O Irmão da Minha Melhor Amiga

Decisão

Continuo perdida em meus pensamentos até que escuto batidas na porta. Falo quase num sussurro que a pessoa entre, era Vicente. Chegou a hora de fazer o que precisava ser feito.

- Eu passei para te buscar hoje e o porteiro me disse que você saiu bem mais cedo - ele diz parado em frente a minha mesa.

- Sim, perdi o sono e resolvi chegar mais cedo para adiantar umas coisas.

- E como você está?

- Estou ótima! - levanto e ando até parar de frente para ele - Olha Vicente, depois que nós nos reencontramos eu me esforcei muito para confiar em você e me entregar ao nosso relacionamento, mas o que pensamos que fosse amor era um tesão reprimido da adolescência, sei lá.

- Amor, eu não estou entendendo - ele me olha preocupado.

- Deixa eu continuar, por favor. Eu sei o quanto o trabalho é importante para você e entendo o seu medo de estragar tudo se me falasse a verdade, mas eu sou profissional e sei bem separar as coisas. Eu vou continuar a frente do projetos até vocês acharem uma nova pessoa e nosso contato aqui dentro vai ser mínimo, não vou criar problema para você! E depois podemos fingir que esses últimos meses nunca aconteceram, vai ser melhor assim...

- Emily, você está terminando comigo e se demitindo, é isso? - ele me olha assustado.

- É exatamente isso Vicente, estou tentando facilitar as coisas para nós.

- Não, você não pode estar falando sério. Eu não quero você longe daqui, longe da minha vida - ele fecha os olhos e respira fundo - eu pensei que o nosso amor fosse mais forte que a droga de um mal entendido. Que merda Emily, porque você está fazendo isso com a gente?

- Vicente, eu já disse o que tinha para dizer, vai ser melhor assim. Vamos esquecer tudo o que aconteceu, você não tem nenhuma obrigação comigo.

Ele da uma risada sem humor.

- Não tem como esquecer o que aconteceu Emily, é impossível. Olha, eu não sei porque você tá me dizendo essas coisas mas eu vou respeitar a sua decisão. Desejo que seja feliz Srta. Foster!

Ele me lança um último olhar triste e sai da sala. Nesse momento eu desabo em minha mesa, ele tem razão, é impossível esquecer o que aconteceu entre a gente.

Separo uns documentos para trabalhar de casa, não conseguiria continuar no escritório correndo o risco de esbarrar com ele, não hoje. Passo a tarde trancada no meu quarto até que escuto a porta se abrindo.

Corro para encontrar a Mel ainda na entrada do apartamento, a minha amiga era o meu porto seguro enquanto a minha vida desabava mais uma vez. Ela me abraça perguntando o que houve.

- Acabou Mel, ele nunca me amou de verdade - falo entre um soluço e outro.

- Calma amiga, porque você tá falando isso?

Conto para ela tudo que aconteceu hoje, ela me escuta com atenção e segura minha mão antes de dizer.

- Olha Emy, sei que você está de cabeça quente agora, mas você terminou com o meu irmão com base nas palavras de uma pessoa que não parece muito confiável.

- Mas por que ela mentiria sobre isso?

- Eu não sei, mas não faz sentido isso de querer terminar, eu nunca vi o Vicente tão feliz quanto nos últimos meses e a razão dessa felicidade é você! - ela faz uma pausa - E sobre ele ter mentido e ido jantar com ela, o que ele disse?

- Eu não cheguei a falar sobre isso.

- Amiga, deveria ouvir a versão dele. Isso pode nem ser verdade ou não ter sido bem assim que aconteceu.

- Desculpa Mel, sei que ele é seu irmão, mas eu não vou voltar a trás na minha decisão. Espero que isso não atrapalhe a nossa amizade.

- Claro que não vai sua boba! Fico triste por vocês, não vou negar, mas nunca vou te abandonar - ela me abraça e me dá um beijo na cabeça.

Os dias seguintes foram os mais difíceis da minha vida, comuniquei a Rebeca da minha demissão e todos os assuntos que precisava tratar com Vicente eram feitos via email ou pela minha secretária, em poucos momentos que precisamos estar no mesmo ambiente eu evitava até olhar para ele. Mas quando era impossível percebia que ele aparentava estar abatido, com a barba maior que o normal além das olheiras como se não dormisse a muito tempo.

Chegava em casa e me jogava na cama, a vontade de correr até ele e dizer que o amava e queria queria consertar as coisas era cada vez maior, mas aí lembrava que ele não me queria e eu só tinha adiantado as coisas para ele, o fim  era inevitável.

Já era tarde da noite, eu e Melissa estávamos jogadas no sofá vendo filme e tomando sorte quando o porteiro interfona dizendo que tínhamos visita, era a tia Marta.

- Oi mãe, o que está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa?

- Oi querida, na verdade eu queria conversar com a Emily em particular.

- Claro tia, vamos até o meu quarto.

Chegando no quarto eu indico que ela sentasse em uma cadeira e eu sento na cama de frente para ela.

- O que aconteceu?

- Querida, eu sei que não fala com o seu pai tem muito tempo e ele não quer que você saiba, o Jorge nem sabe que estou aqui também, mas eu acho que você tem o direito de saber antes que seja tarde demais.

- Saber o que tia? - pergunto aflita.

- Seu pai está muito doente Emily, começou a um tempo só que agora piorou, ele mal sai da cama mais.

- O que? - pergunto chocada - o que ele tem?

- Não sabemos, o médico que cuida dele não descobriu ainda.

- Tenho que ir ver ele! - digo já pegando uma mala e enfiando as primeiras roupas que via nela.

- Eu imaginei, por isso vim com o motorista, ele está lá embaixo nos esperando. Vou conversar com a Mel enquanto você se arruma. - ela sai do quarto.

Quando termino minha mala e saio do quarto minha amiga me abraça e diz que irá me encontrar no final de semana, que infelizmente não consegue viajar para o interior comigo agora. Eu me despeço dela e vou para o carro com a tia Marta.

A viagem até a fazenda leva algumas horas então quando chegamos já estava amanhecendo, olho para a casa onde fui criada e não sabia que sentia tanta saudade até pisar aqui novamente.

Corro para o quarto do meu pai, queria abraça-lo e dizer que vai ficar tudo bem.

Quem ai esta triste com essa separação?
E o que será que aconteceu com o pai da Emily?