Feyre estava sentada no sofá diante da lareira, as mãos estendidas para o fogo. Eu, por outro lado, havia me encostado na janela do lado contrário ao delas– perto da porta para o corredor de entrada –, por ter convivido com o gelo passando pelas minhas veias desde que nasci, o frio não me incomodava muito; mas ainda assim o inverno nas terras mortais era horrível.
Feyre parecia estar incomodada de estar ali tanto quanto eu e enquanto as três não falavam nada, olhei pela janela para encontrar algum vestígio que os illyrianos estavam ali. Nenhum sinal deles, no entanto.
— Onde está papai? — Perguntou a mais nova. Pareceu a única coisa segura que ela deveria dizer.
Ou nem tanto. Porque a simples menção do meu padrasto me fez ficar em alerta, temendo que a qualquer hora ele fosse entrar e nos expulsar – me expulsar – e todo meu progresso para ter voltado aqui e o porque estávamos aqui seria em vão.
— Em Neva — explicou Nestha, citando uma das maiores cidades do continente. — Negociando com mercadores da outra metade do mundo. E participando de uma reunião sobre a ameaça acima da muralha. Uma ameaça sobre a qual, imagino, você tenha voltado para nos avisar.
Soltei o ar que nem sabia estar segurando. William não estar em casa era muito, muito bom. Porque, primeiro, se mal conseguia encarar minhas irmãs definitivamente não conseguiria encarar ele; e, segundo, porque se ele me odiava como mestiça, ele me tiraria da casa as forças ao descobrir que nenhum resquício humano sobrou em mim.
Nem mesmo meu coração. O que contradizia o que Rhys me falava. "Agradeça por seu coração humano."
Elain ergueu a xícara de chá.
— Qualquer que seja o motivo, Feyre, ficamos felizes por vê-la. Viva. Achamos que estava...
Feyre iria responder algo, mas antes que a situação pudesse piorar puxei o capuz. Apenas agora Elain e Nestha pareceram perceber o que estava errado, diferente. As orelhas pontudas, as mãos mais longas, mais finas, e o rosto inegavelmente feérico. Mesmo mestiça eu ainda conseguia esconder totalmente meu lado feérico, agora a ideia não me agradava.
— Nada aconteceu com Feyre — comecei, a primeira coisa que falava desde que entrara na sala. — Deixei que fosse eu em seu lugar. Então eu morri, e renasci. Fui refeita.
A xícara de chá de Elain chacoalhou no pires quando ela processou o que eu falava; os olhos das duas repousaram na coroa ao mesmo tempo; e Nestha, disfarçadamente, se inclinou como se quisesse impedir que eu chegasse até Elain.
Eu odiava pensar nisso, mas em momentos como esse Nestha terrivelmente me lembrava Tamlin. Tentando proteger minha irmã contra mim. A sala logo ficou mais gelada, senti meu sangue ficando mais gelado conforme o poder acordava dentro de mim.
Procurei aquela ponte dentro de mim e cheguei do outro lado o mais rápido que pude.
"Cade você, Rhys?"
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Corte de Mudanças e Sonhos - Versão Antiga
FantasyA maldição foi quebrada e Amarantha está morta. De volta a Corte Primaveril, Layla tenta viver com seus novos pesadelos e seu novo corpo. Ela só se sente segura em um lugar, mas ela pode ir para lá apenas uma semana em cada mês. Mesmo morta, a Grã-R...