67. Volatile

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As circunstâncias nós tornam tão moldais, podem aflorar um talento, podem sucumbir um dom, nosso ambiente é deliberado e maquiavélico, ele pode te encher de cicatrizes, ele pode te levar aonde você quer chegar, mas quem você é, sua essencial não morre, seu caráter se molda, seus valores mudam, até a perspectiva sobre a vida pode mudar, porém o que você é, o que você realmente nasceu para ser não morre, não sucumbi não delibera, ele fica numa parte que no momento certo irá ser usado, você vai errar por mais sagaz que se ache, vai errar, mas se quiser continuar vai ser com sua correção ao erro que você vai aprender, aprender e recuperar sua essência guardada para aquele momento, não vai ser tão ruim, nunca foi, e quando estiver pronto, quando seu cérebro estiver pronto, seu coração poderá assumir.

KENNA

A cada dia que passava sentia minha paixão por Druig mais forte, era como se todos os problemas que tive até agora valessem apena para finalmente eu estar aqui com ele.
Estávamos sempre juntos curtindo o momento, as pessoas sempre nos olhavam, ou pelo menos me olhavam de um jeito estranho, mas meu mundo estava tão concentrado nele, nunca senti isso, era intenso e poderia durar a vida toda. Hazel não gostava dele, apesar do aval dela sobre nós, ela não mantinha contato como antes, não me procurava mais, estava distante, Tank dizia que ela só estava concentrada para missão, mas sei que Hazel tinha receio de eu desistir, no fundo eu fazia por ela, por tudo que ela me fez, porém gostaria de vez em quando pensar em mim, Druig me fazia pensar em mim e dizia que deveria me colocar como prioridade, e eu também acho.

— Shhhhh faça silêncio, eles não podem nos ouvir - Druig sussurrava em meio a imensidão aquática.

— Será que vamos conseguir mata-los? - Perguntei.

— Claro, assim que pegar o acerte na cabeça uma vez com força e precisão, você sabe, já fez isso antes.

— Na verdade não, eu nunca nem tentei.

— Acho que estou sentindo um.
Druig puxava a linha da vara de pesca, junto vinha um enorme peixe, era um fim de tarde ensolarado, e estávamos no meio do enorme rio abaixo da ponte principal —  Vai Kenna, acerta ele.

Meio sem jeito, mas precisa o apanhei pelo rabo, ele se debatia agressivamente com insistência como se lutasse pela vida mesmo fora de seu mundo.

— Vamos Kenna, se não ele vai pular pra fora.

Com uma facada acertei sua cabeça, a fincando, ele foi parando aos poucos e permaneci ali por algum tempo olhando seus detalhes da escama que brilhavam ao sol, voltei a mim quando senti meu sangue na mão descer sobre aquele peixe, agora morto.

— Kenna você está sangrando, deixa eu ver - Druig passou pelo barco até onde estava na outra ponta e pegou em minhas mãos, onde havia um corte raso, mas que sangrava muito — Acho que o rabo do peixe de cortou.

Com delicadeza passou água sobre o ferimento e enfaixou com parte de sua camisa a rasgando.

— Não precisa, eu tô bem.

— Se ficar sangrando por aí, vai por mim, vai ser pior.

Enquanto ele cuidava de mim, sentia estar no melhor lugar do mundo, era uma sensação de acolhimento e amor inigualável, seus olhos azuis resplandeciam como as escamas daquele peixe, seu cabelo escuro secava ao sol depois de um mergulho mais cedo, eu poderia ficar ali pra sempre, mas já era hora de voltar.

— Sabia que eu nunca tive alguém.

Ele deu uma risada e se ajeitou a minha frente inclinado o rosto, olhando pra minha boca.

— E eu nunca tive alguém como você.

Desviei o olhar, acho que nunca me acostumaria com essas coisas.

Julgamento ao Amanhecer - Zumbie™Where stories live. Discover now