Capítulo 43

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Fernanda

Assim que visualizei o meu irmão e os meus pais na entrada do hospital corri para abraçá-los. Foi impossível não derramar algumas lágrimas enquanto os atualizava sobre as últimas notícias.
O fato é que a doença de Clara pegou a todos desprevenidos, a nossa família estava abalada, e o que tornava tudo um pouco menos difícil era a nossa união e apoio.

Caminhamos lado a lado para encontrarmos Raul e parei ao ouvir vozes exaltadas do corredor. Os meus pais me olharam apreensivos e dei-lhes um sinal para que juntos com o meu irmão aguardasse, me aproximei fazendo-me ser notada, porém, Raul, Bruno e uma mulher alta e muito bonita não me viram. Ela só poderia ser uma pessoa: Laísa!

A discussão que presenciei deixou-me indignada. Como era possível que aquela mulher deu à luz a uma criança tão especial como Clara?
Acompanhei de perto a discussão ouvindo as palavras horríveis ditas por aquele monstro que nem de longe poderia ser considerada uma mãe.
Raul estava completamente alterado, eu sabia bem o desespero que ele sentia.

— Ela também é sua filha, pörra.

— Não é. — A mulher gritou. — Eu nunca quis ser mãe, eu abri mão dessa menina antes mesmo dela nascer e você sabe disso.

— Ela precisa de um transplante, nós temos maiores chances de compatibilidade. — Raul explicou.

— O que? Você acha mesmo que eu farei um transplante? Você enlouqueceu Raul. Eu sou uma modelo, trabalho com o meu corpo, não posso ter uma cicatriz.

Jesus! Que absurdo. As mãos do meu irmão se apoiaram no meu ombro e acompanhamos, juntos,  horrorizados aquela discussão.

— Eu pago. Pago o que você quiser. Te dou tudo que eu tenho Laísa, você não precisará trabalhar nunca mais.

Raul estava no limite, Bruno no meio dos dois e ela não expressava nenhuma empatia, nada. Caramba, ela era a mãe, tinha carregado Clara em seu ventre.

— Não, não e não. Use o seu dinheiro e compre o que a menina precisa.

Raul a encarou chocado, algo que todos nós estávamos ao ouvir tamanha barbaridade sair da boca de um ser humano tão desprezível. Ela não merecia Clara. Essa mulher tinha que ficar longe de nós.

— Só faça o teste de compatibilidade, Laísa, por favor! Depois nós...

— Eu não vou fazer porcaria de teste nenhum. Eu nem queria estar aqui. Esse seu cão de guarda me tirou de um ensaio importante.

— Ela pode morrer. — Raul afirmou derrotado. E o meu coração sangrou. As mãos de Fernando me apertaram mais forte e fechei os meus olhos derramando mais lágrimas. Definitivamente ali ficava claro que qualquer vínculo sanguíneo era insignificante quando não existe amor.

Clara não nasceu de mim, ela não era minha filha de sangue, no entanto, eu daria a minha vida a ela sem precisar pensar duas vezes. Criamos um vínculo desde o primeiro momento que nos vimos. Pode até parecer pouco tempo, mas nos últimos meses tudo que fizemos juntas nos unia ainda mais. Os filmes, tardes na piscina, passeios ao cinema, o café da manhã especial aos sábados.

O que existia entre nós era maior e mais forte que qualquer tipagem sanguínea, DNA ou compatibilidade genética. O que nos tornava mãe e filha eram os laços de amor que criamos juntas.

— Não me interessa. Eu tenho um documento que comprova que eu abri mão dessa menina, eu não tenho responsabilidade nenhuma por ela.

Laísa saiu batendo os seus saltos pelo piso do hospital e Raul sentou-se na cadeira derrotado, com as mãos escondendo o rosto. Por um tempo todos nós permanecemos em total silêncio tentando digerir o que acabará de acontecer.  Caminhei na direção de Raul e o abracei. Eu não tinha o que fazer,  não sabia o que dizer, apenas o abracei forte.
Bruno sentou do outro lado e também abraçou Raul.
Suas palavras eram exatamente o que eu precisávamos.

— Nós não precisaremos dela, dará tudo certo.

Os meus pais e o meu irmão, assim como Bruno, também fizeram o teste de compatibilidade. Qualquer pessoa poderia ser um doador.
As horas pareciam se arrastar, estávamos todos no quarto de Clara. Ela ficou feliz ao ver os meus pais e o seu tio Nando, apesar de muito debilitada era visível a sua alegria.
O meu irmão a distraiu com vários vídeos que ele fez na fazenda, era tão bonita a forma como eles se davam bem. Assim como a minha família também acolheu Clara com o coração.

Os meus pais decidiram ir até à lanchonete comer alguma coisa com a mãe de Raul, enquanto na minha cabeça eu repassava as palavras de Laísa.

Como ela conseguia ignorar a própria filha daquela maneira? Não ter empatia, não se emocionar com a situação. Uma garotinha de cinco anos, precisando de um transplante para sobreviver e ela simplesmente diz que não se importa.

Se a compatibilidade de Raul não fosse confirmada não sei o que será de nós!

Observando a alegria da minha menina com o meu irmão, as risadas e comentários engraçados que ela fazia sobre os bichos, acabei cochichando na cadeira.

Despertei e estava tudo escuro, Clara dormia na sua cama e só estávamos nós duas no quarto. Espreguicei antes de levantar, ajeitei a coberta sobre ela e fui até o banheiro lavar o rosto e fazer xixi. Nas cadeiras do corredor ao lado de fora encontrei Fernando e Raul conversando, já estava quase amanhecendo. Dei um beijo em cada um e perguntei sobre os meus pais.

— Eles foram para o hotel que reservamos aqui perto. Deixamos as nossas coisas lá assim que chegamos.

— Você descansou, Raul? — Perguntei sentando ao seu lado e segurando a sua mão.

— Consegui cochilar um pouco. — Ele deu um beijo no dorso da minha mão e vimos o Dr. Cláudio se aproximar.

— Vamos até a minha sala, por favor!

Eu, Fernando e Raul seguimos o doutor.

— Bem, eu tenho duas notícias. Uma boa e uma ruim.

Nós três nos entreolhamos e Raul falou

— Primeiro a ruim.

O meu coração parecia querer sair pela boca.

— A ruim é que você não é compatível, Raul.

Me deixei cair sentada na cadeira e vi o meu irmão esfregar as mãos no cabelo.

— E a boa — Dr. Cláudio continuou — É que a Fernanda é.

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Aí, meu coração não aguenta ❤️
Obrigada pelos 2K de leituras!

Laços de Amor (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now