05. Justiça dos homens

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Minhas pernas doíam onde estavam feridas, mas eu não parei de correr. A mata era escura, mas só pensava em fugir. Queria achar o caminho da rodovia ou de casa, mas era impossível em meio ao desespero saber onde estava. Na presa acabei escorregando e tropecei em folhas secas. Cai sobre meu pé e o torci sentindo uma dor insuportável. Parei durante um tempo e encostei em uma árvore ali perto. Sentia meu pé doer muito. Não sabia onde estava. Nicolau poderia ter me levado para outra cidade no seu carro, poderia nem está no Ceará. Comecei a chorar. Havia uma chance enorme dele me encontrar ali no meio da mata e acabar me assassinando ainda assim. Com esse pensamento, eu levantei e senti meu pé doer ainda mais quando me apoiei. Me desequilibrei e bati a nuca na árvore. Senti que minha cabeça sangrou um pouco.

Fiquei um pouco zonza durante um tempo, mas não desmaiei. Tinha que continuar procurando uma saída daquela mata. No entanto, outro medo me surgiu. Júlia também conseguiu escapar, mas morreu atropelada mesmo assim. Eu respirava fundo, mas precisava me acamar e pensar para não ter o mesmo fim. Ela acabou saindo num trecho de rodovia próximo da minha casa, mas Nicolau poderia ter mudado o local já que o outro foi descoberto após o acontecido. Tentei levantar novamente, dessa vez a dor foi maior, mas me apoiei na árvore e respirei fundo com aquela dor insuportável. Quis gritar, mas isso poderia atrair a besta nojenta. Pensei em ir me arrastando com o apoio das árvores, mas algumas estavam distantes demais. Chorei de dor e desesperança. Estava exausta em todos os sentidos e meu corpo doía.

Tp - Alguém me ajuda, por favor. - Eu falei quase em um sussurro. - Por favor, socorro! - Eu falei mais alto aos prantos. Até que escutei um barulho forte ao meu lado de algo caindo. Quando olhei assustada, vi que ela um galho. Senti então uma mão segurar meu ombro e gritei. - Não! - Olhei para quem era e chorei. Um rosto familiar. Era Gilda.

Ela sorria triste.

G – Pega o galho pra se apoiar. A caminhada vai ser longa. - Ela disse apontando o galho.

Tp - Você... - Eu comecei a dizer, mas as palavras se engasgaram com meu choro.

G – Não precisa falar nada. Você já sofreu demais. Agora nós temos que chegar em casa. Tente guardar um pouco da força, vai precisar de tudo que ainda tem. - Ela disse sorrindo gentil, mas via na sua expressão uma tristeza fraterna.

Tp – Desculpa... - Eu falei sem forças e Gilda me olhou gentil. Ela me abraçou e eu pude sentir um calor reconfortante, me senti segura pela primeira vez em muito tempo.

Após isso nós caminhamos por algumas horas. Não sei se o caminho era longo ou eu que estava lenta por conta do meu pé. Sei que fui caminhando atrás de Gilda entre a mata fechada apoiada no galho e as vezes via as meninas me observando entre as árvores. Não sentia medo delas, na verdade, me sentia mais protegida sempre que percebia elas me olhando. Não sei o que fizeram com a besta, mas desejava que a tivessem matado. Pena que no fundo sabia que isso era difícil.

Descansava durante alguns minutos e conversava um pouco com Gilda. Contei para ela sobre a viagem e ela me disse que já sabia dos acontecimentos. O dia foi nascendo e logo o Sol já estava iluminando tudo que conseguia tocar. Só então percebi que minhas pernas estavam ensanguentadas também. Ainda assim não parei. Decidi não descansar mais até chegar em casa.

G – Estamos perto. - Disse Gilda percebendo meu cansaço.

Em poucos minutos realmente chegamos. Na verdade, cheguei em casa pelo quintal. Minha casa era igual a muitas do interior. A parte do quintal era ligada ao quintal dos vizinhos, então no fim era um quintal só que ia até o limite da mata. Cheguei por lá e fui até a porta da cozinha que era conectada com o quintal. A porta estava aberta. Quando entrei encontrei vó Cena sentada numa cadeira olhando para a porta com um olhar triste.

Tulipa: Desabrochar.Where stories live. Discover now