Eu voltei, depois de dez mil anos. 🔮
Não Contém Personagem Intersexual
O dia estava abafado. Haviam amigos, familiares e desconhecidos acompanhando animados a série de lutas que acontecia na quadra da escola.
Vi mamá chegar com Sofia, ela estava aparentemente nervosa, nós havíamos feito uma aposta mas nunca me passou pela cabeça que ela aceitaria aquela loucura.
Mordi meu lábio e puxei o celular iniciando a gravação para mostrá-la mais tarde enquanto me aproximava da garota que agora usava um kimono branco.
- E aí cara?
Perguntei tentando deixá-la menos nervosa.
- Daqui a pouco você vai lutar, hein?!
- Será, Kaki?
Ela perguntou com os olhos curiosos apreensivos.
Eu forcei um sorriso confirmando e ela apontou os dois dedos nos próprios olhos e os apontou em minha direção.
O que acontecia era o seguinte..
Sofia tinha 10 anos mas com o tamanho de uma criança de 6. Durante meses mamá a levou em vários pediatras para saber o motivo da minha irmã não crescer e após muitos exames foi constatado que... Nada, ela não tinha absolutamente nada. Sofia simplesmente era uma criança de estatura pequena.
Alguns meses atrás, nós recebemos a pequena em casa com os olhos cheios d'água depois da aula de jiu-jitsu. Após muitos minutos ela explicou que alguns colegas falaram sobre um torneio que aconteceria e que ela não havia sido inscrita para participar por ser considerada pequena demais.
Mamá foi atrás do professor no mesmo dia, ele informou que por questão de segurança não havia feito a inscrição para a participação de Sofia pelo seu tamanho, e como tinha certeza que mamá concordaria, não viu necessidade de informá-la sobre sua decisão.
O que obviamente deixou dona Sinuh irritadíssma.
Mamá a mudou de escola e diferente do que pensávamos ela se adaptou muito bem a escola de jiu-jitsu nova.
Durante os dias eu havia feito a mesma pergunta garantindo que ela sabia no que estava se metendo.
"Sofi, você tem certeza que quer participar do torneio?" e a resposta era sempre a mesma "Eu tenho sim, kaki. Se quiser podemos apostar."
E cá estávamos nós, aguardando sua vez de participar.
Eu permaneci atrás do tatame enquanto mamá e Vinícius, o professor atual de Sofia permaneciam do outro lado, vendo toda a ação de frente.
- É amigoides, a vida do jiujiteiro já começa difícil desde a infância.
Falei vendo Sofia e a outra garota que iria participar se posicionar ao seu lado, ambas de costas para mim e de frente para todo o público que as olhava de forma curiosa.
- Pequena Taylor... - Falei irônica pela enorme diferença de tamanho, após ler o nome no kimono branco, - Contra a grande Sofia...
- É como se fosse um encontro de um edifício de 6 andares contra uma casinha de sapê. - Divaguei fazendo uma careta. - Se ela ganhar, Vinícius infarta de vez.
Falei dando zoom na câmera e focando totalmente no grandalhão que sentava nervoso na pequena cadeira de plástico e pude ver de relance mamá roendo as unhas nervosa.
