Permita-se

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ALEXANDRA

O primeiro comportamento agressivo que tive foi na escola, aos treze anos. Um carinha imbecil, durante uma discussão, jogou refrigerante em uma das minhas amigas, e nem mesmo vi o momento em que dei um soco nele. Logo, formou-se uma roda com vários adolescentes, gritando e incentivando a briga. O moleque ficou sem um dos dentes e eu acabei sendo expulsa.

Naquele ano começaram os ataques e na maioria das vezes eram incontroláveis, afetando assim a minha e a vida de outras pessoas. Por esse motivo, meus pais me levaram a um psicólogo. Com o passar do tempo, comecei a me entender e a controlar minha raiva. Entretanto, quando aconteciam coisas mais graves eu precisava de ajuda para me acalmar.

Após a tentativa falha da ioga, Henry me apresentou as artes marciais e assim tive uma melhora considerável. Em momentos de crise eu ia para o meu salão de lutas e descontava toda a fúria no treino ou no saco de areia. Landon e eu crescemos praticamente juntos, então, na adolescência, quando estávamos no colégio, ou em algum passeio, era ele quem me tranquilizava quando alguma coisa ruim acontecia.

Na fase adulta passei por mais alguns psicólogos e psiquiatras. Finalmente, sem alternativa, comecei o tratamento com medicamentos. Fiquei tranquila por alguns anos, mas os ataques mais graves recomeçaram quando meus pais morreram. Foi necessário voltar para a terapia. Deus sabia do que eu era capaz quando perdia o controle! Demorei alguns anos para retomar meu equilíbrio e, em apenas segundos, eu o perdi! Perdi todo meu autodomínio e estabilidade emocional quando vi a Sarah pela primeira vez.

Com uma coincidência na qual eu nunca acreditei, ela apareceu na festa que eu não queria ir com uma fantasia parecida com a minha. A beleza dela era tão reluzente e o decote tão escandaloso que precisei olhar de perto para ter certeza de que era real. E era. Realmente era! Fiquei furiosa com o desejo insensato de tê-la assim que encarei aqueles olhos azuis, tão cheios de luxúria quanto os meus. Eu me odiei por ser fraca e por saber que, a partir daquele momento, eu não iria ter forças para reprimir minha vontade. Eu me conhecia o suficiente para saber exatamente o que queria.

Ainda tentei ser apenas, como a Anya costumava dizer, cafajeste, e somente transar com ela, mas o azul dos seus olhos e o contato dos nossos corpos enquanto dançávamos me levaram ao céu. Foi como se todas as coisas ruins desaparecessem durante aqueles minutos. Cometi o erro de beijá-la. Sim, foi um erro, porque apenas constatou a minha fraqueza. Além de tudo isso, o infeliz do namorado dela retirou-a dos meus braços e no instante que isso aconteceu, estranhamente, eu quis protegê-la.

Fiz mais uma tentativa, seguindo o conselho de Anya para não ir procurá-la. Mas, ao tentar me distrair, ajudando Brenda, ela se jogou em meus braços. Quando estava me acalmando, a ira voltou ao ver a linda loira de olhos azuis de pé à minha frente, olhando, enquanto a sua melhor amiga me beijava. Não tive a intenção de magoá-la. Nem nos meus momentos mais cafajestes eu teria beijado uma mulher e me atirado nos braços de outra em seguida, mas não tinha porque explicar nada a ela. Por Deus, eu sequer sabia o seu nome!

Passei as semanas seguintes com ela em minha mente, querendo beijá-la mais uma vez, só para comprovar o que eu já sabia. Não fazia ideia onde procurá-la. Quando pensei em perguntar ao Jayden sobre ela, quis o destino que, no mesmo dia, eu a encontrasse. Ela era a dona da empresa que Brenda havia comentado em uma das nossas conversas.

Na primeira reunião, no instante em que nossos olhos se cruzaram novamente, eu esqueci todos os conselhos de Henry. Ele havia dito que não era necessária a fusão e que só precisávamos de uma boa equipe de produção. A princípio, a ideia era fingir aceitar a negociação, conhecer os engenheiros da outra empresa, fazer uma oferta irrecusável a eles, contratá-los e formar uma nova equipe. Um golpe sujo, na verdade, mas que sempre acontecia no mundo dos negócios. Nada que eu já não tivesse feito antes. Mas não consegui. Não com a Sarah me encarando daquele jeito.

Estilhaços De Mentiras (Lésbica)Where stories live. Discover now