Capítulo 37

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Fernanda

Depois de uma noite deliciosa, onde dançamos, comemos, bebemos e nos divertimos muito, a hora que eu mais temi havia chegado. Com as nossas bagagens prontas, uma Clara chateada e eu completamente perdida num misto confuso de sentimentos, nos despedimos de todos. Os meus pais e o meu irmão iriam nos acompanhar até o aeroporto. Clara estava manhosa, fazendo birra por qualquer coisa e eu entendia as suas atitudes.

O tempo foi curto e as horas passaram tão rápido enquanto estivemos ali. Eu queria ter feito um piquenique no lago, um passeio na cachoeira e não deu tempo. Na noite de sábado ficamos acordados até o amanhecer na festa, com isso, domingo foi um dia preguiçoso e não tivemos ânimo de nada, além de comer e descansar. O nosso voo de volta para o Rio estava marcado para o fim do dia, e assim que Clara percebeu que voltaríamos para casa começou a ficar enjoada e reclamar de tudo.

O clima de despedida estava triste, era nítido como não queríamos nos afastar, até Raul estava melancólico. Após longos abraços e muito carinho, embarcamos. O voo, como o fim de semana, foi rápido e assim que chegamos em casa fui organizar as nossas coisas. Coloquei as roupas sujas para lavar enquanto Raul ajudava Clara com o banho. Como estávamos sozinhos, preparei uns sanduíches. Já havíamos comido demais na fazenda. Clara comeu e logo dormiu. Tomei um banho enquanto Raul fazia alguma coisa de trabalho e assim que terminei, me aninhei debaixo das cobertas.

Eu precisava decidir o que fazer da minha vida. Profissionalmente eu não tinha nenhum plano e pensar sobre isso, me fez entender que ali, definitivamente eu não tinha opções. Tudo que eu queria era seguir cuidando da fazenda ao lado do meu irmão. Era o que eu sabia fazer, cresci naquelas terras e conhecia cada canto como a palma da minha mão. Eu estava confusa. Sempre soube que a minha vida seria no campo, mesmo quando tudo que eu mais queria era vir para cá. Então porquê que agora que eu estava aqui, eu queria tanto voltar?

Na fazenda eu queria vir para o Rio, aqui eu queria voltar para casa. Sorri ao pensar que o meu irmão esteve certo o tempo todo, quando dizia ser bobeira de adolescente. Que o meu lugar era lá, na nossa casa, que quando eu viesse e visse de perto o quanto a vida aqui era diferente eu voltaria correndo. E eu só não voltei porque conheci Raul e Clara. Mais uma vez eu tenho certeza que foi por eles que eu vim.

Por que eu me candidatei a uma vaga de emprego? Porque eu tinha que conhecê-los. Depois que cheguei a casa de Raul tudo que eu fiz foi me dedicar a Clara. Eu nunca precisaria trabalhar ou de qualquer motivo para continuar aqui. O destino fez tudo para que eu chegasse a eles, para que nós nos encontrássemos.

Eu não vim até aqui em vão, e a nossa história estava apenas começando. Olhei para a aliança no meu dedo e todas as dúvidas que estavam me atormentando deram espaço para uma felicidade imensa. Nós nos amávamos, Raul e eu queríamos ficar juntos e seríamos muito felizes. Eu poderia até ser mais nova e não ter experiência de vida comparada a ele, mas eu tinha certeza do que queria. Para que outras experiências se eu poderia viver uma vida inteira de amor e felicidade?

Eu não queria experimentar coisas diferentes, ter outras experiências. Eu queria estar exatamente onde eu estava. Construir a nossa família juntos, cuidar da Clara e ter mais filhos.

Senti o corpo de Raul se encaixando em mim e me virei ficando de frente.

— Você está tão pensativa que não me viu entrar, tomar banho e me deitar aqui. Quer compartilhar o que passa nessa cabecinha?

— Muitas coisas. Como o que eu posso fazer da vida, profissionalmente falando. Sendo sincera não vejo fazendo outra coisa que não esteja ligado a fazenda, então...

— Você pensa em voltar para lá?

— Não Raul.

— Não quero dizer que você irá nos deixar, mas talvez revezar entre a fazenda e aqui.

— Isso não seria bom para Clara. — Respondi.

— Mas e quanto a você, a sua vontade? — Eu entendia o que ele queria dizer. Raul era inseguro em relação a mim. E eu queria que ele tivesse a mesma certeza que eu tinha.

— O meu lugar é onde vocês estão. Você precisa confiar em mim, no que eu sinto por vocês — Respirei fundo — Eu acredito que poucas pessoas têm a sorte de encontrar o seu lugar tão jovem como eu encontrei o meu. Não é porque eu tenho dezenove anos que a qualquer momento eu vou pegar as minhas coisas e deixar vocês. Você tem que acreditar em mim e parar de pensar nessas coisas.

— Eu acredito em você, e esse fim de semana me mostrou o quanto nós vivemos em realidades diferentes. A vida de vocês na fazenda, Nanda, é maravilhosa, e sendo sincero eu gostaria muito que a Clara vivesse naquele ambiente. O meu trabalho é aqui, mas isso não impede que juntos nós possamos encontrar uma maneira de passarmos mais tempo lá. Talvez revezar, já que o seu trabalho certamente será lá. Tem a escola da Clara, mas isso também é algo que podemos resolver. Não sei... São tantas possibilidades. A única coisa que eu tenho certeza é que não vou abrir de você.

— É exatamente isso que importa. — Falei beijando seus lábios, aliviada após ouvi-lo. Cada palavra que ele disse, considerando a fazenda como um lugar para vivermos, criar a Clara, era tudo que eu precisava ouvir. — Juntos nós encontraremos uma solução para qualquer problema.

— Eu amo você, Nanda! De longe você foi a melhor babá que eu já contratei.

— O quê? — Perguntei encenando um ataque de raiva. Afastei-me dos seus braços, sai das cobertas e sentei-me na cama, me fazendo de indignada com a sua brincadeira. Montei no seu colo e o ataquei com cócegas exigindo que retirasse as suas palavras.

Não demorou nada para que Raul . as nossas posições e gargalhei com os seus dedos nas minhas costelas.

— Retire o que você disse Raul e para de fazer cosquinhas em mim! — Gargalhei sentindo dores na barriga de tanto rir e tentando escapar.

— Você é a minha babá preferida, Fernanda. Para de se debater como uma doida.

— Eu não sou doida. Eu vou te matar, ME SOLTA!

A minha fúria passou rapidinho quando ele mudou o seu ataque para beijos.

Independente do lugar ou do trabalho, no fim do dia, tudo que importa é se eu estivesse com eles.

Acordei animada e preparei uma bela mesa de café da manhã. É claro que isso só foi possível, pois trouxe muita coisa gostosa da fazenda. O cheiro de café coado tinha tomado conta da cozinha e sorri quando dois braços fortes me prenderam por trás.

— Que cheiro maravilhoso! Ainda estamos na fazenda?

Ri da sua gracinha e me virei lhe dando um beijo de bom dia.

— Eu trouxe o aroma da fazenda para a cidade grande.

Levei o café para a mesa e observei Clara descer a escada toda sorridente.

— Bom dia, princesa!

— Bom dia, Nanda. Sabe o que eu lembrei? — Foi uma pergunta retórica, pois ela não me deixou responder e continuou a falar. — O pintinho que o tio Nando me deu, nós o esquecemos na fazenda. Sabe o que isso significa?

Troquei um olhar divertido com Raul e esperamos a conclusão da sua história.

— Teremos que voltar para buscá-lo. Não é mesmo papai?

Rimos da sua esperteza, pelo visto tínhamos um motivo muito importante para voltarmos a fazenda.

— Com certeza, filha! Nós voltaremos para visitá-lo. Que tal?!

— Mas ele é meu. — Respondeu desanimada.

— Sim, mas lá é a casa dele. Pensa como o pintinho ficará triste longe da sua mãe galinha, e dos irmãozinhos pintinhos?

— Poderemos visitá-lo sempre? — Ela era muito esperta.

— Sempre que você quiser. — Raul respondeu se fingindo de bonzinho. Safado!

— Oba!!! — Clara respondeu animada.

Pelo visto faríamos muitas viagens para "visitar o pintinho".

Laços de Amor (CONCLUÍDA)Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin