take me to church

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Caitlyn sempre soube que era diferente.

Pecadora.

Foi ensinada desde cedo à ajoelhar por horas e implorar por perdão de Deus e seus santos, implorar por uma cura que nunca chegaria para si.

Pelo fim de seus pecados.

Mas quando Caitlyn foi pega por uma freira beijando uma das alunas do internato, não se sentiu como uma pecadora.

Quando Caitlyn ficou sem jantar e obrigada a passar a noite em claro recitando todas as rezas que sua cabeça lembrava, não se sentiu como uma pecadora.

E não implorou por perdão.

Não, Caitlyn sabia que aquilo não tinha cura. Caitlyn sabia que viveria com aquilo pelo resto de sua vida e, por Deus, Caitlyn vivia pela vergonha que causava simplesmente por existir.

Caitlyn vivia para o dia que queimasse em meio as chamas e o cheiro de enxofre do inferno.

Caitlyn vivia para provar de toda sua injustiça na frente dos olhos dos crentes, dos que se chamavam de não pecadores, e ainda assim pecavam com seus ideais.

A injustiça fazia o sangue de Caitlyn ferver, e assim ela se sentia humana. Assim, ela se sentia ela mesma.

Ajoelhada no milho, com seus pés e suas mãos fortemente apertadas com corda, feridas abertas manchando as mesmas com escarlate. O padre e as freiras gritavam próximos de seu rosto, tentando desestabilizar a cabeça já sequelada de Caitlyn.

"Eu não acredito em vocês, nem em seu Deus. Sempre vou ser cheia desse pecado e vocês terão que aceitar."

A última coisa que Caitlyn sentiu antes de desmaiar foi o forte impacto do couro da bíblia contra sua testa.

O escuro era extremamente assustador e incrivelmente confortante. A ideia de não sentir nada seduzia Caitlyn, a falsa ideia de calmaria que existiria por alguns momentos em sua alma antes de acordar novamente.

"Caitlyn, acorda. Por favor, eu consigo ver vocês se mexendo..."

Conhecia aquela voz.

A voz de seu pecado, a voz de seu fim, que cavava seu buraco cada vez mais fundo.

"... Vi?"

"Graças à Deus. Não sabe como me preocupou."

Braços quentes e firmes rodeavam seus ombros, e, mesmo os olhos de Caitlyn ainda estando fechados por causa de sua dor de cabeça, conseguia ver a imagem de sua amada completamente em sua mente.

"O que aconteceu?"

Uma das mãos de Vi fizeram um cafuné nos fios embolados dos cabelos de Caitlyn, tentando acalmar seu próprio coração ansioso dentro de seu peito.

"Quando eu notei que você havia sumido por algumas horas, eu sabia que aquelas vadias tinham encostado em você", suspirando, Vi se afastou, apenas o suficiente pra encostar suas testas e respirarem o mesmo ar.

Compartilharem de seus pecados internos.

"Elas não vão mais mexer com você. Eu te garanto isso."

"Okay."

after midnightWhere stories live. Discover now