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Naquele exato momento a expressão de
incredulidade no rosto de S/n só não superava o vinco que se formara em sua testa, indicando a falta de apetite. A comida que havia sido posta em seu prato não era nojenta como costumavam dizer, por sorte, contudo, tampouco eram aquelas mil maravilhas.

- Salada ou não? - A cozinheira voltou a repetir com sua expressão de tédio e S/n acordou de seu transe.

- Ôh boneca, acho melhor escolher logo, estou com fome e não tenho o dia todo. - Uma mulher extremamente tatuada, com a cabeça raspada e com marcas que S/n julgou ser onde os piercings ficavam, falou, sorrindo de forma cafajeste para S/n, que assentiu e pediu salada, saindo dali às pressas para movimentar a fila.

Ela procurou uma mesa para se sentar, porém, todas estavam ocupadas, o que lhe deixava somente uma opção: conversar com outra detenta. Seus olhos procuraram algum rosto não tão assustador e então encontraram o mesmo par de olhos azuis Ihe encarando. Ela respirou fundo e caminhou até sua mesa.

- Será que eu posso...

- Não. Vaza! - A voz rouca foi firme, fria e seca, fazendo S/n suspirar e assentir.

Ela franziu o cenho quando viu uma mão no alto acenando-lhe desesperadamente. Deu uma olhada para trás e arredores, se certificando de que era com ela mesmo e quando constatou que sim se aproximou.

- Olá! Sente-se. - A voz meiga proferiu. S/n atendeu seu pedido e se sentou, reparando que a garota era cacheada, sorridente e gentil. Pequenas sardas cobriam seu rosto e ela usava um uniforme marrom e branco, então não era novata. - Me chamo Sabrina Claudio, mas pode me chamar só de Sabrina.

- Sou S/n. - Ela disse um pouco cética devido a toda aquela gentileza e bom humor.

- Primeiro dia aqui e já tem várias de olho em você. Logo alguém te pega. - S/n franziu o cenho.

- Alguém me pega? - Perguntou confusa.

- Sim, demorei três meses para ser pega por alguém, mas duvido que você passe de uma semana.

- Em que sentido? - S/n perguntou alheia ao que a garota dizia.

- Oh, é sua primeira vez presa? - A garota perguntou e S/n assentiu. - Bem, as líderes dos bandos costumam pegar as novatas para serem suas parceiras sexuais. Elas te oferecem proteção em troca e outros benefícios, como comidas melhores do que as que nos dão aqui.

- Não estou interessada, obrigada. - S/n disse, tentando comer uma folha de alface, que era a única coisa que sentia vontade de comer. Sabrina riu ao ouvir aquilo, levando uma mão até sua boca para abafar o som.

- Você é engraçada. - Disse e S/n percebeu que sua voz era um pouco enjoativa. - Não é como se tivéssemos opção. Se não fizermos por vontade própria, uma hora ou outra alguém fará a força. - S/n engoliu em seco. - Nem todas são assim, mas algumas... - A garota deixou sua frase morrer ao dar de ombros.

- Quem... quem é aquela? - S/n perguntou, apontando com o queixo para a garota de olhos azuis que ainda a fitava sem pudor.

- Billie Eilish. Não deveríamos falar dela, é a líder absoluta.

- Ela não para de me olhar. É intimidador isso. - S/n reclamou e a garota arregalou os olhos.

- Ela te olha? - S/n assentiu. - Talvez você quebre o título dela de intacta.

- Intacta?

- Sim. Ela está aqui há quase três anos e se tornou a líder no primeiro ano, quando derrotou a antiga líder. - Falou baixo para ninguém mais ouvi-las. - Ela jamais pegou alguma novata para ela.

- Por que ela está aqui? - S/n não se conteve em perguntar, observando a outra dar de ombros.

- Ninguém sabe ao certo. Umas dizem que ela matou três pessoas à sangue-frio, outras dizem que esquartejou a ex-namorada, mas a verdade é que nunca saberemos, porque ninguém ousa perguntar. - S/n assentiu e se calou.

Teriam que tomar banho em alguns minutos e logo voltar para a cela. Cela, lá estava o novo medo de S/n, afinal ela não sabia com quem dividiria o espaço.

- Está aqui por quê? - Sabrina perguntou e S/n se remexeu em seu acento.

- Um engano. - Sabrina riu baixinho e assentiu.

- Todas dizemos isso, até o momento que nos conformamos em assumir nossa culpa. - Ela disse. - Do que foi acusada?

- Assassinato. - Disse seriamente.

- Uou, interessante. E quem você matou?

- Não matei ninguém. - S/n disse firmemente com a expressão de irritação em seu rosto.

- Quem te acusaram de matar? - A garota reformulou a pergunta.

- Meu irmão e de tentar matar minha mãe.

- Nossa. Quanto tempo pegou? - A garota perguntou curiosa.

- Vinte e dois anos.

- Bem, sua pena pode se reduzir para mais da metade disso se você se comportar. Eu mesma, peguei sete anos, estou aqui há dois anos e meio e saio no próximo semestre se manter a boa conduta.

- Minha pena implica em não ter direito à redução de pena por bom comportamento ou por pagamento de fiança. - S/n explicou. - O que fez?

- Roubo de carro e presa em flagrante.

- Pegou tudo isso por roubo de carro?

- Eu não sabia que era do senador. - S/n abriu a boca surpresa, mas aparentemente a garota estava acostumada com aquilo.

- Bem, logo sairá daqui então. - S/n disse, voltando a olhar para a garota de olhos azuis. Ela sabia que deveria seguir o conselho da policial Drew, mas não entendia o porquê de ser tão observada.

- Sim. Reparei que tem três de olho em você. - Sabrina disse. - Por sorte a minha não está.

- Não entendi.

- Às vezes elas trocam de parceiras e as antigas ficam desprotegidas novamente. Tem vezes que elas ficam com mais de uma parceira. Sabe a tatuada? - S/n assentiu assim que viu que Sabrina se referia à garota da fila. - Seu nome é Scarlett, mas a chamamos de Scar, e acredite, não é pelo nome. - A garota revelou. - É porque a cada nova cicatriz ela faz uma nova tatuagem em cima.

- Oh. - S/n disse levemente assustada.

- Ela parece estar de olho em você, mas não se preocupe. Ela só aparenta ser assustadora, é um doce.

- Estou ficando assustada. - S/n revelou, rindo fraco e a garota assentiu.

- Desculpe, não foi minha intenção. - Sabrina disse, olhando para um ponto fixo atrás de S/n antes de se levantar. - Preciso ir, minha mulher está me chamando. Até mais. - Disse e saiu, S/n olhou para trás e viu uma garota negra, gorda, porém de riso fácil dando um selinho em Sabrina.

A garota suspirou amedrontada em seu interior. Em que furada sua mãe havia lhe metido desta vez?

1105 palavras

Presa Por Acaso (Billie Eilish / You) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora