Decisão

147 22 26
                                    

"Estava cansado de viver nas sombras. Estava cansado da escuridão e das coisas que viviam nela. Acima de tudo, estava cansado de ficar só."

-Stefan Salvatore,
Diários do Vampiro - O despertar

------------------------------------------------------------------

No outro dia, pela manhã Mycroft se levantara cedo, tivera uma noite agitada e sonhos profundamente perturbadores. Que iam desde aquele sorriso lascivo que se espalhava pelo rosto do Conde Moriarty, até a morte sangrenta e sórdida daquelas mulheres que muito em breve seriam esquecidas.

Ele sentia-se cansado, embora tivesse dormido o suficiente.

O sol começava a despontar entre as colinas verdejantes de Garden Hall. Ele apertou o roupão ao redor de sí e foi para a varanda. Por um instante Mycroft perdera o fôlego, se pegou observando maravilhado aquela tela absolutamente esplêndida tecida pela mãe natureza.

-Maravilhoso, não é? - Aquela voz o fez estremecer.  E ele apenas assentiu sem se virar para encarar sua companhia indesejada. Ou talvez, não tão indesejada assim.  Ele sentiu o vento frio soprar em sua face e fechou os olhos perguntando-se o quanto aquele homem ainda era capaz de sentir. Se ainda havia algo que fosse meramente humano nele.

Ele virou-se para encará-lo, Albert estava muito casual, com os mesmos trajes que o encontrara na noite anterior.

-Tenha modos, Sr. Conde! - Holmes não conseguiu disfarçar seu ultraje. - Onde estão as suas roupas? - Albert sorriu e se sentou em uma das cadeiras que decorava a varanda do quarto do outro. Sua cabeça repousou sobre a mão e ele pareceu pensar em algo. Mirou-o com um sorriso enigmático.

-Não precisamos dessas formalidades entre nós, afinal, somos dois homens. - Mycroft franziu a testa irritado.  E voltou-se para observar a paisagem. Mas sua mente recusava-se a pensar em algo que não fosse o Conde vampiro.

-Diga-me, Sr. Holmes, eu o incomodo tanto assim? - Não havia ressentimento em sua voz, ele parecia divertir-se com a situação.

-Não. O que me incomoda realmente é o fato de eu não ter ideia de quem - ou do quê - Ele enfatizou essas palavras - matou aquelas jovens. - Holmes recostou-se no pequeno muro de pedra.

Moriarty o observou em silêncio, depois fitou o horizonte. Seus olhos eram como dois lagos, profundos e imperturbáveis.

-Se apenas me desse um pouco mais de confiança, - ele esperou antes de prosseguir. - talvez eu pudesse ajudá-lo. Receio que seria pedir demais... - Ele suspirou dramaticamente.

-Eu tenho dormido sob o mesmo teto que você, eu deixei que continuasse aqui, mesmo reconhecendo a sua condição, e deixei que aquelas pessoas continuassem a trabalhar ingenuamente nesta casa. O que mais espera que eu lhe ofereça, Conde? - Mycroft sentia que a distancia entre eles diminuía, mesmo que o outro permanecesse parado.

-O seu sangue. - Holmes sentiu que aquelas palavras foram como facas afiadas, que lhe golpeavam incessantemente.

- O que disse? - Perguntou atordoado.

-Não esqueça o que eu sou, Sr. Holmes. Mas não é a mim que deve temer. E sim aqueles que vieram antes de mim. - Mycroft memorizou cada uma das palavras de Albert.

-Qual a razão para... - Ele Balançou a cabeça em confusão e observou o lugar onde Albert estava. Agora vazio.

Está muito claro para mim, o por que de ele ter sumido, pensou. Há algo que não pode revelar. Pelo menos, não diretamente.  Mas outra vozinha sussurrou para ele lá no fundo de sua mente. Talvez ele simplesmente não queira. Talvez ele só esteja brincando com você, a eternidade pode ser entediante.

Depois de se vestir adequadamente, Holmes se dirigiu para a sala de jantar e foi tomar seu desjejum. Seus olhos vasculharam a sala, mas o conde também não estava lá.

Fred preparara alguns pãezinhos, ovos cozidos, rolinhos de canela e bolo de frutas, tudo acompanhado de chá. Mycroft se sentou, depois de cumprimentá-los.

-Como o senhor deseja o seu chá, Sr. Holmes? - Um dos empregados mais jovens, perguntou, com cortesia.

-Dois cubos de açucar e um pouco de leite. - Disse distraidamente.

Ele tomou o chá, aproveitando a refeição, enquanto lia o periódico semanal. Passou os olhos rapidamente por todas as notícias. Nada pareceu lhe chamar atenção, realmente.

Seus pensamentos voltaram-se para Moriarty.  Por mais que odiasse admitir, ou mesmo que toda aquela situação fosse um golpe ao seu ego, Holmes precisava da ajuda dele.

Depois de terminar sua refeição, ele saiu a procura do conde. Porém Moriarty parecia estar ausente da propriedade. Ele suspirou, sentindo-se irritado.

Decidiu pegar um casaco, chamou o cocheiro e partiu para a cidade imediatamente. O caminho era um percurso longo, mas as estradas não eram ruins, então foi uma viagem confortável. Ele decidiu ocupar seu tempo lendo um livro aleatório que pegara na biblioteca de Garden Hall.

Algumas nuvens escuras se acumulavam no céu e um vento frio soprava pelas janelas da Carruagem. Ele observou o tempo, parecia que logo iria chover. De algum modo, Garden Hall parecia com aquelas mansões saídas de romance gótico.

Chegaram a cidade pouco depois das 10:00. O Centro estava mais calmo do que o esperado, mesmo com todas as notícias sobre o serial killer de Londres, Mycroft imaginou que as mortes não teriam um impacto tão grande em outras cidades próximas. 

Sentiu que sua boca amargava e parou em uma casa de chá. A fachada era simples e delicada, mas o lugar era perfeitamente limpo e adequado. A xícara fumegante foi colocada a sua frente por uma garota relativamente jovem. Ela lhe sorriu e ele sentiu o coração apertar. Precisava fazer algo pela segurança daquelas pessoas.

Ouviu quando a porta foi aberta e o gerente da loja foi receber o cliente. Levantou os olhos quando aquela sombra se aproximou dele com elegância e rapidez.  Um par de olhos verdes como esmeralda miravam-no com insistência.

-Conde Moriarty. - Ele saudou-o com uma mesura.  Observando sua face perfeitamente esculpida, ele usava trajes mais simples, embora a elegância do outro ficasse clara, apenas pelos seus modos.  E pela primeira vez, Holmes percebeu que não havia arrogância na forma como ele se movia. Havia apenas aquela aura misteriosa e esmagadora que fazia todos os olhares se dirigirem para o conde.

Ele afastou - se depois que percebeu que seu olhar se demorara demais avaliando o outro. Moriarty sorriu triunfante.

-Permita-me desfrutar da sua companhia, Sr. Holmes. - Disse.  E quando o outro assentiu os dois sentaram-se a mesa. Albert pediu um chá e Holmes começou a falar.

-Eu pensei no que me disse... Conde. Estou ciente de que há algo maior acontecendo neste país, e que não posso resolver tudo... - Ele suspirou sentindo-se um pouco cansado, da mesma forma que estivera mais cedo.

-Muito bem. - O Conde assentiu, mas desta vez ele não estava sorrindo.

O Desejo dos ImortaisWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu