04. Você será a vida!

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Não havia mais clima para que eu continuasse em Fortaleza. Meu padrinho e minha madrinha estavam desnorteados com o coma repentino de Lourenço. Ninguém entendia o que estava acontecendo. Então no dia seguinte aquele acontecimento, eu voltei para casa. Meu padrinho foi me deixar. No caminho conversamos pouco, pois havia um clima tenso durante todo o trajeto. Eu observava a estrada novamente, mas dessa vez já era noite. Não queria ver mais nenhuma cena ruim, já bastava os acontecimentos recentes da minha vida, preferi fechar os olhos e encostar a cabeça no vidro. Não lembro em que momento, mas cochilei. Só acordei com meu padrinho tocando meu ombro me acordando e falando que já estava em casa.

Eu despertei meio enjoada e lenta. Olhei para fora do vidro antes de sair e vi minha família vindo na nossa direção. Meu padrinho deixou o porta-malas aberto e enquanto meu pai me ajudava a tirar as malas do carro ele conversava com vó Cena, ela o abraçou e pareceu a todo momento o consolar. Mamãe estava perto, mas parecia mais contida, não sabia como se comportar naquela situação.

Tm – Pelo menos com essa sua volta mais vai dar tempo de ajudar nos preparativos da festa da igreja amanhã. - Disse meu pai pegando duas malas minhas.

Tp – O senhor diz isso como se fosse algo bom. - falei irritada.

Tm - Você entendeu bem o que eu quis dizer, Tulipa. - Ele falou com tom repreendedor.

Tp – Sim, como se o coma de Lourenço tivesse sido benéfico para aquela igreja idiota. - Eu disse bufando e saindo apressada para meu quarto, pois odiava cada vez mais aquela igreja, tudo que eu era parecia ser atacado naquele espaço. Ao mesmo tempo, os momentos que passei com Lourenço me fizeram me sentir tão confortável comigo mesma que esqueci como era sufocante ser quem era.

Tm – Tulipa, não fale assim! Volte já aqui! - Gritou meu pai furioso pelo que falei. Eu comecei a chorar.

A - Tomás, você as vezes é mais criança que a própria filha! - Escutei minha vó falar enquanto subia os degraus do alpendre. - O amigo de infância da menina entrou em coma, seja mais compreensivo. - Ela disse mais dura.

Eu entrei em casa chorando e só saí do quarto minutos depois para me despedir do padrinho Manoel. Não quis mais sair do quarto, estava triste demais para ser repreendida pelo meu pai. Fiquei deitada e coberta com o lençol. Não senti fome, nem animo de fazer nada, só um vazio, uma tristeza entediante que parecia evaporar qualquer pensamento meu de levantar e fazer algo. Com isso após algumas horas adormeci. Não lembro se sonhei ou não, mas acordei com o som de uma voz feminina que me repetia num tom amistoso a seguinte frase: "estou à espreita, vou te vigiar, serei teu cuidado quando o perigo se aproximar." Com isso acordei e sentir que alguém estava sentado sobre minha cama. Me assustei até perceber que era minha mãe.

M - Você dormiu bem, minha flor? - Ela perguntava com um sorriso gentil. Já era de manhã e ela começou a passar as mãos no meu cabelo.

T – Mais ou menos. - Falei sentando na cama.

M – Como você está, filha? - Ela perguntou com um olhar preocupado.

T - Não sei, mãe. - Disse com um aperto no peito. - Eu sinto como se estivesse no fundo do mar sem fôlego. Mas já estivesse conformada com essa situação. Até alguém me convenceu a ir respirar na superfície. E eu fui lá e respirei. Mas aí, algo agarrou minhas pernas e me levou de volta para o fundo. - Eu disse indo de empolgação para desânimo. - Só que agora eu não consigo mais respirar debaixo d'água. - Falei respirando forte.

M – Eu faria de tudo para você nunca mais precisar voltar ao fundo do mar, filha. Mas infelizmente não sei se tenho algo para ajudar. - Disse minha mãe com um olhar triste. - Seu pai insisti nisso de você ajudar na festa da igreja, mas caso você não queira ir, eu bato meu pé e você não vai. - Ela disse convicta. Eu refleti durante um momento.

Tulipa: Desabrochar.Where stories live. Discover now