00. Prólogo I - Das cinzas ao florescer

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Entrei na casa. Ficava evidente que ali havia acontecido um incêndio, mesmo que já houvesse passados tantos anos. Cada ponto que meu olhar tocava me trazia lindas lembranças nostálgicas lado a lado com memórias traumatizantes.

- É incrível como essas plantinhas cresceram. - Disse Gilda admirada com os matos e trepadeiras que cresciam nas paredes e rachaduras da casa em estado de abandono.

Tudo estava no mesmo lugar daquele dia, como se o tempo tivesse parado para me torturar, não havia mais chamas letais, mas me sentia passando por uma segunda experiência de quase morte naquele momento.

- É como se a vida e a morte estivessem travando uma guerra por essa casa. - Finalizou Gilda alisando as folhas de uma planta que crescia a partir de uma rachadura na parede. A televisão ficava ali, lembro de ter pesadelos durante dias com ela explodindo em meio as chamas que me queimava. Isso nunca aconteceu, mas o que sobrou da TV não estava mais ali, alguém deve ter levado a sucata dela há anos.

- Você é muito dramática, Gil. - Eu disse dando um sorriso em sua direção.

- Pode até ser drama, mas não deixa de ser verdade. - Ela disse apontando para atrás de mim. Uma flor laranja nascia de uma rachadura no chão e era consumida por chamas. Parecia que a flor tinha socado o chão vermelho de cimento queimado para crescer, brotar e florescer e agora o fogo que a consumia demonstrava ter uma gula tão furiosa que transmitia uma sensação de ódio pela própria vida da guerreira flor. "É difícil continuar viva em meio a todo esse chão vermelho, não é linda flor?" pensei comigo mesmo enquanto observava a cena sobrenatural. Não sobraram nem as cinzas.

- Sim, mas talvez vá além dessa dualidade, me parece mais uma dança. - Disse enquanto via uma nova plantinha brotar no lugar onde a flor havia queimado.

- Vocês deram o primeiro beijo ali. Eu lembro bem. - Gil falou tocando meu ombro com um de voz malicioso, eu a olhei e sua expressão também era maliciosa.

- Não foi nosso primeiro beijo aquele. - Disse desviando o rosto um pouco envergonhada, mas deixando Gil com uma expressão de surpresa.

- Realmente, lembrando agora, foi muito excitante para um primeiro beijo. - Ela disse mordendo o lábio.

- Deixa de aumentar que foi só um selinho. - Eu disse batendo no braço dela.

- A flor cresceu de novo. - Ela falou fazendo com o queixo o movimento para a flor.

- Uma linda tulipa. - Eu disse enquanto via uma tulipa laranja já crescida. Uma pétala caiu e no exato momento que tocou o chão a flor começou a pegar fogo. A tulipa imponente ardia em chamas.

- Poético e assustador. - Gil dizia me encarrando e eu engoli seco. - Vamos começar? - Perguntou Gil com firmeza, no seu olhar eu li que não havia mais retorno.

- Vamos! - Aquilo era um sinal. Só não sabia se de aviso, apoio ou ameaça. 

Tulipa: Desabrochar.Where stories live. Discover now