Capítulo 2

12.7K 1K 150
                                    

4hs antes do acidente.

"A vida está sempre trabalhando para o nosso bem, mesmo que de uma forma da qual você pense jamais escapar."

Quando acordei, senti uma vontade irresistível que me fez querer ir ao mesmo instante até à casa real. Era segunda feira e já se fazia uma semana depois da morte do rei, apesar de acompanhar o jornal, nenhuma informação era considerável.

-Você não está atrasada para Universidade, amor? -Perguntou meu pai, batendo em minha porta. Eu estava encostada na porta do meu banheiro enquanto pensava se ia ou não à casa real.

Olhei a hora na projeção do celular. 7h da manhã. Banhei rápido, sem lavar o cabelo, vesti o jeans e uma blusa de manga curta, como era primavera, nem todos os dias eram frios.

-Beijo e até mais tarde. -Disse pondo um pão de queijo na boca e corri. Voltei para pegar o livro e a bolsa que estavam na mesa e saí novamente. O carro estava na rua, como não tínhamos garagem, ele passava a noite estacionado na calçada, não era o mais atual, já estava ultrapassado e fazia um barulho terrível, a pouca pintura que havia por baixo da ferrugem, mostrava que um dia ele fora vermelho.

Quando entrei na UW, os meninos estavam na porta de minha sala. Na verdade, em todas as salas do mundo deve existir meninos que fiquem o tempo todo na porta. É uma espécie de lago do terror para as mulheres.

-Bom dia, Miss Wordsands. -Disse Noah.

-Bom dia. -Respondi sem sorrir e entrei na sala de aula.

As meninas falavam sobre a nova loja que abrirá semana passada. Elas estavam sentadas no fundo da sala, os meninos que já haviam chegado, estavam na porta.

Abri o livro virtual e comecei a folhear, tentando fazer o tempo passar, ou apenas fazer parecer que estava estudando para não ser perturbada.

-Preciso que escolham seus parceiros em menos de cinco minutos, o laboratório não estará disponível o dia todo. -O professor Isaac disse, pondo o resto da turma para dentro.

-Fred? Você vem comigo? -Helô perguntou olhando para o loiro.

-Você mal consegue se conter, não é mesmo, Helô? Oferecida o tempo todo. -Mari observou e disse alto. -Fred? Você pode fazer comigo, sou bem mais inteligente.

-Você é tão oferecida quanto eu, querida! Seu nível de inteligência é compatível com a de uma ervilha. -Helô rebateu. Todos sorriram, elas viviam deixando claro a rixa por causa de Fred.

-Vocês não estão no fundamental! -O professor gritou.

-Perdão! -Elas disseram em uníssono. Todos começaram a sair da sala.

-Se a questão é inteligência. -Fred disse à elas. -Faz a pesquisa comigo? -Ele perguntou se dirigindo à mim, estava com os braços cruzados à frente da tela de projeção. Apenas consenti.

-Vem comigo? -Noah perguntou. Ele estava alegre de mais. Os cabelos castanhos e olhos claros enchiam o seu ego narcisista.

-Já fechei com Fred. -Expliquei, enquanto andava até a porta.

-Com duas opções matantes, você vem chamar a Hamkins, Fred? -Ele encarou Fred, que tirava o jaleco da bolsa.

-Vocês estão na maior Universidade de medicina do mundo, as vezes vocês esquecem esse detalhe e pensam que estão em um reality de namoro. - O professor disse, enquanto presenciava a segunda briga por par em menos de quinze minutos.

-Você começa? -Perguntei a meu parceiro de aula prática.

-Sem problemas! -Ele sorriu. Todos os alunos estavam uniformemente bem vestidos, cabelos presos, jalecos e luvas. O laboratório tinha tudo que precisávamos e ocupava a mesma área de quatro salas juntas. As paredes eram pintadas de branco, as janelas e portas eram de vidro, o que permitia a passagem de luz.

-Por que você está aqui, Fred?

-Aqui agora?

