14. Quando tudo permanece no fim

3 1 0
                                    

Após aquele momento apareceram outros internos, mas dona Magna ordenou que todos voltassem para seus quartos. Após isso, eu, ela e minha madrinha subimos até o último andar. Júlio permaneceu na sala. Acredito que ele iria tirar o facão. Ele me olhou enquanto eu subia as escadas e me desejou uma boa sorte e cuidado. Eu respondi um obrigado e subi tensa aquelas escadas que a pouco havia descido desesperada. Olhei para o local que havia me encontrado com a imagem de Júlia e senti um arrepio.

Mg – Tulipa, a quebra de ritual é perigosa e delicada. Seria necessário que você fosse preparada antes, mas infelizmente nós não temos tempo para isso. - Começou a dizer dona Magna enquanto subíamos a escada. - Peço desculpas por isso novamente, eu tenho parcela da culpa do que aconteceu. - Completou.

J - Você precisará ser forte, querida. Não esqueça que você é e não deixe que aquele homem a engane. - Disse madrinha Joana segurando minha mão. - Você é forte e lembre-se: ele é um covarde. - Ela disse apertando minha mão.

Nós entramos no corredor do último andar e fomos até o último quarto. Antes de abrir a porta dona Magna me entregou uma vela de sete dias e a acendeu com um fósforo cheio de marcações.

Mg - Você precisa apagar até a última vela. - Ela me disse enquanto acendia a vela. Quando a chama da vela acendeu percebi que nela também havia marcações de alfabetos e símbolos.

J – Agora é só com você, florzinha. - Disse minha madrinha me abraçando forte. - Cuidado e coragem, sei que você vai conseguir voltar. - Disse ela me olhando nos olhos.

Mg – Fausto fará de tudo para enlouquecer você, mas lembre-se: ele não pode te matar, mas você pode se matar. Então cuidado com as escolhas que fizer lá dentro. - Disse dona Magna firme também me olhando nos olhos. - Eu acredito em você, Tulipa. Volte para cá! - Ela falou segurando meus ombros.

Dona Magna abriu a porta do quarto. Lá dentro tudo estava escuro. Eu entrei. Quando estava totalmente dentro do quarto ela fechou a porta. Até então a única luz no ambiente era a luz que vinha da chama da vela que trazia na mão, mas quando a porta fechou completamente várias outras velas se acenderam no chão formando um caminho que levava até um enorme espelho e na frente desse espelho havia um pedestal com uma outra vela semelhante à minha.

Tp – Apagar todas! - Digo olhando para o espelho que me reflete com a vela. - Vamos lá! - Falo tomando coragem.

As velas estão no chão e para apaga-las preciso me abaixar. Há catorze velas enfileiradas, sete de cada lado. Começo então apagando a primeira da esquerda. Mas no momento que vou soprar a vela aparece na minha frente um homem com o rosto arrancado. Ele sorri e começa a gritar em agonia. Seu rosto é carne viva e eu recuo com medo dele me atacar, mas ele não ultrapassa o limite da vela. Sua imagem é horrível. Ele tem alguns fios de cabelo saindo do couro, mas o resto é só carne e cartilagem. Eu tomo coragem de chegar perto dele e ele me olha nos olhos gritando em agonia. Eu então assopro a vela e chama apaga, com isso a imagem some.

Me viro para a próxima vela, agora a primeira da direita. Será que será assim até a última? Será que meu coração e minha sanidade aguentam. Me abaixo para assoprar a segunda vela, mas quando olho para a frente vejo uma garotinha sem olhos me encarrando, dos seus olhos saem sangue. "Mamãe, você está aí? Meus olhos doem, mamãe, aquele homem os furou" ela fala e eu coloco a minha mão livre sobre a boca segurando um grito. É como se o sangue fossem as lágrimas da garotinha. Eu assopro a vela e coloco a mão no coração. A cada vela que vou apagar surge uma figura pior que a outra. Na terceira é um garoto com o corpo todo retorcido que fala "me tire da vala, aqui é muito frio!", na quarta uma moça toda molhada que vomita água sem parar, na sexta um homem sem parte da cabeça que chora, na sétima uma senhora com o rosto derretido que tenta colocar a pele no lugar. Na oitava uma garota com uma barra de ferro atravessada no pescoço que tenta falar, mas não consegue. Na nona uma senhora que grita em agonia enquanto seu corpo se contorce. Na decima um homem com a carne apodrecendo me encarra triste, eu consegui sentir todo o odor. Fico encarrando a decima primeira durante algum tempo, pois é um garoto com uma corda no pescoço que me olha arrependido. Na decima segunda vejo uma mulher com o rosto todo inchado e hematomas pelo corpo. A figura que me aparece na decima terceira vela é Júlia e eu recuo, ela tem várias fraturas expostas e seu rosto está como na escada, ela me olha suplicante e tentar gritar, mas não sai nada da sua boca, eu corro e assopro a vela o mais rápido possível. A que mais me abalou foi a decima quarta vela. Do outro vi Gilda, mas ela não me olhava, encarava a vela. Seu abdômen sangrava e ela estava de joelhos, haviam fraturas exposta nos seus braços e pernas e seu pescoço estava deslocado. Eu me aproximei e apaguei a vela, mas a olhei durante todo aquele momento esperando que ela me olhasse.

Tulipa: Desabrochar.Where stories live. Discover now