Epílogo

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SARAH

Uma vez, eu fiz um pedido a uma estrela cadente: eu queria que a minha paixão fosse correspondida. A resposta veio no dia seguinte.

Aos quinze anos de idade, eu me vi apaixonada por minha amiga. A dona do belo par de olhos verdes, cabelos negros que desciam até a cintura, nariz empinado e boca rosada. Recordo de termos sentado no chão do meu quarto, uma de frente para outra, numa noite de verão e, com o coração acelerado, contarmos nossos segredos mais íntimos. Eu tinha certeza de que ela iria dizer que também sentia o mesmo por mim, mas quando Brenda confessou sua paixão por outra pessoa, eu menti dizendo que estava interessada em Luke, seu irmão. Essa mentira quase custou nossa amizade, quando neguei o pedido de namoro dele.

E se o interesse de Brenda fosse por qualquer outra pessoa, talvez eu tentasse ficar com ela e a minha vida amorosa tomaria um rumo diferente, mas ela se apaixonou por minha outra melhor amiga: Casey Riley! E como não se apaixonar por Casey? Corpo escultural, inteligente, amorosa e um charme de dar inveja. Então, fiquei ali parada, frente a uma Brenda eufórica, perguntando se eu a ajudaria a conquistar Casey. É claro que eu ajudaria! Poucos dias depois, eu questionei Casey e ela também confessou seus sentimentos por Brenda.

Naquela noite, depois que Brenda fez a sua confissão e saiu de minha casa, eu fui para o jardim, ajoelhei e fiz um juramento: de que eu nunca contaria sobre a minha paixão platônica para ninguém. Depois, levantei, olhei para o céu e amaldiçoei todas as constelações. Foi quando eu comecei a odiar tudo o que era clichê.

Construí a minha caixinha interna para trancafiar as coisas ruins, coloquei uma armadura no peito e ergui um muro que ia até aos céus. Eu me sentia protegida contra as armadilhas do amor. Relacionei com homens e mulheres sem a preocupação de me apaixonar. Mas a vida nos ensina de uma forma curiosa, e não é que eu me apaixonei novamente por um par de olhos verdes?

Lexa conseguiu quebrar a barreira e se apoderar de meu coração, e então, eu entendi que o nosso destino já estava traçado quando eu fiz o meu pedido aos céus. Quando o desejo é sincero, o universo conspira a nosso favor.

Após anos, eu ainda não havia feito as pazes com o clichê, mas a minha futura esposa mantinha um verdadeiro caso de amor com ele. Eu aceitei o seu pedido e coloquei o meu pé direito, escondido sob um longo vestido branco de noiva, no tapete vermelho a caminho do altar. Aceitei, também, o buquê de flores amarelas, madrinhas e padrinhos, pajens e daminhas. Houve o choro nada discreto da minha mãe e o choro disfarçado dos nossos amigos. Teve chuva de pétalas de rosas e até as palavras "recém-casadas" foram pichadas no Bugatti Veyron de Lexa, que nos levou para o aeroporto. E, já que era para ser clichê, então, tivemos uma viagem de lua de mel! Eu a deixei escolher tudo — ou quase tudo. Só fiz questão de duas coisas: a primeira era mudar o meu sobrenome. Eu retirei o Mitchell e agora, eu era apenas Sarah Ayers.

Deixamos Ryan e Angie aos cuidados de Henry e Anya, e viajamos para o Brasil. Águas de Coroa, uma cidadezinha do interior do estado da Bahia, foi a minha segunda escolha.

Preferi, em um país distante, uma praia paradisíaca e deserta, para aproveitarmos os nossos primeiros dias de casadas.

Após um dia inteiro de diversão, com a pele bronzeada por um sol escaldante e nua, eu permaneci dentro do mar, até o sol se pôr. Mergulhei na água morna e quando emergi, Lexa veio ao meu encontro. Ela me encarou com o sorriso torto que sempre me fazia amolecer. Também nua, ela aproximou e eu enrosquei minhas pernas em seu quadril, e os meus braços em seu pescoço. Ela colou nossos lábios e eu senti o gosto salgado do mar em sua boca. O vai e vêm das ondas fazia com que eu me esfregasse involuntariamente em seu corpo. Impossível não ficar excitada.

Durante a primeira semana da lua de mel, nós fizemos todas as posições do Kama Sutra — e mais algumas que criamos —, e apesar de amar tudo o que Lexa fazia comigo, eu tinha escolhido uma como a minha favorita: a que nós nos encontrávamos agora, após saímos da água.

Deitamos em cima de uma toalha posta na areia branca e Lexa cobriu o meu corpo com seu. Aquela era a minha posição favorita, porque eu conseguia sentir cada parte dela: os lábios carnudos num beijo intenso, as mãos entrelaçadas, os seios grudados, nossas intimidades coladas e o roçar dos pés. Eu tinha completo acesso a ela e eu amava essa sensação. Somente a lua e as estrelas testemunharam quando fizemos amor com o mesmo ritmo das ondas. Depois de exalar todo o prazer, Lexa acomodou-se ao meu lado e eu me aconcheguei em seus braços. Eu não poderia estar mais feliz!

Retornamos para o pequeno chalé, que ficava em frente à praia.

Na cama, ela deitou-se de bruços ao meu lado. Eu contornava sua tatuagem com o indicador e lembrei a frase que ela sussurrou em meu ouvido no altar:

— Somos seres eternos e nada pode nos separar.

Lexa virou para mim e encarou os meus olhos por alguns segundos.

Depois de toda a vida regada a mentiras que eu tive antes dela, eu tinha medo de perdê-la, de perder Angie e Ryan e tudo o que estávamos construindo. Lendo os meus pensamentos, ela sentou-se e me aninhou em seus braços.

— Sarah? No que você está pensando? — Ela sussurrou.

— Acha que seremos felizes para sempre? — Perguntei.

Lexa beijou os meus lábios com suavidade, antes de responder:

— Eu só tenho certeza de uma coisa: independente do que acontecer, nós sempre... Sempre... Nos encontraremos novamente.

Estilhaços De Mentiras (Lésbica)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora