Eu lembro-me de na pré, toda a gente adorar a minha pele, gostarem realmente da cor dela, acharem-na bonita por ser da cor do leite achocolatado que bebíamos ao lanche.

A minha mãe beijou a minha bochecha, e eu logo a seguir entrei dentro da pequena sala onde todos os meus amigos brincavam. Sorri e esfreguei as mãos no meu vestido florido limpando-as por estarem molhadas pelo suor.

Percorri a sala com os meus olhos, e assim que avistei o pequeno loiro de quem gostava, andei em pequenos passos até ele sempre com o olhar fixo nas minhas sandálias brancas.

- Olá. — Cumprimentei-o sorrindo abertamente.

- Olá Elaine. — Sorriu também e logo mexeu num dos caracóis que caiam pelos meus ombros.  

- Vamos brincar! — Saltitei. — Podemos ir para a pista de carros? A Liza e a Betta estão lá! — Apontei e ele logo sorriu assentindo.

Dirigimo-nos até lá e elas vieram ambas abraçar-me.

- Lai! — Elizabeth ou Betta como todos lhe chamavam gritou. — A Dona Anne pôs mais desenhos para nós pintarmos! Queres vir? — Sorriu enquanto brincava com as pontas encaracoladas dos meus cabelos.

- Sim! Vens? — Olhei o rapaz loiro.

Ele assentiu e todos corremos para as mesas pegando cada um num desenho por colorir.

Por vezes, era bom relembrar os momentos de infância onde todos eles me adoravam e tinha um monte de amigos, mas infelizmente, quando saímos da primária a Betta mudou-se para a Alemanha onde o seu pai tinha emigrado, e quanto ao loirinho, do qual já nem o nome me lembro, voltou para a sua terra natal assim que a pré terminou.

Suspirei e tranquei a porta dirigindo-me á minúscula varanda onde me sentei, aninhada num canto. A varanda era vedada por heras que trepavam desde da parede branca até chegarem á varanda e a cobrirem por completo, por ter esta mesma hera é que eu podia fumar ali porque não se via rigorosamente nada.

Peguei no maço de cigarros Marlboro escondido atrás de um dos vasos, e tirei um dos cigarros prendendo-o entre os meus lábios carnudos, de seguida peguei no isqueiro situado dentro do maço e carreguei no pequeno botão vendo de seguida uma chama que logo acendeu o meu cigarro.

Assim que o fumo saiu pelos meus lábios senti-me muito mais aliviada e relaxada, era como se um peso tivesse abandonado as minhas costas.

O tempo ia passando e eu via os cigarros a desaparecer da pequena caixa, assim como sentia os meus olhos a arderem cada vez mais, a minha garganta também ardia pela quantidade de fumo ingerido, eu estava um completo caco.

Lancei a última beata pela varada a baixo e suspirei entrando no quarto, procurei pela pequena lâmina e assim que a encontrei, espetei-a no meu pulso moreno, o sangue foi espalhado por todo o lado: Na minha roupa, no chão, nas minhas mãos.

Eu pouco me importava com isso, eu apenas queria tirar aquela dor de mim, queria esquecer que alguma vez as pessoas me bateram, que alguma vez fui insultada e rebaixada, tratada abaixo de cão.

Eu queria ser alguém corajoso e forte o suficiente para os fazer parar, queria poder destruir cada um deles um a um, fazê-los sofrer como eu sofro, são desejos que eu tenho, que com toda a certeza nunca serão realidade.

A minha visão estava baça devido às lágrimas, mas ainda assim, eu mantinha o meu olhar fixo no sangue vermelho escuro que abandonava o meu corpo. A dor aguda que sentia naquela ferida não era nada comparado aquilo que eu sentia no meu interior, não era nem metade da dor que eu acumulava no peito, as vozes que eu ouvia na minha cabeça, todas elas a repetir cada palavra que eles diziam.

O choro era tão compulsivo que eu chegava a ficar sem ar, eu queria gritar queria expulsar tudo aquilo que sentia, queria arrancar cada pedaço meu, começando pelos sentimentos que me fazem sentir aquela dor psicológica, aquela dor no peito cada vez que era insultada, era pelos sentimentos que as lágrimas rolavam pelo meu rosto cada vez que a dor intensificava, eu realmente tenho pena que isto ainda não seja possível.

A minha visão começava agora a ficar turva, e eu sentia que era agora que eu teria de parar, teria de fazer todo aquele líquido vermelho estancar, mas sempre havia a opção de não o fazer e simplesmente deixar-me levar para onde quer que as pessoas fossem assim que o seu coração deixasse de bater.

Olhei o relógio que se situava em cima da minha mesinha de cabeceira, e embora a minha visão não fosse a melhor eu conseguia ver que faltava pouco tempo para a minha mãe chegar a casa.

Foi com muito custo que me levantei do chão sujo do quarto e me dirigi á pequena casa de banho, coloquei o meu pulso debaixo de água e de seguida cobri-o com uma compressa, de seguida puxei a manga da minha sweater para baixo.

Suspirei e peguei numa toalha limpando o chão e colocando-a no cesto de roupa suja, se a minha mãe perguntasse podia sempre dizer que me tinha aleijada a cortar uma maçã, ou simplesmente que estava com o período.

Despi a minha roupa e vesti o meu pijama ás bolinhas azuis e brancas, destranquei a porta deixando-a fechada e deitei-me logo a seguir na cama, fechando os olhos com força enquanto tentava fazer as lágrimas parar.

Pouco a pouco, senti o meu corpo a ser transportado para um mundo paralelo a este, caindo assim no sono.

——-

Desculpem a demora! Eu estive um pouco atarefada e demorei um pouco a escrever este capitulo, eu tive de o reescrever umas três vezes até ficar minimamente apresentável....xD

Well, Eu espero que vocês estejam a gostar! Deixem comentários é sempre bom saber o que pensam ;)

All the love,

XxBiah.

Racism | njhWhere stories live. Discover now