Mas o que me intriga até hoje é como alguém teve coragem de fazer aquilo comigo, ainda mais nesta época do ano...

Será que aquela mulher era na verdade minha avó? Tenho minhas dúvidas.

Eu tento me lembrar de sua aparência mas são tão poucas... e o som persistente desses sinos badalando, mesmo não querendo ainda me remetem aquela noite de terror...

...

"Eu quero a vó... a vó... - Eu chorava baixinho no colo do moço que tem um negócio estranho no nariz... meu olhar é de desespero e pânico. Ele colocou até um chapéu esquisito vermelho na cabeça e gostava de gritar Ho...Ho...Ho... não sei porque. Só sei que eu tô com medo... e começo a me encolher toda em seu colo, quero ir embora daqui.

- Vó... continuava chamando baixinho, quem sabe ela me escuta.

Ela era a única pessoa que eu, com meus cinco anos confiava, o que eu podia fazer eu estava apavorada, intimidada com tantas pessoas desconhecidas ao meu redor.

- Quero ir pra casa... - Insistia chorosa. Eu estava toda tensa, chorando baixinho, quase nem me mexia pois tinha receio de que ele pudesse... sei lá me bater.

- Deixa que eu a seguro sargento, acho que o senhor não em tem muito jeito com crianças, vai assustá-la ainda mais, com esse nariz vermelho de palhaço.

- Não é nariz de palhaço, é de rena! - Disse o sargento Nunes.

- A moça que me pegou no colo é bonita, sua boca brilha, e tem brincos na orelha que brilham. Eles me encantam.

- Vem cá minha bonequinha, vou deixar você brincar com isso... gosta?

Olhava pra ela ainda com medo e muito envergonhada, mas ela tinha uma voz gostosa, e aquilo me acalmava. Sorrindo ela colocou em minhas mãos um chaveirinho. - É um cachorrinho tão bonitinho, eu gosto dele e acabo me distraindo .

- A menina só está assustada sargento, também desde que ela chegou, só a encaminham de um lugar para o outro, se fosse eu, acho que estaria berrando.

- Já são duas e meia da manhã, quando chegarão? Será que vão esperar até amanhecer? E essa chuva ainda pra ajudar...

- Eles já devem estar chegando, acho que se atrasaram justamente por causa disso.

- A Casa Amiga, é um bom lugar.

- Pra um orfanato!

- Ela vai poder ficar por lá e depois se não encontrarmos sua família, ela já estará instalada, é melhor do que ficar alguma casa de acolhida, mas é bem provável que ela só se perdeu dos pais.

- Minha linda você sabe como a sua mãe chama?

Fiz que não com a cabeça.

- E seu pai? - Levantei os ombrinhos... pai?

- E você como se chama bonequinha?

- Sophia.

- Que nome lindo você tem. - Ela estava falando de uma avó.

- E o nome da sua avó, você sabe?

- Vó Maria, eu quero a vó... - E voltei a esfregar meus olhinhos.

- Tudo bem minha querida, a gente está procurando a sua avó, tá bom, não precisa chorar. E me apertou em seu colo, estava com tanto medo.

- Se ela se perdeu sargento, ninguém registrou queixa e não há solicitação de nenhuma criança que se encaixa na descrição dela em toda a região, o senhor não acha estranho?

Victor & SophiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora