Nós

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ALEXANDRA

Sarah e eu entramos de mãos dadas no Angels Orphanage. A pequena instituição abrigava crianças de várias idades, desde os recém-nascidos, até os adolescentes. Um lugar pequeno, aconchegante e tranquilo, mas certamente, nenhuma daquelas crianças queria crescer ali. Infelizmente, eu só poderia levar duas. Eu não queria dar falsas esperanças a eles, então, decidi que seria melhor conhecê-los somente quando tudo estivesse legalizado. Eu estava ansiosa para vê-los e com receio de que eles não gostassem de mim.

Fomos recebidas pela zeladora do lugar, a Sra. Ophelia Carter: uma mulher loira, alta, de olhos verdes, com seus cinquenta e poucos anos de idade, carinhosa e extremamente simpática. Ela nos apresentou o lugar.

— Achei o seu caso muito curioso, Senhorita Ayers. Não é comum recebermos pedidos de adoção para duas crianças ao mesmo tempo, mesmo eles sendo irmãos. — Contou Ophelia.

Apreensiva, olhei para Sarah e ela me retribuiu um sorriso singelo, assegurando-me com os olhos que estava tudo bem. Não soube o que responder para a Sra. Carter e ela nos guiou até elas. Um deles estava sentado em um dos bancos do jardim do orfanato acompanhando com os olhos outras crianças brincando.

— Ryan, venha até aqui, meu garoto! — Ophelia gritou e o menino pôs-se de pé num piscar de olhos.

Antes que pudesse se aproximar, uma garotinha correu até ele e o abraçou. Ele sussurrou alguma coisa para ela. Em seguida, segurou em sua mão e eles vieram, com passos lentos, até nós.

A Sra. Ophelia, com o indicador, ergueu o rosto do garoto com delicadeza e eu fiquei boquiaberta com a surpresa: os olhos dele eram iguais aos de Nikki, assim como os traços da face lembravam os dela.

O pequeno par de olhos azuis me encarou e, naquele exato momento, eu queria protegê-lo do mundo. Senti, subitamente, um enorme carinho por ele, talvez, por conhecer a sua mãe. Olhei para Sarah, mas, ao contrário de mim, ela encarava a pequena garota que estava de costas e com o rosto enterrado no pescoço de Ryan. Ele a abraçava e acariciava os seus longos cabelos lisos e loiros.

Apreensiva, apertei com força a mão de Sarah. Ophelia quebrou o silêncio:

— Ryan, essa é a Senhorita Alexandra Ayers, a moça sobre quem eu falei. Aquela que vai adotar você. Lembra-se? — Ela disse, com a voz baixa e suave.

Eu arrisquei um pequeno sorriso e ele manteve o semblante fechado. Ryan recuou um passo antes de falar:

— Você é mais uma que pretende me adotar e depois desistir? — Sua voz de criança partiu meu coração quando imaginei o quanto ele já tinha sofrido.

— Ryan! — Ophelia o repreendeu.

Ela virou-se, com um sorriso sem graça, para mim.

— Perdão, Senhorita. Ayers! Ryan é um pouco arisco.

— Por que pensa que vou desistir? — Inclinei, encarei seu olhar desconfiado e perguntei a ele.

— Porque eu não vou embora daqui sem ela! — Ele respondeu, abraçando ainda mais a garotinha.

Admirada com a sua sinceridade, arqueei a sobrancelha. Olhei para a zeladora sem entender.

Ophelia nos explicou que algumas pessoas já haviam tentado adotá-lo, porém, Ryan se recusava a ir sem a menina. E mesmo quando o obrigava, ele fugia ou se tornava agressivo, e as pessoas desistiam da adoção. Assim, retornava para o orfanato e para a sua irmã. Até aquele momento, Ryan não sabia que o pedido de adoção era para os dois.

— É compreensível. Eles são irmãos! — Eu disse.

— Os laços sanguíneos não são tão fortes quanto os laços do amor, Senhorita Ayers.

Estilhaços De Mentiras (Lésbica)Where stories live. Discover now