Em casa

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Entro no quarto do meu pai e a cena que vejo quebrou o meu coração em mil pedaços. Ele está dormindo, está bem mais velho e magro do que me lembrava, em volta de sua cama há alguns aparelhos médicos. Me aproximo e toco em sua mão de leve.

- Pai, o que aconteceu com você? - falo em um sussurro.

Nesse momento uma enfermeira entra, tia Marta me disse que tem uma equipe médica 24h com ele.

- Você deve ser a Emily - ela me diz.

- Sim, sou eu. Como ele está?

- No momento está estável e medicado, não vai acordar tão cedo. Mais tarde o Dr. Rodrigues estará aqui e pode te explicar melhor, porque não aproveita para descansar um pouco?

- Sim, tem razão.

Saio do quarto em direção ao meu, viajei a noite toda sem conseguir dormir, entro no meu quarto e ele está exatamente da forma que deixei quando fui embora a quase 6 anos atrás. Pego um porta retrato com uma foto minha e do meu pai sorrindo, abraço e me deito na cama.

Acordo com leves batidas na porta, levanto para abrir e é a tia Marta avisando que o médico do meu pai chegou. Tomo um banho rápido e desço para encontra-lo na sala de jantar. A mesa de café da manhã está posta, nesse momento meu estômago ronca e nem me lembro quando fiz minha última refeição sem ser sorvete.
Cumprimento o Dr. Rodrigues, um senhor com cerca de 50 anos, e peço que ele se sente a mesa comigo.

- É um prazer te conhecer Srta. Foster - ele diz gentilmente.

- Pode me chamar de Emily, por favor. Então Dr. o que o meu pai tem?

- O Sr. Foster tem apresentado a algum tempo um quadro de insuficiência renal grave, estamos fazendo o tratamento necessário, mas agora o problema também se espalhou para o fígado e coração.

- Entendo, mas o meu pai não deveria estar em um hospital?

- Ele não quis ficar internado e como foi possível montar uma unidade domiciliar é até mais seguro, assim ele não corre o risco de ter contato com alguma bactéria.

- E vocês sabem a causa disso?

- Infelizmente ainda não Emily, temos feitos exames recorrentes mas ainda não conseguimos definir qual é a causa.

- A situação do meu pai é muito grave, não é?

- A situação dele está estável mas se continuar se espalhando para outros órgãos vitais pode ser que ele não resista - diz com pesar.

Nesse momento não consigo conter as lágrimas, tanto tempo longe do meu pai para reencontra-lo nessa situação.

- Obrigada Dr. Sabe quando meu pai vai estar acordado?

- Acredito que logo, aumentamos o sedativo durante a noite para que ele possa descansar melhor mas geralmente ele passa o dia acordado - ele se levanta - inclusive agora preciso ir ver meu paciente.

- Eu vou acompanha-lo.

Voltamos para o quarto do meu pai, enquanto o Dr. Rodrigues verifica os monitores e conversa com a enfermeira eu aproveito para fazer um carinho no cabelo do meu pai, lembro que adorava ficar mexendo neles quando era criança. De repente ele abre os olhos levemente e me olha.

- Emily? - meu pai diz com uma voz fraca.

- Sou eu pai, estou aqui com você.

Percebo que ele se agita e o Dr. Rodrigues pede para aumentar a dose de um remédio. Então meu pai volta a fechar os olhos como se estivesse muito cansado. Nesse momento não aguento, saio do quarto e me entrego as lágrimas.

Um tempo depois a enfermeira me chama, diz que meu pai não para de dizer meu nome. Volto para o quarto e o encontro acordado, seu semblante é sério enquanto me encara.

- Oi pai, como se sente?

- Então você está aqui mesmo, pensei que fosse uma alucinação.

- Sim, quando soube como você estava vim imediatamente. Por que não me avisou antes que não estava bem?

- Eu não sabia se queria me ver - diz de forma triste - Eu me arrependo tanto do que fiz Emily.

- Mas é claro que eu queria te ver pai! - digo segurando a sua mão - mas isso é passado, agora estou aqui e não vou embora enquanto não descobrirmos o que está acontecendo com o senhor!

- E o seu trabalho minha filha? O Jorge me disse que você e o Vicente estão namorando e que você trabalha para ele.

- Não mais pai, as coisas não deram muito certo entre nós na verdade.

- Sinto muito querida!

- Está tudo bem, agora vamos focar em você! - digo e lhe dou um beijo na testa.

Nesse momento uma empregada que não conheço entra com uma bandeja, é o café da manhã dele.

- Bom dia, está na hora de comer - ela diz animada e coloca a bandeja sobre a cama - sabe como funciona né? Só vou sair depois que comer tudo!

Meu pai revira os olhos e começa a tomar um suco.

- Você deve ser a Emily - ela me diz - prazer, me chamo Joana.

- Muito prazer Joana - a cumprimento - você trabalha aqui a muito tempo?

- Tem uns 2 anos que estou trabalhando aqui - ela me diz com um grande sorriso.

- Por isso não tem conheço então - forço um sorriso para ela.

Meu pai sempre teve funcionários fiéis, principalmente os tão próximos, por isso estranhei a presença de uma pessoa tão nova. Joana me parece muito simpática mas tem algo de estranho nela, só não sei o que.

- Eu sou neta da Madalena, acho que nos vimos algumas vezes mas isso já tem muitos anos - ela me diz como se conseguisse ler as minhas dúvidas.

- Ah sim, como ela está?

- Minha avó infelizmente faleceu no ano passado - diz com tristeza.

- Meus pêsames, eu não sabia.

- Não tem problema!

Madalena é a antiga governanta da casa, era uma senhora idosa que se aposentou tem alguns anos. Quando ela saiu foi substituída por Lucia que também trabalhava conosco.

- E a Lucia, ela está? Não a vi ainda.

- A dona Lucia passou a noite em casa mas acabou de chegar!

Nesse momento percebemos que meu pai terminou a sua refeição, Joana retira a bandeja e sai do quarto. Ficamos mais um tempo conversando até que ele se sente sonolento novamente, esse é um dos efeitos do remédio. Resolvo deixar meu pai descansar e desço até a cozinha logo encontrando a Lucia.

- Menina, que saudade estava de você! - ela diz assim que me vê.

- Também estava com saudades Lu - digo a abraçando com força - como você está?

- Estou bem na medida do possível, e você?

- Posso dizer o mesmo!

Nós sentamos em uma pequena mesa na cozinha e ela me serve um café enquanto me conta como foram as coisas em casa nos últimos anos. Então resolvo perguntar sobre Joana.

- O patrão a trouxe para trabalhar aqui quando soube que a velha Mada estava doente, eram só as duas e com a avó no hospital a menina ficou sozinha e sem sustento.

- Entendi e como ela é?

- Ela faz o trabalho direitinho mas é meio deslumbrada sabe, as vezes a pego mexendo onde não deve então tento sempre ficar de olho.

Algo me diz que também preciso ficar de olho nela.

Vocês também acham que a Emily precisa ficar de olho na Joana?

O Irmão da Minha Melhor Amiga Where stories live. Discover now