Capítulo 29

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Fernanda

Eu estava tentando controlar o tremor das minhas mãos enquanto via as fotos que aquela maldita fez de mim. Como ela conseguiu aquilo? Havia fotos minhas no corredor do meu apartamento, como ela teve acesso ao prédio? Eram muitas fotos das poucas vezes que estivesse lá na última semana.

Sinceramente aquilo tudo não me importava, eu não estava nem aí se ela quis envenenar Raul contra mim, fazer ele pensar que eu tinha outro pagando meu aluguel. Eu não tinha nada pra esconder, não estava enganando ninguém e muito menos tinha intenção de dar uma golpe como ela me acusou.

Ela ter tocado em Clara com força, tirado a mão da menina bruscamente de mim me tirou do sério. Eu não tinha intenção de discutir com ela, depois eu falaria com Raul com calma, mas quando ela se aproximou, totalmente descontrolada e fez aquilo com Clara, eu não enxerguei mais nada.

Eu juro que eu poderia matá-la com as minhas próprias mãos. Ouvir o choro desesperado da minha menina partiu meu coração. Não consegui me controlar e apertei o pescoço daquela louca com satisfação. Eu lidei a minha vida toda com animais na fazenda, aprendi ajudando meu irmão a derrubar bezerro, curar vaca, cavalo. Eu tinha muita força nos bravos e se Raul não tivesse interrompido eu não tenho dúvidas que apertaria aquele maldito pescoço até o fim.

Ela poderia ter machucado a Clara, e só pensar nessa possibilidade minhas mãos voltam a tremer ainda mais.
Assim que Raul a arrastou para fora eu queria ter corrido para sua filha, mas me forcei a aguardar na sala. Nós precisávamos conversar e esclarecer o que havia acontecido.
Que situação mais ridícula. Uma pessoa agora precisa andar com uma placa pendurada no pescoço escrito o quanto de dinheiro ela possui.

Só me restava esperar e ver se ele me ouviria ou se acreditaria no que aquela maluca disse.
Me lembrei do Bruno, dizendo que eles pensavam que eu era de uma família humilde, talvez Raul realmente acreditasse agora que eu estava mentindo.

Senti sua presença assim que ele entrou na sala. Eu queria chorar, gritar e bater em alguma coisa. Não pelo motivo do escândalo que Tatiana causou, mas pelo sentimento de proteção que me fez voar pra cima dela. Estava assustada com a minha atitude. Eu sabia que seria capaz de fazer qualquer coisa pela minha família e tinha total consciência do amor que sentia por Clara. Contudo eu nunca precisei defender nenhum deles. Meu irmão era quem me defendia, e ter Clara correndo qualquer risco na presença daquela mulher me deixou fora de mim.

Eu estava com um bolo na minha garganta e comecei a falar com dificuldade. Não queria chorar naquele momento.

— Bruno me procurou há alguns dias. — Falei baixinho e coloquei as fotos no sofá ao meu lado.

— Ele disse que você estava levando a sério o nosso relacionamento e por isso, para evitar que você sofresse como foi com a Laisa, ele estava me investigando. Parou quando descobriu onde eu morava.

Raul se aproximou e sentou-se ao meu lado eu estava olhando para minhas mãos e lembrando que quase estrangulei uma pessoa.

— Essa conversa é muito estranha, não sei o porquê eu preciso dar explicações da minha  situação financeira. Eu não tenho interesse nenhum no seu dinheiro, Raul. — Encarei seu rosto e parei meu olhar nos seus olhos. Ele estava atento me ouvindo e sua expressão era neutra. Não sabia o que esperar.

— Não faço ideia do seu patrimônio, mas posso te garantir que tem grandes chances da minha família ser tão rica quando você.

As minhas mãos continuavam tremendo muito e não saía da minha cabeça o quanto fui violenta. O que meus pais diriam sobre minha atitude?

— Me desculpe pelo o que eu fiz. Eu acho que sufocaria ela até o fim se não tivesse ouvido sua voz e sentido seu toque. Eu... Sinto muito. 

Suas mãos me puxaram para seu colo e me deixei ser levada. Libertei toda a angústia que estava me sufocando e chorei. Chorei sentida, soluçando e tentando acalmar o tremor no meu corpo todo. Enquanto ele me acariciava.

— Está tudo bem amor, fica calma.

— Ela poderia ter machucado a Clara, eu fiquei cega.

Raul me afastou e segurou meu rosto com suas mãos.

— Eu não duvidei de você em nenhum minuto, mas fiquei curioso para entender essa história. O Bruno não me disse nada, quando conversamos sobre você, ele me falou que iria te investigar e eu deixei claro que só queria saber de algo se você fosse uma psicopata.

— Ele disse que ia me deixar te contar, não iria se intrometer. — Contei.

— Não entendo por que essa questão do dinheiro é tão importante. Cedo ou tarde você conheceria minha casa, minha família. Você veria com seus próprios olhos que eu não estou aqui trabalhando porque preciso do emprego.

— E por que você veio para o Rio?

Contei a ele tudo, desde o início. Como foi chegar até ali, como aconteceu o emprego através da agência.

— Depois que conheci vocês foi impossível simplesmente ir embora.

Ele sorrio e me senti um pouco mais relaxada. Obviamente que Tatiana não sabe nada sobre a minha família, deve ter me seguido querendo descobri algo que me comprometesse e acabou deduzindo que eu era uma pobre babá dando um golpe em alguém com muita grana.
Bem que meu pai sempre diz que o dinheiro é o mal do mundo.

— Você pode relaxar agora, Nanda. Ainda está tremendo muito. Já passou, ela não conseguiu o que queria e tenho certeza que a Clara está bem.

— Eu fiquei assustada com a minha reação. Mas não estou arrependida. Não estava brincando, se ela machucasse a Clara, eu arrancaria suas  mãos.

Fomos para o quarto e Clara estava dormindo. Raul a pegou e fomos para o quarto dele. Deitamos os três, do jeito que ela mais gostava. Ficava no meio de nós dois bem expremidinha. Ela acordou resmungando e quando nos viu abriu o sorriso mais lindo do mundo. Era bom demais ser criança.

— Te amo papai.

— Também te amo filha.

Ela virou para o meu lado e fez um carinho no meu rosto. Não conseguia explicar essas atitudes de carinho que ela tinha comigo. Era tão pequena e tão amorosa.

— Amo você Nanda.

Minha voz embargou e me segurei para não chorar na frente dela.

— Amo você, princesa

Foi a primeira vez que ela disse que me amava. E como se soubesse do que eu precisava se aconchegou bem agarrada a mim. Cheirei seu cabelinho e fui inundada por uma paz bem-vinda naquele momento.

Raul estava nos olhando e depois de um dia tão gostoso e de ter passado por aquele momento horrível, fui agraciada duas vezes quando ouvi da boca do homem que eu amava, também pela primeira vez, que sentia o mesmo por mim.

— Eu te amo Fernanda.

Laços de Amor (CONCLUÍDA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora