A Condessa

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"Achas que sou cruel, egoísta, mas o amor é sempre egoísta. Quanto mais ardente, mais egoísta. E não sabes o quão ciumenta sou. Deve ir comigo, me amando, até a morte. Ou me odiando, mas ainda junto a mim, e ainda me odiando depois da morte. Não há palavra como "indiferença" em minha natureza apática."

-Carmilla, A Vampira de Karnstein

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Houve um momento de silêncio. O crepitar da lareira era o único som no ambiente.

Marcus tamborilou os dedos sobre a mesinha na qual repousava um castiçal perfeitamente esculpido. Por fim, depois de refletir, acrescentou.

- Isso é algo que devemos perguntar ao Nikolai. - Seus olhos moveram-se rapidamente pelo salão procurando-o.

Depois que ele mencionou o nome, Mycroft e Albert entreolharam-se, tomando consciência de que o outro havia partido. O sol estava escondido pelo céu nublado e ventos gelados açoitavam as janelas, por um momento a ausência de Nikolai pairou sobre eles.

Uma a uma as velas se apagaram.

E eles foram banhados pela penumbra. do fim de tarde, as paredes do castelo agigantaram-se sobre eles.

Mycroft tentou ajustar sua visão. Os pelos de seu corpo ficaram eriçados, como um alerta, o instinto o preparando para o perigo iminente.

- Fique ao meu lado. - Ele ouviu Albert dizer. De alguma forma o significado daquelas palavras tocou-o e o fez sentir-se um pouco mais confiante. Sabia que era o único humano entre seres imortais, era inegável que ele sentia-se diminuído, e mesmo assim, Albert o tratava como um igual.

-Sim. -Ele assentiu, sentindo o braço do outro roçar sobre o seu levemente e agradeceu silenciosamente por tê-lo encontrado.

O som de vidro estilhaçando fez Holmes erguer a cabeça abruptamente.

Uma garota de aparência imatura movia - se com uma fluidez inumana e mais que rapidamente ela agarrou a garganta de Holmes. Seus dentes pontiagudos tocavam o pescoço dele, prontos para dilacerar o que quer que tocassem.

Moriarty se precipitou em direção a ela, sua face perfeita distorcida em uma aparência feroz e mortal. Mas ela rosnou, e lentamente deu alguns passos para trás.

-Não se mova! Ou ele morre! - Ela falou entre dentes. Mycroft permaneceu calmo, prevendo o que iria acontecer e quando a vampira relaxou, ele atravessou-a com a estaca que havia mergulhado em essência de verbena. Ela gemeu e sibilou, antes de ter sua cabeça deçepada pelo mesmo, um golpe limpo e fatal.

Ela caiu em direção aos pés Nikolai que permaneceu inalterado, mirou-a com um olhar vazio, enquanto a jovem vampira virava cinzas.

Marcus encarou-o , recusando-se a aceitar o que as ações dele significavam, ele tentou reorganizar sua mente e buscou quaisquer palavras que pudessem minimizar o que quer que estivesse acontecendo ali, mas antes que ele pudesse falar, um riso lascivo e maligno ecoou na grande sala.

E passos calmos soaram pelo corredor, depois desceram a mesma escadaria que ele descera minutos antes. Então, ele a viu.

Uma mulher alta e esbelta com a pele muito pálida se aproximava, ela usava um vestido vermelho escuro, e o cabelo estava preso em um coque alto, uma pequena Mecha lhe caía sob o busto. Seus olhos eram pretos como azeviche e penetrantes como duas facas afiadas, a presença dela era esmagadora.

Moriarty reconhecendo a força daquela vampira se aproximou de forma protetora de Mycroft.

-Fique atento, Holmes. - Ele sussurrou em seu ouvido.

-Quem é ela? - O outro perguntou mirando-a com temor e curiosidade. Moriarty observava a expressão petrificada de Marcus. A vampira permaneceu silenciosa, a boca curvando-se em um riso de escárnio.

-Não é a mim que deve perguntar. - Ele encarou Nikolai que permaneceu parado enquanto a estranha posicionou-se ao seu lado.

Ele apenas ignorou a todos na sala sentou-se confortávelmente em uma das poltronas.

-Nikolai, não seja tão indolente. - Ela o repreendeu como uma irmã faria com o irmão menor. Ele bufou e permaneceu sentado, seus olhos fitaram aquele a quem chamara de Pai, durante tanto tempo.

Marcus devolveu o olhar calmamente. Depois falou com serenidade.

-Nikolai, explique-se. - O outro riu alto. Suas mãos firmaram-se sobre os braços da poltrona. Como se ele precisasse conter a sua raiva. Então acrescentou.

-Não devo satisfações a você. As coisas são exatamente do modo como está vendo. - Ele se levantou para encará-lo. Nikolai era maior e fisicamente mais forte. Sua postura era intimidante. - Para um dos primeiros vampiros da terra você é muito ingênuo, Marcus.

Rápido demais um estrondo irrompeu da parede onde estava a tapeçaria, Mycroft virou-se repentinamente, buscando compreender de onde viera o som. Só entendeu o que havia acontecido quando Nikolai se ergueu em meio aos escombros.
A voz fria de Marcus soou fria e cortante, como o gelo mais puro, ele deu dois passos em direção ao outro.

-Não lembro quando dei a você a permissão de me chamar pelo nome. - Ele mirou-o com desprezo. Escondendo perfeitamente a decepção e a mágoa.

-Estupêndo! - A mulher falou eufórica.

Depois voltou-se diretamente para Marcus. -Saudades minhas, Príncipe ? - Seu sorriso se tornou maior. E ela caminhou devagar em direção a ele.

Marcus permaneceu silencioso. Mas sua expressão era de uma fúria contida.

-Quem é ela? - Albert por fim perguntou.

- Ah, que maldade! Nunca falou de mim para os seus "filhos"? - Ela cuspiu a última palavra como se fosse um insulto.

- Há muitos séculos ela era a condessa de Karnstein, Millarca. Ela foi a primeira vampira criada, junto com -

-Eu dispenso as apresentações sobre o meu passado glorioso. - Ela interrompeu Marcus bruscamente. - e me chamem de Carmilla.

-Que tal eu propor um jogo? As minhas filhas contra os seu filhos. - Ela prosseguiu. Nikolai se posicionou ao lado dela, o ego claramente ferido. Seus ferimentos ainda estavam se curando e a doer dilacerava o seu corpo. Há muito tempo não sentia este tipo de dor.

- Não é um jogo Millarca. Sua vida se tornou tão vazia que você precisa brincar com os outros como se eles fossem marionetes? - Ela riu, mas seu sorriso não chegou aos olhos.

-Nós não passamos de monstros, é isso que nós fazemos. Nossa natureza não pode ser mudada. - Ela estalou os dedos.

Naquele momento quatro garotas surgiram, belas e impecáveis, trajavam vestidos escuros e usavam um broche dourado que carregava um brasão antigo. Mycroft demorou um pouco para reconhecer todas elas, eram as garotas que vira nos jornais.

Marcus suspirou. Elas eram vampiras jovens não teriam como sobreviver. Mas aquela era Millarca e ela não se importava com mais nada além dela mesma e seus jogos doentios.

O silêncio engolfou a grande sala, quando a primeira vampira se moveu, Millarca atacou Marcus.

O Desejo dos ImortaisWhere stories live. Discover now