Capítulo 16

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Pode conter gatilhos ⚠️

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Pode conter gatilhos ⚠️

Passei tantos anos engolindo tudo que Hugo fez comigo, nem mesmo Erick sabe tudo.

Ele sabe que fui abusada, mas não sabe todas as coisas que aconteceram, não sabem quantas vezes e como foram.

Não sabe nem um terço de tudo que aconteceu, nunca contei a ninguém.

E agora estou aqui na frente de uma pessoa desconhecida que está esperando eu derramar sobre ela anos e anos de abusos fossem psicológicos ou sexuais.

- Tudo no seu tempo - diz dando um sorriso simpático.

Bato os dedos na minha coxa e engulo em seco, na sala só é ouvido o som do tic tac no relógio e as respirações profundas que solto.

- Você não precisa falar sobre o que te trouxe aqui, podemos começar com coisas pequenas e ir evoluindo ao longo do tempo - fala e assinto - Que tal começar falando sobre algo que gosta de fazer.

- Eu gosto de trabalhar - falo ela assente com um sorriso - Eu deixo tudo para trás quando estou trabalhando, só foco nele.

- É importante focar em algo, mas nem sempre é bom fingir que os problemas não existem - fala calma - Com o que você trabalha?

- Gerencio o restaurante do meu marido - respondo vendo ela anotar algo.

- E como se sente quando está trabalhando? - questiona.

- Bem - sou vaga na resposta e ela me encara esperando que eu diga mais.

Fecho os olhos respirando fundo e a encaro, uma hora ou outra terei que falar sobre o que me trouxe aqui.

- Eu tinha oito anos quando tudo começou, a minha irmã tinha pouco mais de dois meses, um dia ela ficou doente, estava com bastante febre, então minha mãe decidiu ir levar ela para o hospital, o médico disse que ela ia passar uma semana internada e minha mãe precisou ficar com ela - pego o copo de água que ela me oferece e seguro nas mãos - Meu pai ficou comigo aquele dia, ele não estava falando comigo, mas de repente apareceu no meu quarto e eu fiquei feliz achando que ele só havia ido me dar boa noite e dizer que me amava como fazia outras vezes antes de tudo - deixo meu olhar focado no copo de água e suspiro - Ele me chamou para dormir com ele, eu fui feliz, afinal aquele era nosso primeiro contato em dias, me deitei com ele na cama ganhei um beijo de boa noite e muito mais coisas....

- Que tipo de coisas? - questiona com a voz neutra.

- Aquela noite Hugo me acariciou dizendo que era algo bom para mim, eu deixei, afinal só tinha oito anos e ele era meu pai - falo com a voz embargada - E ele fez realmente ser bom, minha mente dizia que era errado e que estava errado, mas o jeito que ele fazia tudo aquilo deixava meu corpo... Querendo mais... Me deixava querendo mais, até que eu vi o quanto era errado e comecei a resistir, mas já havia feito tudo aquilo, já era culpada por deixar ter tomado uma proporção tão grande.

- O corpo humano é guiado por estímulos Aisha, o seu ter reagido não significa que você gostou, só foi estimulado - diz e se endireita - Você não queria mas o seu corpo sim, em nenhum momento você teve culpa por ter gostado já que o abusador em questão fez isso justamente para confundir sua mente, é isso que eles fazem no início de tudo, usam seu corpo para confundir sua mente e se aproveitarem mais facilmente.

Encaro ela sentindo e tento me manter forte, sua mão aperta meu ombro e suspiro deixando minhas barreiras caírem.

- Você é forte Aisha, não acredite no que sua mente diz - ela fala e assinto, mesmo sabendo que não é assim tão fácil.

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- Aconteceu algo? - Erick questiona preocupado.

- Você pode vir me buscar? Estou sem capacidade para dirigir - falo suspirando.

- Estou com uma consulta de emergência agora amor - fala nervoso - O Aaron sabe dirigir, vou pedir a ele para ir pegar você ok? Não saia daí.

- Ok - desligo a chamada e me entro no carro esperando.

Lembrar boa parte dos abusos que sofri não foi bom, mas sei que é necessário para que eu finalmente fique totalmente livre de tudo aquilo que me fez mal durante anos.

Dou um pulo quando ouço uma batida na janela, vejo o filho de Erick parado do outro lado e suspiro destravando a porta, eu nem mesmo reparei que havia passado muito tempo.

Ele abre a porta e entra sentando no banco do motorista.

- Você está bem? - questiona parecendo preocupado.

- Estou - falo baixo.

- Tem certeza? Meu pai falou que estava passando mal, quer ir ao hospital? - nego vendo ele suspirar - Se quiser eu levo.

- Estou bem - falo e me encolho no banco, ele liga o carro e dá partida para casa.

Fecho os olhos e fico recitando baixinho tentando não deixar minha mente brincar comigo.

- Ei Aisha, chegamos - ele diz calmo tocando meu ombro, assinto e saio do carro.

Caminho até o elevador e vejo Aaron me olhando, suspiro e engulo em seco.

O elevador para na sala e saio, subo para meu quarto, tomo um banho e meus remédios, me deito na cama e deixo eles fazerem efeito.

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A Verdade De Aisha RuskinWhere stories live. Discover now