Desabafo

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"Por favor, nunca se esqueça de que o sol se levanta e se põe com seu sorriso. Pelo menos para mim. Você é a única coisa nesse mundo que merece devoção."

-Evelyn Hugo, Os 7 maridos
de Evelyn hugo

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O tempo estava nublado e ventos gelados açoitavam as árvores, soprando uma melodia triste e lúgubre, logo começaria a chover. Mycroft tamborilou os dedos sobre a mesa, estava cansado de esperar pelo retorno do Conde. Quando observou que a carruagem se aproximava da propriedade, dirigiu-se para a porta.

O som dos cascos dos cavalos eram abafados pelo temporal que começara a desabar sobre garden hall. Moriarty agradeceu ao cocheiro e se dirigiu para a entrada. Reconheceu a figura alta que o esperava na entrada. Ele saudou-o com um olhar preocupado e ansioso.

Vladimir está morto. - Albert sussurrou, enquanto retirava o casaco molhado. Sentou-se sobre a poltrona, encarando o horizonte cinzento. A paisagem melancólica não lhe fez sentir nem um pouco melhor.

-Eu sinto muito. - O outro assentiu.

Holmes nunca sabia exatamente o que dizer nestes momentos, era difícil encontrar palavras  que parecessem minimamente certas, ou que pudessem oferecer qualquer tipo de consolo. Ainda mais quando o ser que morrera não era tão diferente daqueles que ele caçava. Sentia-se muito hipócrita, mas parte dele realmente sentia muito, principalmente quando encarou a figura triste de Moriarty.

-Nikolai... Me pergunto, pq ele fez isso... - A mente de Albert martelava, procurando uma razão, buscando algum detalhe que ele deixara escapar.

-Medo, talvez. - Mycroft sugeriu.

-Não, ele não é o tipo de homem que age por medo. Nosso pai deve ter oferecido algo que ele quer muito. - Sim, sempre achara que seu pai fosse um homem ruim. Mas sacrificar os próprios filhos, não ia contra tudo o que ele defendia?

- O que alguém que viveu séculos, poderia querer tanto a ponto de trair o próprio irmão? - Holmes não conseguia explicar por que sentia tanta raiva.

Ele tivera um irmão, mas isso fora há muito tempo, quando ele ainda vivia em um pequeno orfanato no interior, antes de ser adotado pela família Holmes. Nunca soube o que acontecera com ele, torcia para que ele tivesse sobrevivido e encontrado alguém, em quem pudesse confiar seus medos e suas tristezas. Alguém com quem pudesse dividir os momentos de felicidade e júbilo.

-Eu consigo imaginar do que se trata. E se for realmente, ele é um tolo. - Albert parecia alheio a tudo o que se passava na cabeça de Holmes, mas encarou a face do outro e seus olhos repousaram nos dele.

Sentindo-se exposto, Holmes pôs seu casaco sobre os ombros de Albert que mirou-o com confusão.  Em questão de segundos ele compreendeu e sentiu-se meio bobo ao recordar que ele não poderia sentir coisas como frio ou calor.

Então, pela primeira vez desde que chegara Albert sorriu. Mas esse sorriso logo se perdeu.

Ele sabe de você.- acrescentou seriamente, seus olhos pareciam nublados por uma miríade de sentimentos que Holmes não conseguia explicar.

-O que isso significa? - Perguntou diminuindo minimamente a distância entre os dois.

-Para ele? Ou para nós? - Albert perguntou.

- Os dois. - Acrescentou Mycroft.

-Agora ele sabe que eu tenho algo a perder. Vai usar isso contra mim. - Ele suspirou, às vezes esquecia que não podia mais respirar, curiosamente, esses Momentos se tornaram mais frequentes depois que conhecera Holmes. - Mas o que ele não entende é que agora eu também tenho algo o que proteger. É dessa forma que nós vamos vencê-lo.

-Não disse que ele é forte demais? - Mycroft indagou.

-Sim, mas não quer dizer que não possua fraquezas. Ele viveu tempo demais, talvez tenha esquecido do que os sentimentos humanos são capazes. Principalmente aqueles mais fortes... -
como amor, ele pensou.

-E você? Nunca esqueceu? - Holmes perguntou em um impulso, mas logo se arrependeu, ciente de que estava sendo indelicado.

- Sim, mas foi um pouco antes de eu te conhecer. - Albert caminhou pela sala e parou diante da lareira. - Não vou dizer que minha alma está isenta de culpa, ou que eu nunca feri pessoas - Ele virou-se para encará-lo com firmeza. - Mas desde aquele dia no trem, eu senti como se tivesse encontrado algo. Bem aqui. - Ele apontou para o próprio coração. -
Eu nunca acreditei em destino, e nunca fui feliz por ser um vampiro, mas agora eu sei, que se não fosse assim, eu nunca o teria encontrado, e se o preço para estar ao seu lado é a minha alma, que seja, eu estou mais do que disposto a pagar. -  Mycroft engoliu em seco, seu coração esmurrava o peito.

-Não me olhe assim... - Ele evitou o olhar de Albert. - ... Como se eu fosse algo extraordinário... - O conde segurou seu rosto entre as mãos e beijou-o.

-Não posso evitar. Você é absolutamente lindo. - Olhe para você!  Mycroft pensou. Como eu teria chance contra um homem desses?

- Sou irremediavelmente seu. - Acrescentou com um suspiro.  Holmes retomou aquele beijo, deixando de lado todo aquele recato que guardava consigo desde que fora ensinado a se portar como um lorde.

Queria Albert naquele momento, e em todos os outros momentos restantes do dia. Seja lá o que houvesse entre eles, era forte demais para negar ou fugir. Se eles se amavam o que podia haver de tão errado? Por que ele deveria sentir medo?

Albert empurrou tudo o que lhe atormentava para o fundo da mente, naquele momento queria apenas Holmes.

Queria desesperadamente.

- Senhor? - A voz de Griselda soou do lado exterior da sala. - Albert sorriu, mas aquele sorriso não chegou aos olhos.

- Posso ajudá-la, senhora? - Ela parecia desconcertada.

- Bem, o Senhor Holmes, pediu para eu avisar quando o seu banho estivesse preparado. - Ela encarou Mycroft com olhos acusadores.

-Ah, sim. - Holmes passou as mãos entre os cabelos lutando para parecer um pouco mais apresentável. - Eu acabei esquecendo. Estávamos realmente tão ocupados... Conversando.

-É mesmo? - Griselda não pareceu convencida.

-Sim, coisas de homem. A senhora não iria se interessar realmente. - Albert acrescentou.

-Bom, seja como for, o seu banho está preparado, e em breve nos serviremos o jantar. - Griselda disse e retirou- se com aceno de cabeça.

- Mandou preparar um banho para nós, Holmes? Muito atencioso da sua parte.

- O quê?- Perguntou com urgência. Albert deu um sorrisinho sugestivo, que logo se perdeu.

-Às vezes parece que você é a única coisa boa que aconteceu na minha vida. - Mycroft não sabia como responder. -  Venha, não vamos desperdiçar os esforços dos empregados da casa.

Albert estendeu a mão e Mycroft a segurou, ciente de que aquela linha tênue era o que estava mantendo seu mundo nos eixos - ou totalmente fora dele.

O Desejo dos ImortaisTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang