REDENÇÃO | PARTE 1 |

11| O NOVO CHIP

Os gritos de Emily ecoavam pelos corredores e Nina lutava contra o impulso de voltar por todo o caminho que percorrera e ajudar a irmã. Seus pés se mantinham em constante movimento, correndo em linha reta pelo imenso corredor acinzentado.

Subia o que parecia ser o terceiro lance de escadas quando ouviu um alto som de alarme soando estridentemente por todo lugar. Estava perdida, sem saber o que estava fazendo, para onde estava indo, mas não podia parar. A esta altura White já devia estar atrás dela e se a capturasse talvez não conseguisse sair desta viva. Não com toda a informação que Emily lhe dera.

Outro chip. Isaac estava criando outro chip. Um chip supremo que proveria a total destruição de qualquer um que tentasse tirar o trono de suas mãos. A simples ideia a fazia arrepiar. Se sem tais poderes ele fora capaz destruir e tomar o controle do mundo, o que ele poderia alcançar com o tal CRUEL?

Ela tinha de avisar seus amigos. Tinha de contar a todos quais eram os planos de Isaac e se certificar de que não deixariam sua ideia se concretizar. Mas ela sequer sabia onde estava.

Mantinha-se correndo, a respiração ofegante e o sentimento de que a qualquer momento as mãos dos guardas se fechariam ao redor de seus ombros e que aquilo seria seu fim.

A iluminação era precária, mas a luz branca vinda das lâmpadas presas no teto ainda permitia que ela enxergasse o caminho. Haviam várias passagens abertas nas paredes que ligavam para outros corredores. O que havia lá Nina não era capaz de saber — e também tinha medo de descobrir. Os sons de seus passos apressados provocavam ecos. As paredes daqueles corredores eram iguais: uma mistura de cinza com branco que projetavam nela a sensação de estar trancada em uma enorme caixa que se fechava a cada passo que dava. Os azulejos do chão eram claros, assim como todo o resto e quando ela menos esperava, mais lances de escadas apareciam a sua frente, os degraus igualmente sem cores.

Ela parou, tomando fôlego o mais rápido que pôde. Havia duas escadarias a sua frente. Um para cima e outro para baixo. Tentou refazer na memória os passos de quando fora trazida para cá, mas toda vez que fechava seus olhos via a irmã presa dentro daquela caixa, sem quaisquer resquícios do caminho que a levara até lá.

Por mais que tentasse, a única coisa que sua mente reproduzia era a imaginação das dores da irmã. De tudo o que Isaac fizera com ela naquele lugar. Dos horrores que ela fora submetida. Via seus braços perfurados e roxos com todos os detalhes e todos os hematomas por todo seu corpo. E os olhos azuis. Aquilo foi o que mais lhe chamou atenção. As írises azuladas e não naturais, cintilantes e intensas, coloridas do mesmo azul cerúleo que vira uma vez em Oliver no Laboratório e no ataque a White no dia anterior.

Não, disse a si mesma. Não pense nisso agora. Continue a correr.

Escolheu a escada que subia, por fim. Não podia ficar ali, parada, esperando. Precisava manter-se em constante movimento. Olhou de relance para a pulseira em seu pulso. Se ao menos conseguisse retirá-la. Se ao menos pudesse usar suas habilidades.

Mas não podia.

Voltar parecia demorar o dobro do tempo que levou na vinda, levando em conta de que ela ao menos sabia se esse era de fato o caminho certo. Agora entendia o porquê eles os vendavam: para que assim não pudessem conhecer o lugar onde estavam sendo mantidos.

Tudo era tão insano. Todo o rumo que sua vida tomou. Parecia que fora há décadas atrás que ela e Emily estavam juntas, vendo filmes no sofá, felizes. Doía pensar que as coisas nunca mais seriam como antes. Que toda a inocência que tinham havia sido roubada por um louco, insano e cego pelas próprias ideias.

As lágrimas escorriam pelo seu rosto enquanto ela continuava a subir mais um lance de escadas. Foi então perceber, já na metade da quantidade de degraus que no final da subida, a luz do dia brilhava através de uma passagem no topo da escadaria. Correu o máximo que pode, olhando para trás enquanto subia, conferindo se haviam guardas atrás dela. Mas estava tudo livre.