Já haviam se passado horas. Rebecca esmurrava a porta de ferro numa tentativa inútil de chamar a atenção do pai. Sabia que ele não a estava ouvindo e que mesmo se estivesse, a estaria ignorando, mas isso não a impedia de gritar por ele até que sua paciência se esgotasse. De uma forma ou de outra, teria de falar com ela.
— EI! ONDE ELE ESTÁ? — esperneava como se não houvesse amanhã.
— Não há sentido nisso, Rebecca! — disse Oliver, já irritado.
Nina e ele estavam sentados na cama de baixo do beliche. O joelho apoiava o braço com os dedos que se perdiam nos cabelos loiros do menino, demonstrando a sua impaciência com ela.
— Vocês dois se merecem — continuou Nina, rindo consigo. — Ele também ficou horas gritando por você.
Ela estava deitada do lado dele com uma das mãos dada. O longo cabelo escuro descia por seus peitos e pela camiseta branca que cobria seu corpo. Era claro que precisava de uma boa lavagem, com bons produtos. Estava ressecado e não tinha brilho algum, mas Rebecca não era ninguém para julgá-la por isso.
Desde que começou a gritar, os dois se puseram naquela posição, observando-a perder a cabeça.
— Então por que não me ajudam? Ao invés de ficarem aí sentados? — perguntou, irritada.
— Porque não funciona! — disseram os dois em coro.
Com isso ela se manteve quieta. Talvez estivessem certos. Ela levou 1 dia inteiro para retornar ao quarto. Quem sabe com ele não seja o mesmo.
Ou quem sabe pior.
— Então o que eu devo fazer? — perguntou para eles estendendo os braços.
Estava trêmula, a respiração completamente fora de controla. Sentia que o chão afundava a cada passo duro que dava no carpete avermelhado. As gostas de suor encaravam a camiseta branca, mesmo com o ar condicionado resfriando o ambiente. Seu corpo parecia em chamas.
— Precisa se acalmar. — respondeu Nina. — Eric não vai morrer, Rebecca.
— Até Isaac conhece seus limites — completou Oliver.
— Vocês não sabem como é — ela retrucou. — Nunca estiveram lá.
— Mas estaremos.
— Até lá precisamos nos controlar — disse o menino loiro, encarando-a.
Nervosa e incomodada, ela virou-se de costas.
Respirou fundo, tentando controlar as batidas descompassadas do coração. Estavam certos. Issac não iria mata-lo, não até descobrir o total potencial do chip que criou.
— Então o que fazemos? Esperamos?
Eles não responderam, mas o gesto de cabeça foi o suficiente para uma confirmação.
Ela caminhou até a cama e praticamente se jogou nela, o barulho das molas estralando conforme o peso de seu corpo era depositado no colchão. A mente ainda pensava em Eric enquanto ela tremia como se tivesse percorrido uma maratona.
Ainda que não fosse morto por Isaac, ela sabia que haviam coisas piores do que a morte. Sabia exatamente do que Isaac era capaz. Era um monstro, frigido e sem alma, que não mediria esforços para tortura-los até conseguir o que queria.
Imediatamente pensou na cirurgia em que fora submetida. Havia arquivado esse fato em sua mente, enterrando-o fundo o suficiente para que pudesse se concentrar em Eric. Não podia pensar nisso agora. Não estava preparada para lidar com o que havia passado.
Ao menos, não naquele momento.
O quarto havia mergulhado no silêncio, de forma que o som do ar condicionado era a única coisa que abafava suas respirações. Mas não o barulho de seu coração descontrolado. Precisava conversar sobre algo, qualquer coisa que tirasse Eric e Isaac de sua mente.
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REDENÇÃO | PARTE 1 |
Science FictionCONTINUAÇÃO DE "CRUEL". Após a grande revelação sobre a identidade do Homem, Rebecca tem de enfrentar uma briga maior do que ela ou os outros imaginavam. Presos, capturados pelo Homem e suas vítimas do chip, eles terão que lutar pela própria sobrevi...