21| ESTADO VEGETATIVO

8 0 0
                                    

Estado vegetativo.

Ela ainda se lembrava de ter aprendido isso na escola.

— Acontece quando há uma lesão muito severa no cérebro — dizia sua antiga professora de biologia, Andrea, enquanto apontava para um desenho do órgão na lousa —, fazendo com que todos os estímulos que chegam ao encéfalo não sejam interpretados, deixando o indivíduo preso num estado não consciente, portanto sem reação.

Não estava nesse ponto, é claro. Rebecca sabia disso.

Estava consciente e ainda era capaz de ouvir Oliver e Nina chamando seu nome, preocupados. Era capaz de processar as informações ao seu redor. Tinha consciência de onde estava, do porquê estava ali e do que estava acontecendo. Tinha condições de reagir.

Só não queria.

Então apenas dormia. Chorava e dormia. Presa neste ciclo até que as lágrimas em seu corpo se secassem e ela permanecesse desidratada.

Não sentia fome, não sentia sede, não sentia frio, não sentia nada além do vazio que a falta de Eric lhe causava. Já estava na metade do terceiro dia e ela não tinha notícias dele. Era o maior período de tempo que passavam separados desde que se conheceram e a cada segundo parecia demorar anos até que se completassem. Àquela altura, existia uma grande chance de Eric ter morrido e mesmo que tentasse convencer sua mente — ou o que ainda restava dela — a aceitar que possivelmente nunca mais voltaria a vê-lo, simplesmente não conseguia afastar sua voz interna que dizia, de novo e de novo:

Isaac o forçou demais.

Você devia ter impedido.

Ele já está debaixo da terra, assim como sua mãe.

Você devia ter feito algo.

Eric está morto.

Eric está morto.

Eric está morto.

Quase achou que fosse uma alucinação quando a imagem de Eric surgiu diante de seus olhos, jogado no chão com o rosto colorido de sangue seco e hematomas violetas. Pôde jurar que havia morrido e enfim encontrado a paz quando a voz dele invadiu seus ouvidos:

— Rebecca... minha nossa... o que aconteceu?

Sua voz tocava até o mais profundo dos neurônios no canto mais escuro de sua mente. Ela sentiu-se finalmente tranquila depois de todo aquele tempo.

— Eric... — se viu falando pela primeira vez naquele dia.

— Sim, sim — repetia ele. — Sou eu, estou aqui.

Ela sentiu o toque de sua pele quando ele segurou sua mão. Era quente e macio, da forma como ela se recordava. Ficou contante por não ter se esquecido daquilo.

No segundo seguinte ele a abraçava, envolvendo seu corpo tão fortemente que por um instante quase achou que fosse quebra-la ao meio. Soluçava, ainda de forma suave.

— Ela não come nada desde o almoço de ontem — a voz de Nina então soou no ar. — Oliver e eu tentamos acorda-la mas...

A menina a encarava com um olhar triste e preocupado e Oliver... onde estava Oliver?

Olhou mais uma vez para Eric e se perdeu em seus olhos cor de mel. Tudo ao seu redor parecia uma visão distante, daquelas com uma borda branca ao redor. Será que repassava seus últimos minutos de vida? Lembrava-se de ter lido uma vez que antes de morrer o cérebro permanece em atividade durante um tempo, apresentando as memórias como um rolo de filme que passava diante de seus olhos. Era aquilo o que estava acontecendo?

REDENÇÃO | PARTE 1 |Where stories live. Discover now