11. Morte

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Com o susto de alguém segurar minha mão e o sussurro, eu me virei para ver quem me tocava. Quando olhei vi que era o homem das outras noites.

F - Você está pronta para acabar com tudo? - Ele me perguntou sínico e desafiador. Senti um desdém no seu tom voz.

T - Só assim conseguirei ter paz. - Disse olhando para ele confiante.

F – Veremos, querida Tulipa. - Ele falou em um tom de desdém e estendeu a mão para mim.

Eu apertei e em um piscar de olhos estávamos no quarto da besta novamente.

O assassino estava dormindo em uma posição semelhante à da noite anterior, mas dessa vez não havia ninguém ao seu lado. O outro da outra noite não estava lá. O homem que veio comigo então foi até seu lado na cama e tirou um pouco mais do lençol. Depois estendeu a mão com o facão para que eu pagasse.

Fiquei olhando para o facão e para a besta ali deitado. Aquele homem merecia morrer, ele merecia sofrer dolorosamente enquanto morria. Mas eu não sei se tinha coragem de fazer isso.

F – Vamos, termine o serviço! - Disse o homem balançando o facão impaciente. - Não temos muito tempo!

Tp – Por que temos pouco tempo? Você parece bastante agoniado. - Perguntei assustada.

F – Ele pode acordar, é melhor terminarmos tudo com ele dormindo. Talvez assim você tenha mais coragem. - Ele disse balançando novamente o facão.

Tp - Não sei se tenho coragem. Isso não é certo, é um o. - Eu disse recuando mais.

F – Crime? É sua legítima defesa. Crime foi o que ele e a família dele fez com você e com todas aquelas garotas inocente. Imagine só, elas não fizeram nada e ele tirou delas os sonhos, a inocência e a vida. De você além disso ele tirou a mãe, o pai e a avó. Além de ter perdido tudo isso, você ainda perdeu parte do seu futuro. Me diga, por que você seria a criminosa? - Ele perguntou já demonstrando irritação.

Eu então lembro de tudo que aquele ser desgraçado me fez. Lembro daquela noite e de como senti nojo dele. Fui caminhando para pegar a lâmina e meus passos pesavam a cada centímetro. A cada passo que dou as lembranças ruins bombardeiam minha mente. É quando pego a lâmina e olho para o rosto daquele ser desprezível. Sinto um arrepio percorrer meu corpo. Olhar para seu rosto novamente me faz recuar de novo, pois um medo me atravessa. Lembro de todos os detalhes horríveis daquela noite, mas também das ameaças dentro da delegacia.

F - Não tenha medo, agora ele vai pagar pelo que fez. - Nesse momento o homem com a parte oposta da palma da mão agride a besta com um tapa. O desgraçado acorda e me olha assustado.

É perceptível ver seu rosto em completo desespero. Sua agonia para mim é um incentivo. Ele tenta gritar, mas não consegue. Ao lhe olhar o ódio cresce dentro de mim até transbordar por meus olhos. Eu caminho até seu lado com o facão na mão. Não sei o que ele vê ao me olhar, mas sei que vê o facão, pois seu desespero aumenta. O abusador tenta se mexer cada vez mais, mas está paralisado.

F – Uma vida por uma vida. Acabe com tudo. - Diz o homem ao meu lado, mas eu não presto atenção nas palavras.

Eu penso em não utilizar a lâmina, mas sufoca-lo até ele morrer estrangulado. Só que não quero toca-lo, tenho nojo de tudo nele. Coloco então a lâmina do facão sobre seu pescoço. O olho antes de cortar. Então escuto uma voz feminina sussurrar novamente no meu ouvido no meu ouvido: "não faça isso, Tulipa."

F – Um corte será sua cura. - Diz o homem ao meu lado me incentivando a matar a besta.

Eu seguro o facão e começo a apertar cada vez mais sobre o pescoço da besta, mas sem pôr força suficiente para mata-lo, mas com isso começa a sangrar um pouco.

Tp - Você deveria sofrer bem mais. - Disse com ódio no coração e nojo nas palavras.

F – Mate! Não temos tanto tempo! - Diz o homem já demonstrando irritação.

Eu então fecho os olhos e me preparo para puxar o deslizar a lâmina do facão sobre o pescoço do abusador. Mas antes de realmente cortar a garganta da besta alguém grita do outro lado da cama.

L – TULIPA! NÃO FAÇA ISSO! - Olho para o local do grito, pois reconhecia aquela voz. - ELE ESTÁ ENGANANDO VOCÊ! - Diz um rosto que não via desperto a muito tempo.

Tp - Lourenço? - Digo surpresa.

Lourenço estava ali do outro lado da cama me olhando preocupado e nervoso. Ele parecia ser totalmente feito de fumaça. Eu me assustei e fiquei em choque ao vê-lo. Nisso percebi também que alguém segurava minha mão que estava com o facão. Quando olhei para o meu lado vi que era Gilda que segurava minha mão impedindo que eu movimentasse o facão.

L - NÃO FAÇA TULIPA, É UMA ARMADILHA SUICIDA! - Gritou Lourenço novamente.

F – O QUE VOCÊ FAZ AQUI? - Gritou o homem que me acompanhava até ali, furioso. - VOLTEI PARA SUA PRISÃO! - Gritou o homem e nesse momento Lourenço se desfez em uma espécie de fumaça.

Antes de sumir Lourenço me fez uma expressão de dor e agonia, um sofrimento que me apertou o peito.

Gilda que segurava minha mão, soltou ela e se virou para o homem. Furiosa ela também gritou.

G – O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO COM MEU FILHO! EU VOU MATAR VOCÊ, FAUSTO! - O grito de Gilda, no entanto, foi poderoso.

Com o grito de Gilda, o quarto todo tremeu. Eu mesmo senti tanta pressão que deixei o facão cair da minha mão e cai também sentada no chão. Coisas voaram do lugar e outras começaram a se lançar deum lado para outro do quarto se quebrando com o impacto na parede ou em objetos aleatórios. Alguns móveis caem no chão. O armário é um desses móveis que cai perto de Fausto, mas ele recua para não ser atingido. Uma estante cai sobre mim, eu tento sai de perto antes de ser atingida, mas não consigo. Com isso, acordo. Mas antes de acordar escuto alguém gritar novamente.

Mg – TULIPA, NÃO! - Abro meus olhos e vejo dona Magna bem perto com uma expressão suplicante e preocupada, não entendo porque.

Percebo então que não consigo respirar e sinto uma dor insuportável no meu coração, essa dor só aumenta mais e mais. Olho para meu peito e me desespero quando dou por mim sentada no chão com os joelhos dobrados. Estou em uma posição que me faz quase sentar sobre os meus pés. Mas o que me desespera não é estar sentada no chão, e nem a falta de ar ou a dor no meu coração que só cresce. O que me desespera é perceber que Júlio está deitado sobre minhas coxas e me olha assustado e suplicante. Eu o seguro pelos cabelos com uma mão e na outra há uma faca que pressiono contra sua garganta. A lâmina já está ensanguentada e isso é a última coisa que reparo antes da minha visão se turvar em vermelho e eu desmaiar. A dor no meu coração e a falta de ar se tornaram mortais.

"Ela está morrendo!" escuto a voz de Dona Magna gritar. "Os batimentos pararam. A respiração também!", ainda consigo escutar. "É um derrame? Uma parada cardíaca? Ela infartou? Não a deixa morrer!" escuto a voz desesperada de Denise já bem distante.

Mas apesar do pedido de Denise, não há o que fazer. Eu estou morta. 

Tulipa: Desabrochar.Where stories live. Discover now