18| A TORRE

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Já haviam se passado horas. Rebecca esmurrava a porta de ferro numa tentativa inútil de chamar a atenção do pai. Sabia que ele não a estava ouvindo e que mesmo se estivesse, a estaria ignorando, mas isso não a impedia de gritar por ele até que sua paciência se esgotasse. De uma forma ou de outra, teria de falar com ela.

— EI! ONDE ELE ESTÁ? — esperneava como se não houvesse amanhã.

— Não há sentido nisso, Rebecca! — disse Oliver, já irritado.

Nina e ele estavam sentados na cama de baixo do beliche. O joelho apoiava o braço com os dedos que se perdiam nos cabelos loiros do menino, demonstrando a sua impaciência com ela.

— Vocês dois se merecem — continuou Nina, rindo consigo. — Ele também ficou horas gritando por você.

Ela estava deitada do lado dele com uma das mãos dada. O longo cabelo escuro descia por seus peitos e pela camiseta branca que cobria seu corpo. Era claro que precisava de uma boa lavagem, com bons produtos. Estava ressecado e não tinha brilho algum, mas Rebecca não era ninguém para julgá-la por isso.

Desde que começou a gritar, os dois se puseram naquela posição, observando-a perder a cabeça.

— Então por que não me ajudam? Ao invés de ficarem aí sentados? — perguntou, irritada.

— Porque não funciona! — disseram os dois em coro.

Com isso ela se manteve quieta. Talvez estivessem certos. Ela levou 1 dia inteiro para retornar ao quarto. Quem sabe com ele não seja o mesmo.

Ou quem sabe pior.

— Então o que eu devo fazer? — perguntou para eles estendendo os braços.

Estava trêmula, a respiração completamente fora de controla. Sentia que o chão afundava a cada passo duro que dava no carpete avermelhado. As gostas de suor encaravam a camiseta branca, mesmo com o ar condicionado resfriando o ambiente. Seu corpo parecia em chamas.

— Precisa se acalmar. — respondeu Nina. — Eric não vai morrer, Rebecca.

— Até Isaac conhece seus limites — completou Oliver.

— Vocês não sabem como é — ela retrucou. — Nunca estiveram lá.

— Mas estaremos.

— Até lá precisamos nos controlar — disse o menino loiro, encarando-a.

Nervosa e incomodada, ela virou-se de costas.

Respirou fundo, tentando controlar as batidas descompassadas do coração. Estavam certos. Issac não iria mata-lo, não até descobrir o total potencial do chip que criou.

— Então o que fazemos? Esperamos?

Eles não responderam, mas o gesto de cabeça foi o suficiente para uma confirmação.

Ela caminhou até a cama e praticamente se jogou nela, o barulho das molas estralando conforme o peso de seu corpo era depositado no colchão. A mente ainda pensava em Eric enquanto ela tremia como se tivesse percorrido uma maratona.

Ainda que não fosse morto por Isaac, ela sabia que haviam coisas piores do que a morte. Sabia exatamente do que Isaac era capaz. Era um monstro, frigido e sem alma, que não mediria esforços para tortura-los até conseguir o que queria.

Imediatamente pensou na cirurgia em que fora submetida. Havia arquivado esse fato em sua mente, enterrando-o fundo o suficiente para que pudesse se concentrar em Eric. Não podia pensar nisso agora. Não estava preparada para lidar com o que havia passado.

Ao menos, não naquele momento.

O quarto havia mergulhado no silêncio, de forma que o som do ar condicionado era a única coisa que abafava suas respirações. Mas não o barulho de seu coração descontrolado. Precisava conversar sobre algo, qualquer coisa que tirasse Eric e Isaac de sua mente.

REDENÇÃO | PARTE 1 |Onde histórias criam vida. Descubra agora