19| REPOUSO

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— Ei, Rebecca. Acorde.

Os dedos de Nina apertavam-se contra a pele da menina de modo repetido e constante. As unhas cutucavam e a arranhavam suavemente, mas nada parecia desperta-la de seu sono.

Não havia muito o que fazer ali, presa naquele quarto. Não haviam lutas. Não haviam discussões. Não havia ninguém além de seus amigos para conversar e, num dado momento, até mesmo o bate-papo havia de ter um fim. As risadas devagar foram desaparecendo e os assuntos interessantes que não envolvessem Isaac, Jordan, morte, sangue, chips ou destruição tornaram-se escassos e por fim, nulos.

Então restou apenas a cama fornecida pelo Homem e os lençóis brancos já manchados com as lágrimas secas.

Já haviam se passado dois dias. Dois dias sem notícias de Eric. 48 horas em que Becca lutava contra a ansiedade e o desespero, que batalhavam para toma-la por inteiro. Não gostava de imaginar o pior, mas conforme os minutos passavam, não havia nada que colaborasse para uma simples cogitação de que ele pudesse estar bem.

Ou vivo.

Então ela se pôs a dormir, incansavelmente, para que pudesse afastar de sua mente as teorias tortuosas e doloridas do que poderia ter acontecido a ele. Só assim era capaz de acalmar os pensamentos.

Neste meio tempo, sonhava com Eric. Com a vida que poderiam ter se não fosse o apocalipse. Teriam sequer se conhecido em uma outra realidade? Teriam se apaixonado? Embora ela não fosse capaz de saber concretamente, acreditava nas respostas que apareciam em seus sonhos.

Em um deles, se conheceram na escola. Em outro, na universidade. Num terceiro, ele morava numa cabana ao lado da sua e eles se conheciam desde crianças, brincando juntos e se apaixonando na adolescência.

— Eu nunca achei que seria capaz de amar alguém dessa forma — dissera ele a ela nesta realidade.

— Rebecca!

Nina a trouxe de volta, acordando-a finalmente.

— O quê? — ela pulou de espanto. — Eric?!

Não era ele.

No quarto estavam presentes somente Oliver e a menina de cabelos morenos.

— Não — ela disse com desapontamento na voz. — Não houve nenhuma notícia dele ainda. Sinto muito.

— Ah... — foi tudo o que Becca conseguiu dizer.

Não havia mais palavras que pudessem descrever o que ela sentia. A angústia, a dor e a ansiedade se misturavam e transmutavam-se em algo novo. Um lugar escuro e profundo, localizado no fundo de sua mente, que multiplicava-se e tomava conta dela a cada instante, escorrendo como a água negra de uma cascata obscura e arrepiante.

Ela procurou palavras para amenizar o clima tenso que instalou-se e quase agradeceu Oliver em voz alta quando ele disse, balançando sacolas de plástico amarradas pelas alças em seus dedos:

— Bem, pelo menos o jantar chegou.

Becca o encarou, franzindo as sobrancelhas.

— Jantar?

— É, jantar — repetiu o menino loiro. — Sabe, aquela refeição que fazemos muitas horas depois do almoço...

Eu sei o que é o jantar significa, Oliver — ela respondeu, ríspida e confusa. — O que aconteceu com o almoço?

Oliver e Nina se encaram por um instante sem ter o que falar, como se houvesse algo secreto entre os dois que ela não pudesse saber.

Foi Nina quem começou a falar, depois do que se pareceram minutos:

REDENÇÃO | PARTE 1 |Where stories live. Discover now