Capítulo 42

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Raul

Voltamos para o hospital renovados. Foi ótimo ter aquele momento com Fernanda, nós precisávamos nos reconectar como casal. Após comer uma comida deliciosa de Rosa, fizemos uma nova mala para Clara, outra para nós e encontramos Bruno fazendo a nossa menina sorrir enquanto lia uma história de mais um dos seus livros.

— Papai, Nanda!!!

— Oi meu amor, como você está sentindo? — Me aproximei da cama e beijei a sua cabecinha. Fernanda fez o mesmo.

— Bem, o padrinho é muito engraçado.

— Ele é sim, filha! — Confirmei e puxei Bruno para um abraço. — Obrigado, irmão.

— Descobri o que você me pediu. — Sussurrou baixinho de forma que só eu ouvi.

— Eu sabia do que vocês estavam precisando. — Ele mexeu as sobrancelhas e Fernanda gargalhou. Clara  também deu risada, porém em seguida começou a ter ânsias de vômito. Ela não chegou a vomitar, mas toda a sua animação se foi. Ficamos com ela, lendo e depois vimos um filme na TV e ela acabou dormindo novamente.

Fernanda preparou o seu banho e pegou um pijama limpo que havíamos trazido de casa. Clara disse querer fazer cocô e Fernanda aproveitou para ajudá-la com o banho.
Alguns minutos depois que elas estavam no banheiro, Fernanda saiu e após fechar a porta observei o desespero nos seus olhos.

— Tem sangue no cocô dela, Raul.

Clara foi examinada e encaminhada para uma nova ultrassonografia, nós já sabíamos o que aquilo significava. Acreditei que esse momento não chegaria e agora que estávamos prestes a confirmar o transplante sentia o meu mundo desmoronar de vez. Existiam tantas questões importantes para o sucesso da operação.

Estávamos aguardando o médico terminar o exame,  Fernanda andava de um lado para o outro, rezando baixinho, mas eu estava ouvindo tudo que ela falava. Era impressionante como ela se sentia responsável por Clara, como assumiu o papel de mãe e estava nos dando toda força que precisávamos.

Eu não conseguiria sem ela.

Clara foi trazida por uma enfermeira de volta ao quarto e o médico nos chamou para a sua sala. Dessa vez Fernanda iria comigo, ela não ficaria fora de mais nada.

— Infelizmente o que queríamos evitar será necessário. Clara precisará passar pelo transplante. O órgão está completamente comprometido, podendo entrar em falência.

Fernanda respirou fundo e demos as nossas mãos.

— Quais os próximos passos, Doutor?

— Primeiro, confirmar a compatibilidade entre órgão doado e a paciente, a maior compatibilidade acontece entre irmãos de mesmo pai e mesma mãe. Nesse caso, há 25% de chance da carga genética ser idêntica. Caso o receptor não tenha irmãos, a melhor opção é buscar por doadores voluntários. Vocês dois, como pais são prováveis de serem compatíveis.

— Eu não sou a mãe dela. — Fernanda respondeu derrotada e a sua tristeza doeu em mim.

— Como? — Dr. Cláudio questionou confuso.

— Fernanda não é a mãe biológica da Clara. — Respondi tentando manter a calma.

— Eu não sabia desse detalhe, me desculpe! Enfim, qualquer parente poderá ser compatível e como eu disse, os pais têm maiores chances.

Peguei o meu celular e enviei uma mensagem para Bruno, para ele trazer, nem que fosse amarrada, Laísa para o hospital.
Por toda a tarde ouvimos todas as informações e recomendações médicas. Clara começaria a ser imediatamente preparada para a  cirurgia e eu faria o teste de compatibilidade.

Fernanda ligou para seus pais e estávamos aguardando a chegada deles a qualquer momento.
Estava sendo ainda pior do que eu imaginei. Precisávamos ainda falar com Clara e explicar o que aconteceria.

Estava aguardando a enfermeira me buscar para realizar a coleta do sangue para o teste. Um turbilhão de pensamentos passava pela minha cabeça. Quando descobri que seria pai, a alegria e toda a confusão que foi a gestação de Clara. A minha filha é uma lutadora desde antes nascer. Teve que ser forte no útero daquela mulher desnaturada. Graças a Deus nasceu forte e saudável, e assim iniciei a maior aventura da minha vida. Ser pai, cuidar de um bebê recém-nascido sozinho. Eu fiz pesquisas, comprei livros, assisti vídeos, tudo para aprender a ser o melhor pai para o meu bebê.

Eu dei o melhor de mim para Clara, fiz tudo que foi possível para garantir a sua felicidade, conforto, para ver a minha menina feliz. Se eu recebesse a oportunidade de voltar atrás e fazer algo diferente eu não mudaria nada.

Tudo o que passamos nos trouxe até aqui. A ligação  que eu tinha com Clara, o amor que nos unia era o meu bem mais valioso. Agora tínhamos Fernanda, que chegou para fortalecer ainda mais a nossa pequena família.

A enfermeira me chamou, e Fernanda segurou forte a minha mão.

— Eu também vou fazer o teste. — Informou confiante e o meu amor por ela aumentou, se é que isso fosse possível. Não caberia tanto amor em mim por ela. As chances de Fernanda eram mínimas comparadas a minha, porém, a sua atitude só mostrava o quanto era generosa e amava a nossa menina.

A minha mãe não poderia ser uma possível doadora por conta de alguns problemas de saúde e a idade avançada. Eu seria compatível, e se por algum motivo isso desse errado, ainda tínhamos chances com Laísa.
Renata, minha irmã, estava mantendo contato conosco por chamadas de vídeos. Já havia percebido que Fernanda não gostava muito dela o que era compreensível, já que a minha irmã era muito distante e parecia não se importar.

— Que dia longo! — Fernanda comentou sentando-se ao meu lado. O movimento no hospital era tranquilo, principalmente na ala em que estávamos. Como a nossa presença ali foi intensa nos últimos dias, fizemos amizade com todas as enfermeiras, médicos e funcionários. Alguém sempre aparecia com um café ou chá, e Clara era extremamente mimada e bem cuidada pela equipe médica.

Graças ao dinheiro eu tinha condições de proporcionar o melhor tratamento com os melhores especialistas do país para a minha filha. No entanto, nada disso era suficiente. Uma doença desconhecida, sem um tratamento específico, nessa horas víamos  que o dinheiro não valia nada sem a saúde. Por se tratar de uma doença ainda desconhecida, Clara estava sendo monitorada 24 horas e eu já tinha me disponibilizado em patroniciar pesquisas na busca por conhecimento e tratamento da Hepatite Misteriosa.

— Ele terminará com boas notícias, estou confiante.

— Eu também, tenho certeza que em breve esse pesadelo vai acabar. — Fernanda deitou a cabeça no meu ombro e ficamos um pouquinho em silêncio, até que o seu celular tocou.

— Os meus pais e Fernando chegaram. Vou sair para encontrá-los lá fora.

Fernanda me deu um beijo e saiu, aproveitei para dar uma olhada em Clara que estava dormindo. Ela passava a maior parte do tempo sonolenta.

Sai do quarto sem fazer barulho para aguardar a meus sogros e cunhado no corredor, quando me virei, encontrei alguém que preferia nunca mais ver na minha frente. Infelizmente a situação me obrigava.

— Laísa.

— Será que você pode me explicar que palhaçada é essa Raul? — Explodiu, falando alto no corredor com Bruno no seu encalço.

Laços de Amor (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now