-Não. Na Universidade. -O olhei. -Sua família tem tanto dinheiro. -Dei de ombros e voltei a olhar para o microscópio. Ele não parecia gostar tanto de medicina, apesar de ser muito bom em tudo que fazia.

-Porque tenho planos para o futuro, e para isso preciso dessa formação.

-Que tipo de planos? -Não tive tempo de pensar se seria evasivo perguntar sobre isso.

-É algo simples. -Ele riu e balançou a cabeça. -Não é nada que você esteja pensando agora.

-Conte-me! -Insisti, olhei para seu rosto, que estava fixo na mesa de pesquisa. Ele usava uma blusa cinza, que ficava um pouco apertada por baixo do jaleco e o cabelo era liso espetadinho. Fred deve ter l,80 de altura, loiro de olhos tão azuis que chega hipnotizar, se você é o tipo de garota que não resisti à nada.

-Quero fazer missões humanitárias. -Ele me fitou.

-O que o levou a isso? -Questionei.

-Foi totalmente sem querer. Em um safári que fiz com minha família para África, acabei conhecendo o lado pobre do país e me apeguei à algumas crianças de uma pequena vila. Um dia antes de voltarmos, uma delas morreu de malária.

-E então você decidiu que ia voltar lá algum dia e ajudar?

-Isso ai, senhorita Hamkins! -Ele afagou meu cabelo que estava em um coque alto.

-Mudando de assunto. Você não se importa de ver as meninas cometerem homicídio por sua causa?

-Não, Aliça. -Ele riu. -Mas que pergunta.

-Você é um gay? -Perguntei sem maldade. Só queria saber o motivo por trás de toda essa perseguição.

-Você é uma lésbica? -Ele retrucou. Felipe que estava ao lado, olhava incrédulo para Fred. Provavelmente mais surpreso com a pergunta do que eu.

-Talvez. -Eu disse o olhando. Os olhos de Felipe se arregalaram duas vezes mais.

-Então talvez eu seja. -Ele sorriu. Voltamos ao trabalho com a pesquisa de células e ele me explicou bastante sobre técnicas de reconhecimento. As meninas que acabaram sendo um par na sala laboratório, me olhavam com expressão de peixe morto.

Embora não fosse a coisa mais confortável do mundo, naquele momento eu não dava a mínima para rixas e ciúmes, estava ocupada com o corpo e principalmente com a mente.

Aquela vontade de fazer algo que você sente que tem que fazer. Eu deveria ter ido até à casa real, mas não havia motivos, e provavelmente todos estavam sentindo o mesmo; o que chamamos de solidariedade cristã.

Sobrevivi a todos os horários. E assim que a última sirene tocou, disparei até meu carro. As pessoas ficavam aglomeradas no estacionamento, e isso me deixava chateada, ter que buzinar trinta vezes até poder sair.

-Com pressa, Hamkins? -Perguntou Noah, brotando atrás de mim. Levei um susto, meu celular chegou a cair.

-Até amanhã, Noah. -Disse pegando o aparelho no chão e dando as costas.

Joguei tudo no banco passageiro do carro e segui até o palácio. O transito não era tão ruim, o segredo era pegar a principal até onde desse. As ruinhas pequenas são as mais movimentadas e apertadas.

Havia tanta gente, que precisei deixar o carro na esquina do quarteirão vizinho. Não havia casas ao redor, e nem perto do palácio, então eu podia ver bem, mesmo de longe. Helô chamou-me onde estava, embaixo de uma árvore, junto com as outras meninas e Fred, que também acenou.

O alvoroço de repórteres pareceu ficar bem pior, e os gritos de expectativas ecoavam longe. O portão principal se abriu e um carro saiu à 90 km por hora, sem se importar com quem estava na frente. Fred deu com a mão, avisando que já iam. Corri para atravessar antes do carro. Esperava que ele parasse ou diminuísse a velocidade, mas não. Senti o impacto da frente do carro em meu corpo, e então minha vista apagou.

                         ∞∞∞∞∞∞

ImpérioWhere stories live. Discover now