover now