Já na sala do pediatra, que era um dos melhores do Rio, e cuidava dela desde que nasceu, respondi todas as suas perguntas, explicando como Clara estava nos últimos dias.

— Desde a última semana ela reclamou de dor na barriga, teve diarreia, ficou sem apetite e um pouco enjoada. Nós pensamos ser porque tinha exagerado no chocolate, e hoje ela amanheceu vomitando muito.

— Certo, primeiro faremos alguns exames e com os resultados em mãos veremos o que tem causado esses sintomas.

— O senhor pensa em algum diagnóstico? — Perguntei ansiosa.

— Por enquanto acho melhor não levantar nenhuma suspeita, pode ser apenas uma virose.

Raul e eu acompanhamos a nossa menina até o laboratório da própria clínica e admirei a coragem de Clara para tirar sangue. Ela fechou os olhos, segurou na mão de Raul e não reclamou de nada. A quantidade de frascos assustou-me, eu estava quase tendo um treco de tanta tensão.

— Solicitei urgência nos resultados, assim que saírem a minha secretária entrará em contato com vocês. Por ora, mantenham Clara hidrata e com uma alimentação leve e saudável. É importante também ela manter as mãos bem lavadas e limpas.

Saímos do consultório e a minha cabeça estava a mil. Precisava falar com a minha mãe, a calma do Raul estava me irritando. Chegamos em casa e levei Clara imediatamente para lavar as mãos, expliquei que foi uma recomendação do médico e que ela deveria evitar colocar a mão suja na boca.
Assim que terminamos ela foi para a sala de TV e eu para cozinha. Ela ainda não tinha comido nada.
Rosa já tinha chegado e enquanto preparava uma salada de frutas lhe contei o que aconteceu e o que o médico recomendou.

Enquanto Clara comia liguei para minha mãe e
lhe contei tudo, ela tinha experiência e se houvesse alguma suspeita ela saberia. Mães sempre sabem de tudo.

— Filha, fique tranquila, crianças ficam doentes mesmo. E a recomendação do médico é para evitar uma possível infecção. Como ele disse será apenas uma virose.

— Não sei mãe, tô com uma sensação ruim. — Me afastei da sala para que Clara não me ouvisse. — Não sei explicar, mas tem alguma coisa errada, mãe. — Não consegui evitar as lágrimas e chorei com a minha mãe no telefone.

— Vamos rezar, filha. Você vai ver quando os resultados saírem não será nada grave. Você só está assustada, pois, nunca passou por isso antes. Vai ficar tudo bem, tenha fé.

Finalizei a ligação e voltei para a sala ficando grudadinha na minha menina. Raul foi para o escritório resolver algumas pendências, mas voltaria para o almoço.

Estava sendo uma verdadeira batalha fazer Clara comer, ela ainda reclamava de dor na barriga e vomitou mais duas vezes. Eu passava a noite acordada vigiando o seu sono e graças a Deus ela dormiu tranquila. Eu estava uma pilha de nervos e não aguentava mais esperar o resultado dos exames. Rosa e eu preparamos um café da manhã leve e saudável, sem bolos e todas as quitandas que Clara gostava.

Estávamos sentados à mesa quando o interfone tocou e Rosa informou ser Bruno.

— Nossa, ele está tão sumido. — Comentei.

Não demorou para o melhor amigo de Raul passar pela porta. Ele era um gato e parecia estar mais forte do que a última vez que nos vimos.

— Quem é vivo sempre aparece. — Raul brincou e nos abraçamos. Clara não demonstrou a mesma alegria de sempre ao ver o padrinho e lhe explicamos que ela não estava muito bem nos últimos dias. Após querer  saber todos os detalhes do que estava acontecendo foi a vez de Bruno nos contar o motivo do seu sumiço.

— Uma irmã? — Raul perguntou chocado. Eu não sabia muitos detalhes da vida de Bruno, então só observei a conversa dos dois.

— Pois é, resumindo: Os meus pais separaram-se numa época, quando eu tinha uns treze anos, epe teve um rolo com uma mulher que engravidou e desapareceu. Por conta de um caso que ele está trabalhando, acabou reencontrando essa mulher e descobrimos sobre a garota. Ela tem a idade da Nanda, já fizeram o teste de DNA sendo comprovada a paternidade. Você precisa conhecê-la, Raul. Ela é linda, se parece muito comigo e se chama Marina.

— É impossível ela ser linda e se parecer com você. — Raul brincou e rimos.

— Fico feliz que tenha dado tudo certo no final. — Comentei. — É incrível ter um irmão, é como se você tivesse um pedaço seu fora do seu corpo, é um amor enorme.

— Você tem razão, Nanda. É impressionante como eu a amo, é como se nós nos conhecêssemos a vida toda.

— Eu tenho uma irmã, porém não sirvo de exemplo. Nós somos distantes, nem de longe temos a relação que a Fernanda tem com o irmão dela. — Raul explicou e realmente era muito estranha a relação dele com a irmã. Eu nunca vi os dois se falarem, ela não havia ligado nenhuma vez para Clara desde que cheguei aqui.

Bruno continuou nos contando como tudo aconteceu desde que o seu pai descobriu sobre a filha. Ele estava radiante e muito orgulhoso nos contando tudo sobre a sua nova irmã. Eu gostaria de conhecê-la. Quem sabe não seriamos amigas.

Já estávamos nos preparando para o almoço quando o telefone tocou. Saí correndo para atender e as minhas expectativas foram atendidas quando a secretária da clínica médica disse que os exames estavam prontos e o médico solicitou a nossa presença com urgência.

Aquela sensação ruim que não me abandonou nos últimos dias estava mais forte. Fechei os meus olhos e fiz uma oração. Que minha intuição estivesse errada. Ela tinha que estar.

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Quem leu o livro "Marina" entendeu a referência sobre a irmã do Bruno. Espero que tenham gostado dessa "coincidência" ❤️

Laços de Amor (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora