i still listen to your voice (inside my head)

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Caitlyn adorava atirar.

Desde nova, sabia que vivia pela adrenalina de ter seu indicador no gatilho, seus olhos e ouvidos treinados atentos aos seus arredores, esperando apenas o momento certo em que seu infeliz alvo cruzaria seu caminho.

Caitlyn também adorava ser xerife.

Era difícil, os Deuses sabiam o quanto Caitlyn se esforçava e até mesmo passava noites sem dormir tentando fazer o certo e ajudar aqueles que não tinham segurança, um lar, ar puro para respirar.

E, mesmo amando tudo isso, amando ajudar, amando saber que fazia o mínimo pelas pessoas e seres que precisavam de sua ajuda, algumas consequências ainda desanimavam a Kiramman mais nova.

As "dores de crescimento", como seu médico (vulgo seu próprio pai) havia chamado, ainda perseguiam Caitlyn no auge de seus 28 anos; Claro, já era esperado que suas juntas doessem depois de crescer disparadamente na pré-adolescência, mas o constante estalo de seus joelhos era um pouco incômodo, principalmente nas horas de perseguição, mas já era acostumada com suas inflamações.

Algumas outras coisas fúteis eram fruto de sua profissão, como não-tão-delicados calos nas palmas de suas mãos e nas pontas de seus dedos, mas esses eram realmente o menor de seus problemas.

Claro, já havia sido avisada daquela probabilidade - não era incomum que defensores tivessem aquele destino, até mesmo Grayson já havia se queixado algumas vezes, mas Caitlyn não havia botado alguma esperança de que aconteceria consigo.

(Surdez? Pff, não. Eu não vou desistir dos meus sonhos por causa da minha audição, mãe, muito obrigada.)

Desistir ela realmente não tinha, mas havia de fato perdido a maior parte de sua audição.

E foi simplesmente um choque para Caitlyn descobrir que o constante zumbido em seus ouvidos aumentaria para a necessidade de usar aparelhos auditivos com tecnologia hextec porque "140 decibéis é demais para o frágil ouvido humano".

Besteira.

Ainda mais besteira que os pequenos aparelhos azuis não eram recomendados de usar à noite e muito menos resistentes à água.

(Tecnologia suficiente para criar portais, mas não para fazer um aparelho minúsculo não queimar com umas gotas de água. Ótimo, realmente ótimo.)

Então, uma Caitlyn frustrada olhava seu próprio reflexo no espelho. Era a mesma Caitlyn de sempre - rosto fino e lábios finos, olhos azuis e nariz comprido, a armação de seu óculos - normalmente dispensados por lentes de contatos - apoiada na ponte de seu nariz, cabelos escuros e azulados caindo até pouco abaixo de seus ombros. O mesmo corpo de sempre, magro e com algumas curvas delicadas, coberto com o uma das blusas de banda que roubou da gaveta de Vi e algum shorts qualquer de pijama. A mesma Caitlyn.

Só que surda.

Pequenas mudanças, huh?

Revirando os olhos, Caitlyn apagou a luz e saiu do banheiro, andando até a cama de casal do quarto e se jogando no colchão.

Ainda era estranho e difícil de aceitar quando o aparelho em sua caixinha no canto do quarto, e não em sua orelha; Os sons pareciam vir de dentro de sua cabeça, ecoando como pensamentos, dispersando rapidamente em uma cacofonia desagradável.

Caitlyn jogou seus óculos na mesa de cabeceira e escondeu seu rosto no travesseiro, resmungando para si mesma com o cansaço que tomava conta de todo seu corpo.

Por que humanos eram tão frágeis?

A cama macia afundou do lado de seu torso, e uma mão larga fez movimentos circulares em suas costas. Não se assustou, pois conhecia o "thump-thump" dos passos de Violet, mas tirou seu rosto do meio do travesseiro e olhou para a esposa.

"Oi", um sorrisinho brotou nos lábios gordinhos de Vi ao ver os olhinhos azuis de sua amada, "Terminei o jantar. Tá com fome?"

Caitlyn demorava alguns segundos para responder, mas já era de se esperar depois de passar sua vida inteira ouvindo normalmente. Ler lábios era complicado, e era grata que sua esposa tivesse a paciência de falar um pouco mais devagar para facilitar o processo.

"Não muito", suspirou e se sentou na cama, seus pés no chão e sua cintura colada com a de Vi, "Meus joelhos doem".

Violet colocou um de seus braços ao redor dos ombros de Caitlyn e deu um beijo em sua têmpora. Sua mão livre puxou o rosto de Caitlyn pelo queixo, as duas ficando cara-à-cara e com narizes quase encostando.

"Então deixa que eu trago a comida aqui, e eu faço uma massagem nas suas pernas depois, okay?", Vi foi para a cozinha depois de receber uma confirmação com a cabeça.

Já sentada com as pernas cruzadas e o prato de comida nas mãos, Caitlyn ria do jeito que Violet contava animadamente sobre seu dia enquanto mastigava o jantar.

Sim, havia sido difícil de aceitar, e Caitlyn ainda passava alguns dias deitada e enrolada em um amontoado de cobertas macias para fingir que simplesmente não existia, mas sabia que Violet estaria ali para ela independente de qualquer situação.

Então, é. Talvez Caitlyn conseguiria viver tranquilamente com a surdez, mesmo que a voz de sua amada só ecoasse em sua mente em momentos como esse.

after midnightKde žijí příběhy. Začni objevovat