Ela se chama Sana

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Chou Tzuyu

Eu suspirei, verdadeiramente cansada daquela conversa, mas conhecendo bem os meus pais, os seus discursos se prolongaria durante minutos e minutos, até eu assentir e permanecer calada, criando uma situação extremamente desconfortável para as pessoas que eles haviam convidado para aquela social "simples". Levantei os meus olhos conforme escutava mais um esporro do meu pai, podendo encontrar a garçonete ali, parada, servindo um vinho em uma taça, e eu sabia que era de uma forma proposital a sua demora, pois queria saber o desfecho daquele história, revirei os olhos e foquei no meu prato, virando o copo de vodca pura sobre a minha garganta, apenas tendo a certeza que só conseguiria aguentar mais um pouco dos seus prós e contras em ser casada, caso tivesse mais uma dose daquela. 

- Pode me trazer mais uma? - perguntei a garçonete, que piscou e ruborizou um pouco ao ver que eu prestava atenção nela e na forma intrometida em que ela se encontrava, apenas assentindo e se retirando logo em seguida.

- Você está me ouvindo, Tzuyu?

- Sim, pai, eu estou - respondi, controlando as respostas sarcásticas que eu queria dar a ele - Eu já entendi que para ter a Yukon Chou, eu tenho que ser casada, eu já entendi isso, você me fala isso desde a hora que eu acordei, até a hora que eu vou dormir, não tem como não entender, não tem como não te ouvir, pai.

- Você tem que entender que isso-

- É para o meu bem - completei a fala repetida da minha mãe, a encarando - Eu não sabia que casar de uma forma forçada é algo que faz bem.

- Não é de uma forma forçada caso você se apaixone por alguém. É simples, conheça alguém, se apaixone por esse alguém, caso com esse alguém e a Yukon Chou é sua. Vamos lá, Tzuyu, você é uma mulher bonita, não é tão difícil achar pessoas interessadas em você.

- Me dê licença, eu vou ao banheiro. 

Ignorei toda a sua simplificação sobre um romance claramente falso, entrando no banheiro, na última porta, ficando ali, apenas sentada na tampa do vaso sanitário, não querendo voltar para aquela mesa de forma alguma. Porra, era o meu aniversário, meu aniversário! Será que o meu dia não poderia ser um dia feliz e normal? Aonde eu fizesse compras inúteis e comprasse um enorme bolo aonde provavelmente eu o comeria sozinha? Eu só queria... que o meu dia fosse do meu jeito, talvez na sala, apenas jogando videogames com alguns amigos online, comendo besteiras e mau vendo a hora passar. Mas óbvio... eu era uma Chou, eu tinha que estar junto aos patriarcas. 

Assim que dei menção em sair da pequena cabine, escutei a porta se abrindo, um breve barulho me fez ficar tensa, imaginando coisas que não queria, mas depois... de um tempo, entendi que eram soluços, baixos, mas... doídos o suficiente para que me deixasse ali, parada, sem saber o que fazer, sair do banheiro e me encontrar com alguém chorando era a última coisa que eu queria fazer naquele segundo. 

- Sim, você... pode diminuir um pouco a dosagem por favor? É o ultimo frasco então... a bombinha dela está na parte da frente, eu creio que ainda tenha algo... eu estou a caminho em pouco tempo.

- Sana? Está tudo bem? Por que você está chorando?

- A Agnes... ela está tendo uma crise nesse exato momento, eu preciso levá-la ao médico. Mas você conhece o senhor Park, se eu abandonar aqui, posso ser mandada embora - abri um pouco a porta, podendo ver pelo o reflexo do grande espelho, a mesma garçonete que havia nos servido e a mesma que havia ficado para saber um pouco mais da nossa conversa, era ela que estava chorando, lavando o seu rosto, desesperadamente.

- Se... você me prometer não demorar, eu posso te cobrir e distrair o senhor Park. 

- Sério? Está falando sério?

- Sério, Sana, a sua filha precisa de você, mas por favor, tente não demorar muito, está bem? Eu vou dar o meu máximo aqui. 

- Obrigada, Momo, de verdade, obrigada. 

Vi o momento que elas trocaram um rápido abraço, antes de, Sana, sair correndo porta a fora, ficando sozinha ali. Pude abrir a porta da pequena cabine, sem muita reação rápida sobre o que havia acabado de acontecer, lavando as mãos, talvez um pouco pensativa, ela... realmente parecia um pouco desesperada. Mas aquilo não era da minha conta, claramente não era da minha conta. 

Voltei para a mesa, e logo as atenções e os comentários voltaram para mim, sempre escutando um pouco do mesmo, "você deveria sair com a minha filha, eu tenho certeza que se dariam bem", "você deveria sair com a filha de fulana, ela é linda igual a você", e eu achava verdadeiramente ridículo a forma que o meu pai se animava a cada "oferenda" feita a mim em uma tentativa desesperada em colocar um anel no meu dedo. Eu apenas queria mostrar que eu poderia fazer aquilo sozinha, eu não precisava da porra de uma esposa pra me ajudar com uma empresa a qual eu conhecia antes mesmo de conhecer o meu próprio nome. Eu não me casaria, nem mesmo se fosse de mentira. 

Eu pisquei com aquele ultimo pensamento, podendo me aprofundar um pouco mais nele. E se... eu me casasse de mentira? Isso era um bom plano, seria um bom plano se eu pudesse executá-lo perfeitamente, que raio de regra era aquela na qual eu só poderia ser a herdeira legal caso fosse casada? Meu Deus, nem na idade da pedra as pessoas faziam isso! 

Isso me dava a oportunidade de pegar a primeira mulher que eu visse na rua, mas parecia estranho, muito até que perturbador, eu tinha que me acalmar, era muita coisa para processar, aquilo não daria certo, nunca daria certo, conhecendo os meus pais, eu saberia o processo que isso levaria, eu não poderia pegar uma mulher qualquer, mas ainda assim, não queria perder o meu tempo entrevistando, explicando, porra eu teria que explicar o que estava acontecendo. Não, isso de fato nunca, nunca daria certo. 

Casamento de mentirinha, eu tinha vinte e três anos, eu não tinha tempo pra brincar de casinha. 

- Você conhece a Lea, não conhece? Vocês super combinam, por que não-

- Porque pra falar a verdade, eu já estou saindo com alguém - interrompi a mais uma pergunta, todos se calaram, me olharam, meus pais, me olharam surpresos - Ainda é recente então...

- E você não nos disse? - minha mãe perguntou, verdadeiramente magoada.

- Me desculpe, mamãe, como eu disse é recente então achei melhor não dizer nada, até ter certeza que está dando certo.

- E está? - meu pai indagou.

- Ah sim, sim, está, estamos nos dando bem e curtindo uma a outra - eu menti, na cara dura, sem medo, sem tremer, com um sorriso de orelha a orelha, o mais falso possível.

- Então diga-nos, qual é o nome dela?

- Sana. Ela se chama Sana.

My dear wife - SatzuTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang