Coincidências

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Brenda desceu do meu carro no estacionamento do NYPD e me entregou a chave, contrariada por eu não querer a sua companhia. Eu entendia que ela estava preocupada e queria ficar ao meu lado, mas senti a necessidade de ficar sozinha por um tempo, então, saí do Departamento e dirigi sem destino pelas ruas de Nova York. Parecendo se compadecer do meu sofrimento, o tempo fechou deixando o céu cinza. A chuva fina que caía acompanhava o ritmo das lágrimas quentes que desciam por minha face, enquanto eu recordava os bons momentos ao lado do meu pai. Eu só queria poder abraçá-lo mais uma vez.

Pensei em ir visitar a minha mãe e dizer o quanto eu sentia a sua falta e a amava, mas vê-la sem reação fazia com que eu me sentisse ainda mais impotente. O psiquiatra indicado pelo Dr. Gartner, havia me informado, há alguns dias, que o estado de saúde dela não tinha sofrido nenhuma alteração. Os surtos continuavam se repetindo. Sem motivo aparente, ela tornava-se extremamente agressiva com qualquer pessoa que se aproximasse e depois a sua inércia retornava. Precisando de ajuda para fazer qualquer tipo de necessidade, incluindo as fisiológicas, a enfermeira Emily continuava prestando toda assistência necessária.

Questionei ao Dr. Thomas Kaur se ele conhecia outros casos como aquele, mas ele negou:

— "Sinceramente? Não conheço nenhum! Infelizmente não tenho um diagnóstico para ela. Além da alteração sanguínea por causa dos medicamentos fortes, não aparece nada fora do comum nos exames. Os resultados das ressonâncias também foram negativos". — Recordei suas palavras.

Desejei estar em letargia para não sentir o aperto que estava em meu peito.

Deve existir alguma forma de fazer essa dor passar. — Pensei com os olhos fechados e com a cabeça recostada no banco do carro que tinha estacionado em frente a uma praça qualquer.

Cogitei sair da cidade, mas com tantas mudanças não seria viável. A verdade era que eu precisava enfrentar tudo o que estava acontecendo. Eu sabia desde o começo que ele não havia cometido suicídio e agora que a verdade veio à tona eu não poderia simplesmente abandonar tudo. Ia doer a cada descoberta feita, mas não tinha outra saída a não ser encarar e resolver de uma vez o problema.

— Vamos lá Sarah. Chegou a hora! — Proferi em voz alta e acelerei o carro em direção a um lugar que sempre evitava passar, mas que dessa vez eu fiz questão de ir.

Minha garganta apertou em um nó quando entrei no bairro Queens. Voltei a cair em prantos quando parei o carro em frente ao lugar onde, debaixo dos destroços, encontraram o corpo do meu pai.

O tempo tinha feito eu me ajoelhar diante de tantos acontecimentos ruins e eu cheguei a implorar a Deus por paz! Eu consegui ficar de pé quando conheci Alexandra. Eu consegui me reerguer e quando ela entrou em minha vida e novos sentimentos desabrocharam em mim. Eu estava apaixonada e senti que com ela eu poderia finalmente ser feliz, por isso eu queria encerrar aquela história de uma vez por todas e recomeçar do zero, por mim e por ela.

Eu tenho que ser forte e continuar.Falando sozinha, tentei me animar.

Mas é difícil criar coragem num mundo cheio de escuridão. Escuridão essa que fazia me sentir insignificante e impotente.

Olhei para o celular e além das várias ligações perdidas da Brenda, Casey e Luke, notei que a bateria estava quase no fim. Lembrei-me da ligação de Lexa e procurei por alguma mensagem dela, mas não havia nenhuma. Imaginei que ela poderia estar chateada por eu ter desaparecido durante todo o dia, entretanto, ainda não estava pronta para conversar com ninguém. As novidades sobre o caso do meu pai me afetaram mais do que eu poderia imaginar.

Estilhaços De Mentiras (Lésbica)Where stories live. Discover now